Geleiras no Tibet escondem mil bactérias desconhecidas pela ciência

Pesquisadores avaliaram a possibilidade dessas espécies espalharem doenças que ainda não curamos conforme o aquecimento global avança
Por Rafael Arbulu, editado por Flavia Correia 04/07/2022 13h36, atualizada em 05/07/2022 09h14
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Imagem: Lao Ma/Shutterstock
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Um estudo publicado no jornal Nature Biotechnology identificou cerca de mil espécies de bactérias ainda desconhecidas pela ciência. A pesquisa levantou preocupações sobre tais espécies espalharem doenças há muito erradicadas ou, pior ainda, novas para nós.

As mil novas espécies de bactérias desconhecidas foram identificadas em estado de preservação nas diversas geleiras da Ásia – especificamente, no Tibet. Daí vem a preocupação dos cientistas: por estarem em um estado de animação suspensa, existe a possibilidade de que o derretimento do gelo – em muito alavancado pelo aquecimento global – as faça “acordarem”.

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O platô tibetano tem várias geleiras que levam a regiões bastante densas na China e Índia: as mil bactérias desconhecidas podem acabar levando doenças a áreas imensamente populosas
O platô tibetano tem várias geleiras que levam a regiões bastante densas na China e Índia: as mil bactérias desconhecidas podem acabar levando doenças a áreas imensamente populosas (Imagem: sanyanwuji/Shutterstock)

Amostras de neve e gelo de 21 geleiras foram coletadas entre 2010 e 2016 por vários estudiosos – incluindo cientistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS), que assina o novo paper. Em ambiente controlado, eles derreteram essas amostras e identificaram 968 espécies de micróbios. Destas, 98% eram completamente inéditas ao conhecimento humano.

A suspeita de que bactérias congeladas tragam doenças inéditas não é exatamente nova: há cerca de um ano, também no Tibet, amostras de vírus de até 15 mil anos foram encontradas, levantando o temor de que, caso “liberados” de suas prisões de gelo, poderiam migrar para outros países e causar problemas a certos vegetais e, consequentemente, animais e humanos que os comem e não têm defesas específicas aos possíveis problemas.

“Esses microorganismos podem carregar consigo fatores virulentos que podem deixar plantas, animais e humanos vulneráveis”, diz trecho do estudo. “Nós encorajamos a cautela pois esses patógenos antigos e inéditos presos em geleiras podem causar epidemias localizadas ou até mesmo novas pandemias”.

A localização geográfica da descoberta também traz implicações preocupantes: a cadeia montanhosa do Tibet tem córregos que percorrem essas geleiras, desembocando em rios e lagos que levam a áreas extremamente populosas na Índia e na China.

“O platô tibetano, que é também conhecido como ‘a caixa d’água da Ásia’, é a fonte de vários dos maiores rios do mundo, incluindo o Yangtze, o Rio Amarelo, o Ganges e o Brahmaputra”, diz outro trecho do estudo.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.