Fezes preservadas mostram que humanos já gostavam de queijo e cerveja há 2.700 anos

Por Gabriela Bulhões, editado por Rafael Rigues 25/10/2021 07h45, atualizada em 25/10/2021 11h38
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Crédito: Anwora - NHMW
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Há milhares de anos, um minerador da Idade do Ferro “se aliviou” em um local onde hoje é a área de Hallstatt-Dachstein / Salzkammergut, localizada na Áustria. O que ele nunca poderia imaginar é que o local se tornaria propriedade científica no futuro, permitindo que os pesquisadores descobrissem que os europeus comiam queijo azul e bebiam cerveja há 2.700 anos.

Publicado a revista Current Biology, os autores do estudo revelam que as fezes permaneceram preservadas nas minas de sal pré-históricas da região nos últimos milênios. Através de uma série de técnicas analíticas, eles conseguiram identificar os micróbios, proteínas e DNA presentes nas amostras.

Com isso, a equipe mapeou um quadro da dieta das pessoas que viveram na ‘Idade do Ferro’, bem como a composição de suas bactérias intestinais. A alimentação era rica em carboidratos e em fibras, consistindo em grande parte de farelo não processado que provavelmente eram consumidos “em uma espécie de mingau”. 

“Espécime” deixado por homem pré-histórico há 2.700 anos. Crédito: Anwora – NHMW

Portanto, os autores observaram através das fezes que o microbioma intestinal dos antigos mineiros se assemelhava muito ao dos modernos não ocidentais, em que a dieta geralmente consiste em frutas frescas, vegetais e outros alimentos minimamente processados. 

Ao comparar essas amostras com aquelas produzidas por humanos mais recentes, eles sugerem que “o microbioma intestinal humano industrializado divergiu de um estado ancestral, provavelmente devido ao estilo de vida mais moderno, dieta ou avanços médicos.”

As descobertas mais impressionantes surgiram quando os pesquisadores direcionaram a análise para incluir fungos e detectaram altas concentrações de espécies como Penicillium roqueforti e Saccharomyces cerevisiae, que são usadas na produção de queijo azul e cerveja, respectivamente.

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“A análise de todo o genoma indica que ambos os fungos estavam envolvidos na fermentação de alimentos e fornecem a primeira evidência molecular para o consumo de queijo azul e cerveja durante a Idade do Ferro na Europa”, explicou o autor do estudo, Frank Maixner, através de um comunicado .

De acordo com os pesquisadores, os mineiros do período da ‘Idade do Ferro’ empregaram um método de fermentação da cerveja que teria rendido um produto final semelhante ao que hoje é conhecido como o estilo ‘Pale Ale’. 

Com isso, o uso de fungos para amadurecer o queijo teria permitido aos mineiros prolongar a vida útil do leite e, ao mesmo tempo, remover grande parte da lactose, deixando mais fácil de digerir por uma população com altos índices de intolerância à lactose.

Além disso, por mais que a produção de bebidas alcoólicas fermentadas seja considerada difundida na pré-história, os autores afirmam que as suas descobertas representam “a evidência mais antiga conhecida de amadurecimento dirigido e refinamento de queijo na Europa, acrescentando um aspecto crucial a um quadro emergente de alta sofisticação das tradições culinárias na proto-história europeia”.

Fonte: IFLScience

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Redator(a)

Gabriela Bulhões é redator(a) no Olhar Digital

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Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital