Pela primeira vez no Brasil e em toda a América Latina, uma estrutura viral é completamente desvendada. E isso se deu graças a uma tecnologia chamada criomicroscopia eletrônica. Esse método permite observar a estrutura atômica tridimensional de moléculas biológicas. Vale destacar que a técnica vem sendo amplamente utilizada para compreender detalhes do SARS-CoV-2, vírus responsável pela Covid-19.

Pesquisadores do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), elucidaram a estrutura do Mayaro, vírus responsável pela Febre do Mayaro, doença endêmica cujo vetor é um mosquito. Essa patologia tem sintomas muito parecidos com os da Chikungunya, o que acaba prejudicando o planejamento de estratégias de controle.

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Ilustração 3D do vírus Mayaro, que causa a Febre do Mayaro, doença endêmica cujo vetor é um mosquito. Imagem: Kateryna Kon – Shutterstock

Utilizando tecnologia com resolução de 4.4 angstrom (algo em torno de 100 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo), o trabalho, que contou com a participação de 20 cientistas, revelou detalhes inéditos da composição do vírus.

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De acordo com um dos membros da equipe, o cientista Rafael Elias Marques, eles descreveram a partícula infecciosa do vírus Mayaro, incluindo todas as proteínas que o compõem. “Foram usadas técnicas que permitiram observar detalhes da biologia do vírus que não tinham sido descritos em outros trabalhos, e que representam um avanço em nossas capacidades de combate e entendimento da doença”, explicou Marques, em nota para o UOL.

Um aperto de mãos entre as proteínas do vírus

As cadeias de açúcares ligadas à proteína E2 do vírus Mayaro foram apelidadas pelos cientistas de handshake (aperto de mãos, em tradução livre), por se assemelharem a essa saudação.

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Segundo a equipe, esses açúcares, além de serem reconhecidos pelo sistema imunológico, ajudam o vírus a se organizar e se estabilizar mais facilmente. O conhecimento dessa organização é fundamental para entender o ciclo de replicação do vírus e eventuais vulnerabilidades que podem ser alvo de novos tratamentos.

Acelerador de partículas brasileiro ajudará no avanço das pesquisas

Após as descobertas do estudo, o CNPEM contará com o Sirius para progredir ainda mais nas pesquisas. O Sirius, um gigantesco acelerador de partículas construído no campus do CNPEM, localizado na zona rural de Campinas (SP), é uma das mais avançadas fontes de luz síncrotron do mundo, apenas comparado ao MAX-IV, da Suécia.

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Sirius: acelerador de partículas é um dos projetos mais ambiciosos da ciência brasileira (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)/Divulgação)

Por meio do Sirius, serão feitos experimentos sobre o mecanismo de infecção, não apenas em relação à Febre do Mayaro, mas também a outras doenças virais que atingem a população brasileira. Assim, será possível desenvolver novas terapias e estratégias para diagnóstico.

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