Apesar do seu amigo “crossfiteiro” de praia jurar o contrário, não há nenhuma evidência científica de que a água de coco seja melhor ou pior que a água normal para a hidratação humana. Mas sabe onde a água de coco é bem útil? Armazenamento de sêmen de porcos.

É o que afirma um estudo financiado pelo Fórum Regional das Universidades de Uganda para Aprimoramento e Capacitação (RUFORUM), que descobriu que a água de coco pode ser usada como método de conservação de sêmen de porcos usado na inseminação artificial desses animais.

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A criação de porcos é essencial para a indústria de alimentos de Uganda, mas vila remotas enfrentam dificuldades para criar e reproduzir os animais
A criação de porcos é essencial para a indústria de alimentos de Uganda, mas vila remotas enfrentam dificuldades para criar e reproduzir os animais (Imagem: CHIRATH PHOTO/Shutterstock)

Um pouco de contexto se faz necessário aqui: a Uganda é um dos países que mais consomem carne de porco no leste da África, com uma média de 3,5 quilogramas (kg) por pessoa a cada ano, em uma população média de 45 milhões de cidadãos, segundo censo público de 2020.

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Entretanto, a maior parte do país – sobretudo, as vilas mais remotas – não têm condições favoráveis para começar uma criação de porcos. Entra a inseminação artificial: especialistas em biologia animal sugeriram usar o sêmen de javalis selvagens para inseminar artificialmente porcas e, assim, permitir que áreas mais isoladas tenham um mínimo de produção de alimento próprio.

O problema: sêmen – de porco ou não – é algo bem sensível, difícil de se armazenar. No caso do ser humano, o esperma, quando exposto à temperatura ambiente, imediatamente após ejaculação, não sobrevive mais do que alguns minutos (15 no máximo, dependendo da temperatura local). Para porcos, esse volume varia para mais, mas ainda assim não é suficiente.

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E como Uganda não dispõe das estruturas de custo milionário de, digamos, clínicas de fertilização (armazenamento criogênico, ou seja, congelar o esperma, prolonga a sua vida indefinidamente, mas custa bem caro para quem oferece esse serviço), outras soluções se fazem necessárias.

Nisso, entra a água de coco que, segundo o estudo, dá uma sobrevida de pelo menos 24 horas ao esperma dos porcos, permitindo que seu transporte possa chegar a áreas mais isoladas e com menos possibilidade de criar os animais por conta própria.

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É importante ressaltar aqui que, ao contrário da maioria dos estudos científicos, essa pesquisa ainda não foi revisada e reproduzida em método e resultado por cientistas independentes, então não há como afirmar esses resultados de forma definitiva – pelo menos, não ainda:

“Fora do corpo de um javali, os espermatozóides vão viver em média por quatro horas, quando passarão a morrer por fome e mudança de temperatura, mas quando adicionamos a água de coco, o material viverá por 96 horas, permitindo que a inseminação ocorre em períodos apropriados”, disse Joab Malanda, expert em reprodução e criação de porcos da Universidade Egerton, em Njoro, no Quênia.

A diferença da água de coco para a água comum é a quantidade de eletrólitos como potássio, sódio e magnésio – o que levou a uma percepção errônea de que ela seria “melhor” para a hidratação de atletas. Entretanto, embora ela não traga diferença alguma para a saúde de esportistas, esses componentes da água de coco se mostraram bem úteis no armazenamento de sêmem de porcos – daí a avaliação do seu uso em técnicas de fertilização por inseminação artificial, nome dado ao processo de fecundação do óvulo por fora do corpo da fêmea do animal, e o embrião resultante devolvido à paciente para gestação.

Entretanto, a novidade ainda não está em aplicação – não por questões científicas, mas sim porque fazendeiros devem ser devidamente treinados em técnicas de extração de sêmen e inserção de material nas porquinhas. Para isso, o RUFORUM criou a primeira associação para criação de porcos, que ficará responsável por essa capacitação.

“A inseminação artificial pode ser adotada de forma sustentável e escalada em qualquer lugar, especialmente entre fazendeiros de pequeno porte”, disse o chefe de pesquisa Elly Ndyomugyenyi, expert em gestão de criação de gado de corte na Universidade Gulu de Uganda. “Isso porque o coco pode ser encontrado em quase todas as partes do continente africano”.

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