Um estudo conduzido pelo Rockefeller University Center for Studies in Physics and Biology, em Nova York, revelou que tardígrados – popularmente conhecidos como “ursos d’água” – conseguem caminhar igual a insetos normais, que são 500 vezes maiores que eles. Em tese, porém, eles não deveriam ser capazes disso.
O estudo analisou a espécie H. exemplaris, cujos tardígrados medem cerca de 0,5 mm. Assim como as outras mais de 1,3 mil espécies, os ursos d’água são extremamente difíceis de matar, resistindo a extremos de temperatura e podendo até mesmo serem lançados ao espaço, onde resistirão ao vácuo, ao frio e à radiação solar. Mas até hoje, ninguém havia pensado em monitorá-los em situações mundanas.
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Tecnicamente, animais de porte microscópico e corpo macio não têm pernas, então sua locomoção é diferenciada. No caso do tardígrado, ele não só tem “pernas”, mas tem oito delas, distribuídas ao longo de seu corpo e com configurações similares. As duas mais próximas da cabeça são as que têm menos mobilidade, mas todas as outras funcionam de forma similar.
Ao caminhar, o tardígrado faz como a maioria dos insetos artrópodes (ou seja, seres não vertebrados, mas dotados de juntas rígidas): em baixa velocidade, uma perna é levantada por vez. Em ritmos intermediários, até duas pernas ficam no ar – normalmente, uma de cada lado. Em aceleração mais avançada, o tardígrado tira até três membros da superfície, um à frente, outro atrás e do outro lado, e um no meio, de qualquer lado, se movendo a uma velocidade de duas vezes o tamanho do seu corpo.
Posicionando os animais primeiramente em um líquido viscoso, os cientistas descobriram que os tardígrados quase não conseguem se projetar para frente, pois são quase que exclusivamente dependentes de “cravar” suas garras na superfície e se empurrar com elas. Então, a solução foi a mais simples possível: deixar os animais em uma superfície rodeada por câmeras e…esperar. Muito.
“Você acaba tendo horas e horas e horas de vídeo”, disse Jasmine Nirody, pesquisadora associada do RUC. “E eu assisti a tudo”. Segundo a especialista, ao contrário de outros insetos, tardígrados não são “estimulados” a caminhar: se você decidir cutucá-lo ou empurrá-lo, ele trava os próprios movimentos, e acaba arrastado. Não é à toa que seu nome deriva da palavra em latim “tardigradus”, que significa “de movimento lento”.
“Esses padrões [de movimento] são fortemente regulados por velocidade: eles fazem uma transição fluida entre cinco pernas no chão, quatro pernas no chão e, mais rápido, três pernas no chão”, disse Nirody. Esse é um formato de caminhada visto em artrópodes, mas que tardígrados reproduzem em igual medida.
A questão é: como eles fazem isso? A hipótese de Nirody é a de que tardígrados e insetos artrópodes compartilham de um ancestral comum – uma suposição bastante similar à evolução de primatas e humanos, por exemplo. Mas a cientista concede que há espaço para uma coincidência científica, onde ambas as espécies desenvolveram o mesmo processo de movimento de forma independente.
“Isso significa que, apesar de terem estruturas, tamanhos de corpo e ambientes de movimentação, há alguma coisa em particular nessa coordenação que é eficiente para ambos os lados”, disse Nirody.
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