O Brasil tem mais dois bons motivos para olhar para o céu: duas novas chuvas de meteoros foram descobertas por astrônomos brasileiros, e essas chuvas estão associadas a asteroides também descobertos por brasileiros.

Desde sua fundação em 2014, a BRAMON, Rede Brasileira de Observação de Meteoros, já registrou centenas de milhares de meteoros em todo o Brasil. É uma rede colaborativa formada basicamente por astrônomos amadores trabalhando de forma voluntária para monitorar nossos céus.

Em 2017, a BRAMON anunciou as primeiras chuvas de meteoros descobertas por brasileiros, e desde então, vem conquistando um patamar cada vez mais relevante na ciência de meteoros no mundo. Num artigo publicado na edição de maio da revista MeteorNews, a rede oficializou suas mais recentes descobertas: duas novas chuvas de meteoros que podem estar associadas a dois asteroides próximos à Terra descobertos pelo observatório brasileiro SONEAR.

Capa da revista e página inicial do artigo escrito pela BRAMON. Créditos: Reprodução/MeteorNews
Capa da revista e página inicial do artigo escrito pela BRAMON. Créditos: Reprodução/MeteorNews

A definição técnica de uma chuva de meteoros ainda não é um consenso científico, mas assume-se que ela é formada por meteoroides (pequenos fragmentos de rocha espacial em torno do Sol) que tenham uma origem comum e uma órbita semelhante. Dessa forma, a pesquisa por novas chuvas de meteoros consiste basicamente em buscar por uma certa quantidade de meteoros com órbitas semelhantes. A associação com um corpo parental (cometa ou asteroide de onde se originaram os fragmentos que formam a chuva de meteoros) é desejável, mas raramente é possível num primeiro momento, principalmente porque a maioria das chuvas são formadas por cometas de longo período, que levam muito tempo para visitar o sistema solar interior.

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Entretanto, a pesquisa realizada por Lauriston Trindade, Alfredo Dal’Ava e Cristóvão Jacques, seguiu um caminho diferente. Eles utilizaram ferramentas de software para varrer a base de dados da BRAMON, procurando por meteoros registrados pela rede com órbitas semelhantes aos 32 asteroides próximos à Terra descobertos pelo SONEAR. Dessa forma, se fosse encontrada uma chuva de meteoros, ela já estaria associada a um possível corpo parental.

Como resultado, foram encontrados 20 meteoros com órbitas semelhantes ao asteroide 2017 NT5, e 16 com órbitas semelhantes ao 2019 OK, um asteroide com cerca de 100 metros que gerou grande alvoroço na comunidade científica quando foi descoberto em julho de 2019, passando perigosamente próximo à Terra.

Mesmo meteoro registrado nas estações ADJ1 em Sumaré, SP e SMZ6 em São Paulo, SP. Esse meteoro foi um dos 16 identificados na pesquisa como associado ao asteroide 2019 OK. Créditos: Alfredo Dal’Ava/Sérgio Mazzi/BRAMON
Mesmo meteoro registrado nas estações ADJ1 em Sumaré, SP e SMZ6 em São Paulo, SP. Esse meteoro foi um dos 16 identificados na pesquisa como associado ao asteroide 2019 OK. Créditos: Alfredo Dal’Ava/Sérgio Mazzi/BRAMON

A associação entre chuvas de meteoros e asteroides não é muito comum. A maioria delas são formadas por partículas deixadas por cometas em passagens prévias pelo sistema solar interno. Mas também existem alguns poucos casos de associação com asteroides, como a Quadrântidas, associada ao asteroide 2003 EH1 e a Gemínidas, associada ao asteroide 3200 Faetonte.

Alguns processos conhecidos podem fazer um asteroide liberar partículas, de modo a formar a trilha de poeira que pode gerar uma chuva de meteoros. Um impacto, por exemplo, pode lançar uma imensa quantidade de partículas no espaço, e pode também acelerar a rotação do corpo, fazendo com que a poeira em sua superfície seja ejetada pela força centrífuga.

O estresse térmico gerado por mudanças de temperatura, a sublimação de gelo em seu interior e as perturbações gravitacionais pela aproximação de outros corpos, também podem fragmentar o asteroide. Além disso, ele pode ser, na verdade, um cometa extinto, que já perdeu todo seu material volátil, como parece ser o caso do asteroide 3200 Faetonte, que gera a Gemínidas.

Partículas ejetadas do asteroide Bennu. Créditos: Osiris-Rex/NASA
Partículas ejetadas do asteroide Bennu. Créditos: Osiris-Rex/NASA

Para reforçar a associação entre as novas chuvas e os asteroides, a pesquisa precisou voltar no tempo, estudando a evolução orbital dos asteroides e meteoroides até 5 mil anos atrás, considerando as influências gravitacionais dos grandes corpos do Sistema Solar. A pesquisa concluiu que, mesmo com as alterações orbitais ocorridas no passado, as órbitas permaneceram idênticas entre si, indicando que os meteoros dessas chuvas provavelmente foram gerados por partículas ejetadas dos asteroides descobertos pelo SONEAR.

A órbita (linha verde) e a posição do asteroide 2019 OK na aproximação em 2019 (vista superior) e a órbita média da chuva de meteoros 17 Capricornids na linha azul. Créditos: BRAMON
A órbita (linha verde) e a posição do asteroide 2019 OK na aproximação em 2019 (vista superior) e a órbita média da chuva de meteoros 17 Capricornids na linha azul. Créditos: BRAMON

A chuva associada ao 2017 NT5 foi nomeada como omega Sagittariids e a associada ao 2019 OK é a 17 Capricornids. Ambas têm máxima em julho (23 e 19, respectivamente), mas são chuvas menores, com apenas alguns meteoros por hora. Entretanto, essa associação permite que os asteroides sejam estudados indiretamente através dos seus meteoros. E mostram também a excelência que a Astronomia amadora brasileira alcançou.

Tanto a BRAMON quanto o SONEAR realizam suas atividades de forma voluntária, sem nenhum tipo de remuneração ou investimento externo, movidos apenas pela vontade de contribuir com a ciência. E pelo jeito, vem fazendo isso muito bem!

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