Engenheiros da Universidade Estadual de Ohio (OSU, Ohio State University), nos EUA, demonstraram que os satélites da constelação Starlink, da SpaceX, podem ser usados como uma alternativa ao sistema GPS para determinar a posição de um objeto no solo. Vale lembrar que um estudo aparentemente independente, feito por pesquisadores da Universidade do Texas, chegou recentemente à mesma conclusão.

O estudo foi apresentado no encontro anual do Instituto para Navegação GNSS em 22 de setembro em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri. O método foi desenvolvido sem participação da SpaceX, e os engenheiros reforçam que ele é totalmente passivo, ou seja, não é necessário estabelecer uma conexão com os satélites.

Além disso, o método protege a privacidade dos assinantes da SpaceX, já que não oferece, nem requer, acesso aos dados que estão sendo transmitidos pelos satélites, usados para fornecer acesso à internet em banda larga a assinantes onde a infraestrutura tradicional, como conexões de fibra ou via cabo, não estão disponíveis.

Tudo o que é necessário é saber a posição dos satélites no céu e a direção de seu movimento. “Nós ‘escutamos’ o sinal, e então projetamos algoritmos sofisticados para determinar nossa localização, e mostramos que eles funcionam com grande precisão”, disse Zak Kassas.

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Kassas é diretor do Centro de Pesquisa de Veículos Automatizados com Navegação Garantida Multimodal (CARMEN, Center for Automated Vehicles Research with Multimodal Assured Navigation), um centro de pesquisas de transporte que engloba múltiplas intituições e é sediado na OSU.

“E mesmo que o Starlink não tenha sido projetado para navegação, mostramos que foi possível aprender partes do sistema bem o bastante para usá-lo para navegação”, disse.

Durante a pesquisa, Kassas e sua equipe construíram uma antena para captar os sinais dos satélites Starlink, e tentaram usar seu algoritmo para calcular sua posição. O resultado teve uma precisão de 8 metros, nada mal para um sistema que, reforçamos, não foi projetado para navegação. O GPS tem uma precisão entre 0,3 e 5 metros.

Segundo Kassas, à medida que a constelação Starlink crescer, a precisão da localização também irá melhorar. Atualmente a Starlink tem cerca de 1.700 satélites em órbita da Terra, mas a SpaceX tem planos (e autorização) para lançar 40 mil satélites. Em comparação, a constelação GPS tem atualmente 30 satélites operacionais, com mais três em reserva e um em testes.

Exemplo de um teste com o sistema desenvolvido por Kassas.

O sistema GPS é de propriedade dos EUA e operado pela Força Espacial Norte-Americana. Mas como está em operação há mais de 30 anos, e seu funcionamento é bem conhecido, pode ser suscetível a “interferência” por adversários dos EUA em um eventual conflito, algo exacerbado pela distância dos satélites em relação à Terra (mais de 20 mil km), que torna os sinais muito mais fracos do que os dos satélites Starlink, que estão a apenas 550 km.

Portanto, o desenvolvimento de alternativas ao GPS é visto como uma questão de segurança nacional, tanto pelos EUA quanto por adversários. Por isso a Europa, Rússia e China tem seus sistemas de navegação próprios, respectivamente o Galileo, Glonass e Beidou.

A pesquisa de Kassas foi patrocinada pelo Escritório de Pesquisa Naval, Departamento de Transporte e Fundação Nacional de Ciências, todos afiliados ao governo dos EUA.

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