Um novo estudo de cientistas da Scripps Research, juntamente com colaboradores na Alemanha e na Holanda, descobriu detalhes estruturais importantes de como as mutações do SARS-CoV-2 permitem ao vírus escapar de parte da resposta imune criada naturalmente ou por vacinação no corpo.

A pesquisa, publicada na Science, se refere ao fenômeno como “mutações de escape” e usou técnicas de biologia estrutural para mapear em alta resolução como as classes de anticorpos neutralizantes se ligam à cepa original de SARS-CoV-2 e como o processo é interrompido por mutações encontradas em novas variantes.

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Também foi observado que várias dessas mutações estão agrupadas em um só local na proteína spike do vírus, conhecido como “local de ligação ao receptor”. 

“Uma implicação deste estudo é que, ao projetar vacinas de próxima geração e terapias de anticorpos, devemos considerar aumentar o foco em outros locais vulneráveis ​​do vírus que tendem a não ser afetados pelas mutações encontradas em variantes preocupantes”, explicou um dos principais autores do estudo, Meng Yuan, Ph.D.

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“Variantes preocupantes” do SARS-CoV-2 – como identifica o estudo – incluem as variantes B.1.1.7 do Reino Unido, variantes B.1.351 da África do Sul, variantes P.1 do Brasil e variantes B.1.617 da Índia e, algumas delas, são mais infecciosas do que o vírus original de Wuhan.

Estudo diz que variantes do coronavírus podem escapar da resposta imunológica. Imagem: Shutterstock
Estudo diz que variantes do coronavírus podem escapar da resposta imunológica. Imagem: Shutterstock

Diante do potencial de se espalharem e, de acordo com as recentes descobertas, ter uma resposta dos anticorpos menos eficazes na neutralização, o grupo de cientista considerou ser urgente descobrir como elas conseguem escapar de grande parte da resposta imunológica no corpo, incluindo a resposta de anticorpos por vacinação.

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Como as variantes escapam da resposta imunológica?

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Os pesquisadores se concentraram principalmente em três mutações na proteína spike SARS-CoV-2. Essas mutações são encontradas na maioria das variantes principais e todas as mutações estão no sítio de ligação do receptor SARS-CoV-2 – onde o vírus se liga às células hospedeiras.

Os pesquisadores testaram anticorpos das principais classes que têm como alvo a área geral dentro e ao redor do local de ligação ao receptor – para combater o vírus – e assim descobriram que muitos desses anticorpos perdem sua capacidade de se ligar e neutralizar o invasor com eficácia quando as mutações estão presentes.

A equipe usou técnicas de imagem estrutural e mapeou a parte relevante do vírus em escala atômica para examinar como as mutações afetam os locais onde os anticorpos deveriam se ligar para conseguir neutralizar o vírus.

“Este trabalho fornece uma explicação estrutural para o motivo pelo qual os anticorpos produzidos pelas vacinas da Covid-19 ou infecção natural pela cepa pandêmica original são frequentemente ineficazes contra essas variantes preocupantes”, disse um porta-voz do laboratório Wilson, responsável pelo estudo.

As descobertas sugerem que, embora as respostas dos anticorpos à cepa original possam ser muito potentes na neutralização, certas variantes são capazes de escapar eventualmente, necessitando de vacinas atualizadas.

O estudo também identificou que as mutações virais não afetam outros locais além da ligação ao receptor, ou seja, os anticorpos neutralizantes de vírus que agem fora do local de ligação do receptor não são afetados por essas três mutações.

O que significa que futuras vacinas e tratamentos baseados em anticorpos precisam fornecer proteção mais ampla contra o SARS-CoV-2 e suas variantes, induzindo ou utilizando anticorpos contra partes do vírus que se encontram fora do local de ligação ao receptor. De acordo com os pesquisadores, uma ampla proteção contra variantes pode ser necessária se, como parece provável, o vírus se tornar endêmico – restrito a determinada região.

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