Primeiro radiotelescópio brasileiro ficará pronto em 2023, afirmam cientistas

Por Isabela Valukas Gusmão, editado por Lucas Soares 04/08/2022 09h59, atualizada em 08/08/2022 09h27
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Os pesquisadores envolvidos no projeto de construção do primeiro radiotelescópio do Brasil, no sertão da Paraíba, lançaram os sete primeiros artigos fundamentais que determinam todas as questões científicas envolvidas na confecção do Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations (BINGO, em uma simpática sigla).

Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (3), um dos principais autores do projeto, o doutor em Física e professor do Instituto de Física da USP, Élcio Abdalla, destacou que um dos objetivos do BINGO será observar “partes do Universo que nós não vemos”.

Leia mais:

De acordo com o comunicado publicado na Astronomy & Astrophysics, o telescópio, resultado de uma colaboração entre cientistas da Universidade de São Paulo (USP), instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Europa, China e da Universidade Federal Campina Grande (UFCG), será o primeiro a captar as oscilações acústicas bariônicas e as rajadas rápidas de rádio (FRB).

Os artigos publicados representam uma parte robusta e importante do projeto, são neles que estão descritos os métodos, a tecnologia empregada, como serão feitas as análises e todas as questões científicas envolvidas em uma empreitada dessa magnitude.

Projeto do radiotelescópio brasileiro que será instalado no sertão da Paraíba. Créditos: Projeto BINGO Radio Telescope

Dessa forma, será possível estudar e testar o modelo ΛCDM (Lambda CDM), que está relacionado com a matéria escura fria e tem a teoria do Big Bang como pano de fundo. De acordo com o professor Abdalla há dois tipos de objetos escuros conhecidos no Universo: matéria escura e energia escura.

Enquanto o conceito de matéria escura foi definido, pelo próprio pesquisador, como um “líquido” que une tudo aquilo que está no cosmos; a energia escura é um conceito ainda abstrato, sobre o qual não se tem muito conhecimento. Essa é a parte cosmológica na qual o radiotelescópio brasileiro irá atuar.

Mais de uma função para o BINGO

Dada a versatilidade do BINGO, um objetivo secundário é a astrofísica, onde ele poderá ajudar nas observações das rajadas rápidas de rádio (FRB) e outros fenômenos transitórios, bem como estudar ciência galáctica e extragaláctica.

As obras ainda estão no início, mas a expectativa é de que todo o aparato esteja pronto até o fim do primeiro semestre de 2023. Todo o projeto foi desenhado no Brasil, com investimentos que somam cerca de R$ 30 milhões até agora, sendo R$15 milhões do Governo de São Paulo, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Paulo (Fapesp); outros 13 milhões do Governo da Paraíba por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq); mais 5 mlhões da Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); além de contribuições de outros países que completaram a equação.

“A ciência nos dá respostas. Às vezes hoje, às vezes em dias, às vezes em anos, mas sempre nos dá resposta e ela muda a sociedade”, enfatizou o doutor em física.

Desenvolvimento regional e tecnológico

A cidade de Aguiar, na Paraíba, foi escolhida para abrigar o radiotelescópio, pois está em uma localização favorável para a observação do céu, além de ser um ponto estratégico, ao considerar questões que envolvem interferências eletromagnéticas da Terra.

Durante a coletiva, o professor Abdalla destacou que o projeto promoverá desenvolvimento regional através da construção de estradas e geração de emprego, e contribuirá com o turismo na cidade.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Isabela Gusmão é estagiária e escreve para a editoria de Ciência e Espaço. Além disso, ela é nutricionista e cursa Jornalismo, desde 2020, na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.