Há 3,5 bilhões de anos, apareciam os primeiros sinais de vida no planeta – consistindo de pouco mais do que um “lençol” bacteriano que cobria nossas águas e levaria vários outros bilhões de anos para chegar à terra firme. Cientistas estão, agora, buscando amostras de núcleos rochosos que podem conter o que eles entendem como a primeira forma de vida da Terra.

A região escolhida fica nas montanhas Barberton Makhonjwa, na África do Sul. Aqui, ocorreu a primeira das chamadas “Corridas do Ouro”. Entretanto, a área também abriga o que especialistas chamam de “Grupo Moodies”, uma formação de rochas que – eles suspeitam – tem aproximados 3,2 bilhões de anos e armazenam em seus núcleos amostras da mais antiga vida do planeta.

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Equipes perfuram terreno na região montanhosa de Barberton-Makhonjwa, na África do Sul: cientistas estão recolhendo amostras do local por suspeitarem que está preservada aqui a primeira forma de vida da Terra
Equipes perfuram terreno na região montanhosa de Barberton-Makhonjwa, na África do Sul: cientistas estão recolhendo amostras do local por suspeitarem que está preservada aqui a primeira forma de vida da Terra (Imagem: Christoph Heubeck/Acervo)

“É mesmo muita sorte que ainda tenhamos lugares antigos como esse”, disse Tanja Bosak, especialista em geobiologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), não relacionada ao projeto. Segundo ela, é verdade que sinais mais velhos da primeira forma de vida foram achados em outros locais da Terra – como Austrália, Groenlândia e na própria África do Sul.

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No entanto, todos esses eram resquícios encontrados no fundo do mar, e é a primeira vez que uma possível amostra é identificada em terra firme, o que pode ser um indício de preservação pré-histórica nunca antes obtida. “Isso nos ajudará a compreender um período nada entendido da história da Terra”, ela comentou.

Na época em que o Grupo Moodies se formou, a Terra era algo totalmente diferente do que conhecemos hoje: para começar, nossa atmosfera era densamente carregada de metano e dióxido de carbono – mas quase nada de oxigênio. Massas continentais – “terra firme”, se você preferir – já existiam, mas estar nelas era complicado pois as movimentações tectônicas que deram origem aos nossos continentes ainda estavam acontecendo (“Vaalbara“, o teoricamente primeiro supercontinente, ainda era jovem nesse período).

Nesta mesma época, no entanto, formações como o Moodies atravessavam oceanos, com algumas poucas subindo à superfície – levando consigo tudo o que pudessem arrastar. De acordo com Christoph Heubeck, o geólogo que lidera a expedição na África do Sul, esse processo favoreceu o nascimento da vida. O especialista já penetrou 200 metros (m) de terra, recolhendo sete amostras que são, de forma resumida, uma versão fóssil do lodo primordial da Terra – pense nos “slimes” que eram moda entre crianças e adolescentes há alguns anos, só que incrivelmente duros por serem 3,2 bilhões de anos mais velhos. A oitava perfuração deve ocorrer mês que vem.

Heubeck acredita que esses “seres” sejam uma forma de vida anterior às chamadas “cianobactérias”, os micróbios que fizeram da nossa atmosfera o objeto rico em oxigênio que conhecemos hoje (na história, isso ficou conhecido como “Grande Oxidação”). O especialista imagina que eles viviam de algum tipo específico de metabolização de ferro, embora essa afirmação tenha controvérsias na comunidade científica: seres desse tipo não sobreviveriam muito bem ao ambiente iluminado da luz do Sol.

Ainda assim, evidências de formações que necessitam de oxigênio para existir já foram encontradas e datadas de antes da Grande Oxidação. Ou seja, há razão para suspeitarmos que ou esses seres surgiram de forma gradual, evoluindo e morrendo até a Terra encontrar o equilíbrio onde está hoje, ou o evento que oxigenou a atmosfera pode ter começado bem antes do que imaginávamos.

Essa dúvida pode ser respondida com esse estudo: se a equipe de Heubeck encontrar sinais de capacidade de produção de oxigênio dentro de alguma das amostras que ele retirou da África do Sul, então ele poderá ter encontrado o “elo perdido” que faltava em outras amostras da primeira forma de vida da Terra.

Heubeck e equipe devem começar os estudos ainda em 2022.

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