Um novo estudo da Universidade de Michigan mostra que minhocas da espécie Caenorhabditis elegans são capazes de “sentir” sons pela própria pele, como compensação por não ter qualquer tipo de órgão dedicado às capacidades auditivas. A pesquisa deve servir como parâmetro para análise das capacidades sensoriais humanas e foi publicada no jornal Neuron.

Esse tipo de minhoca vem sendo usado no laboratório comandado pelo biólogo Shawn Xu há pelo menos 15 anos. Entretanto, os pesquisadores da equipe pensavam que ela era dotada de apenas três sentidos: tato, olfato e paladar.

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Imagem mostra a Caenorhabditis elegans, um tipo de minhoca que "sente" o som, vista em um microscópio
A Caenorhabditis elegans, um tipo de minhoca que chega a milímetros de tamanho, no máximo, é capaz de “sentir” o som por meio de neurônios auditivos ligados à sua pele (Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução)

Entretanto, esse não é o caso.

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Ao longo desta década e meia de estudos, Xu e equipe conseguiram comprovar que as minhocas Caenorhabditis elegans “sentiam” a luz mesmo sem ter olhos, além de perceber a postura do próprio corpo – uma habilidade que os cientistas chamam de “propriocepção”.

Faltava apenas a audição: “ouvir algo não é igual aos outros sentidos, que são facilmente encontrados por diversos tipos de animais”, disse Xu. “Ela só foi mesmo descoberta em vertebrados e alguns artrópodes. E a maior parte dos invertebrados, acredita-se, são insensíveis ao som”.

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Entretanto, testes conduzidos revelaram que as minhocas reagem a estímulos sonoros nas frequências entre 100 Hertz (H) e 5 quilohertz (Kh) – uma amplitude maior do que a de muitos vertebrados. Quando um tom dentro dessa faixa era reproduzido, as minhocas rapidamente fugiam de sua fonte, o que provou que elas não apenas sabem “o que é” o som, mas também entendem de onde ele vem.

A fim de confirmar a habilidade dos animais, Xu e sua equipe trataram de removê-los de chãos e paredes, suspendendo-os no ar (a dúvida era se as minhocas de fato interpretavam o som sozinhas ou estavam apenas percebendo vibrações rebatidas em outras superfícies). A mesma reação foi obtida.

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Isso fez com que os especialistas formulassem uma teoria. Xu acredita que as minhocas sentem os tons como se seus corpos inteiros fossem cócleas – a parte espiralada e cheia de fluidos do ouvido interno dos vertebrados. Essa teoria ganhou reforço após estudos identificarem dois tipos de neurônios auditivos ligados às peles das minhocas – basicamente, o som bate na pele, que reverbera os neurônios, que emitem um sinal que é interpretado pelo animal.

E como esses neurônios estão localizados em partes diferentes do corpo, essa espécie de minhoca “sente” não só o som, mas também a posição generalizada de onde ele veio, provavelmente um trato evolucionário que permite aos animais evitarem predadores, por exemplo.

“Nosso estudo mostra que não podemos presumir que organismos desprovidos de orelhas e ouvidos não possam perceber sons”, disse Xu, em seguida afirmando que, se as minhocas da espécie Caenorhabditis elegans são capazes disso, então o mesmo pode ser verdade para outras espécies, ou mesmo outros reinos, como moluscos.

E agora que todos os sentidos básicos foram observados na Caenorhabditis elegans, Xu e sua equipe pretendem investigar mais a fundo, analisando os gatilhos genéticos e neurobiológicos que causam essas reações. 

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