Usando dados fornecidos pelo já aposentado Telescópio Espacial Spitzer, da Nasa, cientistas descobriram um exoplaneta (também chamado de planeta alienígena – todo aquele que é identificado fora de nosso sistema solar) com variações sazonais tão definidas que resultam em estações do ano bem extremas.

Representação artística do planeta XO-3b em uma órbita excêntrica em torno de sua estrela. Imagem: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (IPAC)

Para fundamentar a pesquisa, eles monitoraram a passagem de um ano em um exoplaneta chamado XO-3b – o que, comparado com o tempo na Terra, corresponde a somente três dias. 

Durante esse tempo, eles notaram que o exoplaneta experimenta um verão de um dia e um inverno de dois – e as estações são tão rápidas quanto absurdamente extremas.

“Vimos variações sazonais de temperatura centenas de vezes mais fortes do que o que experimentamos na Terra”, disse Lisa Dang, doutoranda em astrofísica na Universidade McGill, no Canadá, durante uma coletiva de imprensa realizada pela Sociedade Astronômica Americana dois meses antes da publicação do estudo no The Astronomical Journal.

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Estações de ano são diferentes das nossas

Embora o conceito de estações seja familiar aos terráqueos, a dinâmica acontece de forma diferente em XO-3b. As estações da Terra são causadas pela inclinação do eixo do planeta, mas lá em XO-3b elas são provocadas pela órbita oval do planeta em torno de sua estrela, afetando dramaticamente a quantidade de radiação recebida. “Estas não são as mesmas estações que experimentamos na Terra”, disse Dang.

Encontrar um planeta grande orbitando tão próximo de sua estrela, mas em uma elipse, é incomum. Como a estrela e o planeta são grandes e próximos, suas interações gravitacionais tendem a puxar a parte mais distante da órbita do planeta cada vez mais perto da estrela, resultando em uma órbita circular. Diante disso, os cientistas creem que o XO-3b não está orbitando sua estrela há muito tempo, astronomicamente falando. “A forma oval que vemos aqui neste planeta de período muito curto sugere que estamos pegando no meio da migração”, disse Dang.

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No entanto, essa estranha órbita não é a única característica surpreendente que Dang e sua equipe encontraram. O Telescópio Espacial Spitzer se especializou na detecção de luz infravermelha, que também se manifesta como calor. E quando Spitzer olhou para o XO-3b, viu assinaturas infravermelhas mais fortes — e, portanto, um planeta mais quente — do que os cientistas esperavam.

Ao analisarem melhor, os pesquisadores perceberam que mesmo as estações extremas do planeta não conseguiam explicar o calor inesperado. “Esse aquecimento extra que vimos com Spitzer não é sazonal, é visto ao longo do ano”, disse Dang. “Nossa investigação deste Júpiter quente descobre que ele é aquecido não só pela estrela hospedeira, mas também é aquecido por seu próprio interior”.

Em vez de planeta, ele seria uma estrela?

Observações adicionais coletadas pela missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), sugerem que o planeta é “mais inchado” do que o esperado também, uma característica que pode estar ligada ao calor exorbitante.

Dang e seus colegas têm duas teorias sobre como o planeta pode estar gerando o excesso de calor. Uma possibilidade é o aquecimento das marés: à medida que o planeta orbita, a gravidade da estrela distorce sua superfície de diferentes ângulos, esticando e deformando o planeta.

Outra explicação possível é que o planeta não é realmente um planeta. Em vez disso, Dang e os coautores argumentam que poderia ser uma estrela, com uma pilha de hidrogênio em seu núcleo fundindo-se como ocorre dentro do nosso Sol. 

Se esse for o caso, XO-3b seria uma anã marrom, uma classe de corpos muitas vezes apelidados de “estrelas fracassadas”.

“O XO-3b pode não ser um planeta regular, mas pode não ser necessariamente uma estrela fracassada ainda, e sim estar no auge de sua vida como uma estrela”, disse Dang.

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