O Departamento de Física da Universidade Municipal de Nova York, no Harlem, quase deixou passar uma doação de aproximadamente US$ 180 mil (pouco mais de R$ 1 milhão), segundo informações do jornal norte-americano The New York Times.

De acordo com o periódico, a doação, que foi feita sob um nome falso, foi endereçada a Vinod Menon, professor da instituição e coordenador do departamento em questão. O problema: em isolamento desde março de 2020 devido à pandemia da Covid-19, Menon não checou sua correspondência por mais de um ano, o que fez com que a doação ficasse parada na área de “recebidos” da faculdade por esse longo período.

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Imagem mostra doação feita por um homem de máscara a uma senhora de idade
Doações anônimas não são tão estranhas em alguns países, mas o contexto do ocorrido em um episódio de uma faculdade em Nova York levantou suspeitas até do FBI (Imagem: Alonafoto/Shutterstock)

Quando ele parou seus afazeres do ensino à distância para verificar se havia recebido algo, ele notou a caixa e, segundo as palavras do próprio, “quase caiu da cadeira” quando viu o conteúdo: cerca de US$ 180 mil, em notas não marcadas e não rastreáveis, de US$ 50 (R$ 281,86) e US$ 100 (R$ 563,72). “O pacote era bem pesado, tão pesado que custou cerca de US$ 90 (R$ 507,41) só para a postagem”, ele comentou.

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No remetente da caixa, apenas o pseudônimo “Kyle Paisley” e a data de postagem marcando o envio como “novembro de 2020” ofereciam alguma pista da origem. Em uma nota, o remetente pede que o dinheiro seja usado na continuidade dos ensinos para alunos menos favorecidos.

Devido à natureza estranha da doação – vide “notas não marcadas, não rastreáveis” acima -, o dinheiro teve que ser inicialmente tratado como evidência criminal – tanto que a reitoria da universidade, localizada no bairro do Harlem, chegou a chamar o FBI para garantir que o dinheiro não viesse da máfia ou de alguma atividade criminosa.

Felizmente, não foi esse o caso: a grana era limpa, e o caminho inverso do pacote levou todo mundo a uma casa localizada em Pensacola, na Flórida. Questionando os moradores da residência, as autoridades concluíram que ninguém ali conhece ou conheceu nenhum “Kyle Paisley” e ninguém ali estudou na universidade bonificada.

Depois de muitas deliberações, o conselho municipal de educação – do qual a universidade é membro fundador – votou por aceitar a doação, ainda que as circunstâncias de sua entrega tenham sido no mínimo esquisitas.

A faculdade é o que o idioma inglês refere-se por “city college”, ou seja, uma instituição de ensino superior que possui taxas de ensino mais acomodáveis ao bolso, se comparadas aos valores grosseiramente altos vistos em nomes como Harvard, Yale ou Stanford, para citar alguns.

Isso, no entanto, não tira em nada a qualidade do que é ensinado ali: essa mesma faculdade formou três premiados do Nobel – incluindo o físico nuclear Robert Hofstadter (1915-1990). Mais além, foi nela que Albert Einstein deu uma de suas primeiras palestras em solo americano.

Em média, um curso de graduação na faculdade do Harlem custa cerca de US$ 7,5 mil (R$ 42,28 mil) por ano. Segundo Menon, os US$ 180 mil doados cobrem duas bolsas completas por mais de 10 anos, além de sobrar uma pequena parte para trabalhos de caridade e voluntariado.

Doações anônimas não são tão incomuns quanto se possa parecer – e isso, não falando apenas de universidades: o cantor britânico George Michael, falecido em dezembro de 2006, adquiriu uma “segunda fama” póstuma quando diversas instituições e ONGs nos EUA e no Reino Unido vieram a público para revelar inúmeras doações feitas pelo artista, que sempre pedia para não ser identificado. Alguns dos beneficiários eram instituições de ensino, além de ONGs apoiadoras da causa LGBTQIA+.

A diferença aqui, no entanto, é o contexto: alguém se deu a um imenso trabalho para esconder a própria identidade até mesmo do FBI, enviando uma grande soma de dinheiro durante um período de pandemia – a Covid-19 bagunçou sistemas de ensino pelo mundo todo.

Nem Menon, nem a universidade suspeitam quem seja o donatário.

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