Poucos se dão conta, mas as condições que sustentam a vida – em especial a oxigenação da atmosfera da Terra – só vieram há cerca de 2,3 bilhões de anos. Antes disso, nosso planeta (que tem pouco mais de 4,5 bilhões de anos) tinha quantidades bem baixas de oxigênio, insuficientes para sustentar qualquer coisa maior que micróbios ou criar minerais.

Pois um novo estudo sugere que foram justamente eles – micróbios e minerais – que deram início ao processo de saturação de oxigênio na nossa atmosfera, efetivamente atingindo os níveis que estamos habituados a respirar hoje em dia. As informações são do jornal científico Nature Communications, que publicou o paper após revisão dos pares.

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Processo de oxigenação da Terra pode ter começado com micróbios capazes de oxidar matéria orgânica do fundo do oceano, segundo novo estudo
Processo de oxigenação da Terra pode ter começado com micróbios capazes de oxidar matéria orgânica do fundo do oceano, segundo novo estudo (Imagem: K_E_N/Shutterstock)

O evento de oxigenação que nos levou à vida de hoje tem um nome -”GOE”, sigla em inglês para “Evento de Grande Oxigenação”, porque nem sempre cientistas são criativos com nomenclaturas. Até hoje, ninguém sabe exatamente como ele começou, mas a nova hipótese afirma que “interações entre minerais sedimentados e certos tipos de micróbios” foram a faísca necessária para isso. Essencialmente, essas “interações” impediram que parte do oxigênio fosse consumida, iniciando um processo de acúmulo desse gás até que ele se acumulasse por completo lá em cima.

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“Provavelmente, a maior mudança biogeoquímica da história do planeta foi a oxigenação da atmosfera da Terra”, disse Daniel Rothman, professor de Geofísica do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e autor primário do estudo. “Nós mostramos como as interações entre os micróbios, minerais e o ambiente geoquímico agiram em conjunto para aumentar esse oxigênio na atmosfera”.

De uma forma resumida, o oxigênio na Terra sempre apresentou equilíbrio. A questão é “que tipo de equilíbrio?”

Hoje, temos, de forma balanceada, processos que produzem oxigênio e processos que consomem oxigênio. Nisso, a atmosfera está incluída. Antes do GOE, a situação era similar, mas sem a participação da atmosfera.

“Se você olhar para a história da Terra, aparentemente tivemos dois ‘saltos’, de onde você vai de um estado fixo de pouco oxigênio para outro de muito oxigênio – um [salto] no período Paleoproterozoico, e outro no Neoproterozoico”, comentou Gregory Fournier, co-autor e professor no MIT. “Esses saltos não poderiam ser feitos em um aumento gradual de oxigênio. Só pode ter sido algum feedback que causou essa mudança brusca de estabilidade”.

A fim de saber mais, Rothman, Fournier e o ex-estudante do MIT, Haitao Shang, pesquisaram toda a literatura científica e identificaram um grupo de micróbios capaz de oxidar matéria orgânica nas profundezas do oceano. Esses micróbios pertencem ao grupo bacterialSAR202”, e eles conduzem essa oxidação por meio de uma enzima chamada “mono-oxigenase de Baeyer-Villiger”, ou simplesmente “BVMO”.

A partir daí, o trabalho dos especialistas foi o de traçar a linha do tempo desses micróbios, e se essa enzima também era usada antes do GOE, o que acabou se confirmando. E não só isso: lembra-se dos “dois saltos” mencionados por Fournier? O estudo identificou momentos em que os micróbios proliferavam mais e traziam mais variação genética – isso aconteceu duas vezes, uma no período Paleoproterozoico, e outra no Neoproterozoico, o que adicionou solidez à teoria.

A confirmação dela, no entanto, carece de estudos mais aprofundados, tanto em laboratório como em campo. Mas o time parece confiante: “propor um método inovador e mostrar evidências de sua plausibilidade é o primeiro passo – mas é um passo importante”, disse Fournier. “Nós identificados esta como uma teoria pela qual se vale estudar”.

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