Por algumas poucas vezes, nós já falamos aqui sobre sistemas estelares terciários, ou seja, um sistema de três estrelas organizadas dentro de uma órbita hierárquica. Eles não são tão raros, mas de acordo com astrônomos da Dinamarca, o sistema conhecido como “TIC 470710327” é único entre seus congêneres porque…bem, porque ele costumava ter quatro estrelas, até que uma acabou engolida pelas outras.

A descoberta veio por meio de observação e hipótese, o que rendeu alguns detalhes estranhos: ao contrário de outros sistemas de três estrelas, o TIC 470710327 tem astros muito mais massivos que o normal para algo deste tipo – consequentemente, a força gravitacional compartilhada por eles faz com que eles estejam bem mais próximos, o que…não faz muito sentido do ponto de vista astronômico.

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Ilustração de como um dia pode ter sido o "TIC 470710327", com seus quatro astros originais: hoje, no entanto, o sistema é de três estrelas, com uma delas tendo engolido a irmã
Ilustração de como um dia pode ter sido o “TIC 470710327”, com seus quatro astros originais: hoje, no entanto, o sistema é de três estrelas, com uma delas tendo engolido a irmã (Imagem: NASA/JPL-Caltech/UCLA)

À primeira vista, o TIC 470710327 se apresenta como qualquer outro sistema terciário: duas estrelas compartilham um centro de massa que as faz girar uma ao redor da outra, e uma terceira estrela tem a órbita mais aberta, “cercando” as duas anteriores. Isso tem nome, aliás: “projeção de órbita hierárquica”.

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O par binário principal, ao centro, tem uma massa combinada 12 vezes maior que a do Sol, e precisa de pouco mais de um dia para completar uma órbita completa. A estrela “de fora”, é ainda mais massiva – cerca de 16 vezes o nosso astro – e tem velocidade de órbita de mais ou menos 52 dias ou, como alguns astrônomos preferem se referir, “rápido pacas”.

“Até onde sabemos, é o primeiro de seu tipo a ser detectado”, disse o autor primário de um estudo do sistema e astrofísico do Instituto Niels Bohr na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, Alejandro Vigna-Gomez.

Originalmente, o sistema de três estrelas foi descoberto por um astrônomo amador, que estava analisando diversos dados do Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS), da NASA. Somente quando ele entregou os dados aos cientistas é que foi percebida a natureza terciária, com uma luminosidade intensa que o fez se destacar entre outros objetos. Ao mesmo tempo, foi notada a imensa massa dos sistema, o que intrigou o time dinamarquês a se perguntar como ele se formou.

E disso, eles tiraram três possibilidades:

  • A estrela externa veio antes, e as duas internas, depois: o cenário mais improvável, considerando que a estrela maior provavelmente expulsaria ou absorveria o material de formação das outras duas
  • As três estrelas se formaram separadamente e foram orbitando em proximidade até se unirem: isso também seria difícil pois, na prática, colocaria a estrela de mais massa no centro do sistema, o que não é o caso
  • O sistema terciário era, na verdade, dois sistemas binários: essa interessante hipótese traz maior confiabilidade, afirmando que a estrela externa também tinha uma “irmã”, a qual acabou absorvida, formando a estrela mais massiva que identificamos atualmente

Projetando simulações que consideravam os três cenários, os cientistas dinamarqueses concluíram que a terceira opção é a que melhor explica a massa acrescida e a órbita compacta do sistema de três estrelas.

Agora, o time pretende continuar a pesquisa a fim de identificar ocorrências similares em outros pontos do espaço: “o que realmente queremos saber é se esse tipo de sistema é muito ou pouco comum em nosso universo”, disse Bin Liu, que assina a co-autoria do estudo. “Talvez existam outros sistemas compactos enterrados nesses dados”.

Um paper com a descoberta foi publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

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