Ah, os anéis de Saturno… quantos de nós já não se renderam aos encantos destas belas jóias do Sistema Solar? Quantos não foram fisgados para a Astronomia depois de observar, pelo telescópio, os anéis de Saturno? Pois é! Mas toda essa beleza e toda essa exuberância ficou escondida da humanidade por muito tempo. Há pouco mais de 400 anos, Saturno era apenas um pontinho de luz errante no céu.
A Astronomia guia a humanidade desde que os primeiros hominídeos desceram das árvores e precisaram migrar pelo planeta. Só que em grande parte da nossa existência, praticamos a Astronomia sem o auxílio de telescópios.
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Foi assim que Eratóstenes mediu a circunferência da Terra, que Aristarco calculou a distância até a Lua, e que Kepler postulou as leis do movimento planetário. Mas quando Galileu Galilei apontou sua luneta pro céu, ocorreu uma verdadeira revolução na Astronomia.
Em poucos anos de observação, Galileu descobriu as crateras da Lua, as manchas solares, as fases de Vênus, descobriu que aquela mancha leitosa da Via Láctea não era uma nebulosa, e sim uma nuvem formada por incontáveis estrelas distantes. Também descobriu as Luas de Júpiter, o que provava que a Terra não era o centro do Universo. Mas quando voltou seu telescópio para Saturno, se deparou com algo diferente de tudo, que nunca havia sido visto antes por nenhum ser humano.
Hoje, com nossos poderosos telescópios e sondas espaciais, já descobrimos anéis em todos os planetas gigantes do sistema Solar e até mesmo em asteroides. Mas no início do Século XVII, aquilo era surpreendente e inexplicável. Devido à baixa qualidade ótica dos seus primeiros telescópios, Galileu nem mesmo conseguiu compreender o que estava observando.
Em suas primeiras observações, em 1610, ele acreditava que Saturno era um sistema triplo, composto de um corpo maior ao centro e dois menores, muito próximos aos lados. Ele também descreveu aquilo como as “orelhas de Saturno”, e de fato parecem…
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Em 1612, ele percebeu que as “orelhas” ou os “satélites” de Saturno haviam sumido, simplesmente desaparecido à visão de Galileu. Aquilo era algo muito confuso. Ele se perguntava se Saturno teria devorado seus filhos. E ficou ainda mais confuso quando a estrutura apareceu novamente no ano seguinte.
Hoje sabemos que aquilo ocorreu porque em 1612 o plano dos anéis de Saturno estava alinhado com a Terra, e como eles são muito finos, não poderiam ser vistos por Galileu. Galileu viu em Saturno algo que ninguém tinha visto antes e acompanhou o planeta por vários anos na tentativa de entender o que observava. Mas infelizmente ele morreu sem compreender o que era, de fato, aquela estrutura ao redor do planeta. Foi preciso quase meio século para começarmos a entender que em torno de Saturno, haviam anéis.
O inglês Christopher Wren chegou perto de sugerir que o planeta tinha um anel, embora não estivesse certo se o anel era independente do planeta ou fisicamente ligado a ele. Mas em 1656, antes que sua teoria fosse publicada, o holandês Christiaan Huygens apresentou sua hipótese do anel de Saturno. Huygens foi o primeiro a compreender a natureza dos anéis. Ele propôs que o planeta seria circundado por um anel fino e plano e que não tocava Saturno em nenhum lugar.
Wren imediatamente reconheceu que a hipótese de Huygens era melhor que a sua, e acabou nem publicando sua teoria. Mas os estudos sobre os anéis de Saturno, assim como os telescópios, ainda estavam em franca evolução.
Em 1675, o italiano Giovanni Domenico Cassini percebeu que o anel de Saturno na verdade era composto de múltiplos anéis menores, com lacunas entre eles. Mais tarde, a maior dessas lacunas passou a ser chamada de Divisão Cassini em sua homenagem. A Divisão de Cassini, é uma lacuna com 4.800 km que separa os Anéis A e B.
Cassini também foi homenageado no nome da Sonda que explorou Saturno entre 2004 e 2017. Assim com Huygens, que nomeou a sonda que pousou em Titã, a maior lua de Saturno, e nos mostrou detalhes surpreendentes da sua atmosfera e da sua superfície.
Em 1787, o francês Pierre-Simon Laplace sugeriu que os anéis deveriam ser compostos de vários pequenos anéis sólidos. Mas o escocês James Clerk Maxwell mostrou em 1859 que anéis contínuos, sólidos ou líquidos, não seriam estáveis. Provavelmente, os anéis de Saturno deveriam ser compostos de inúmeros pequenos fragmentos, todos orbitando Saturno de forma independente.
Hoje, graças ao trabalho desses grandes astrônomos e às impressionantes conquistas das nossas sondas espaciais, sabemos que os anéis de Saturno são compostos de uma infinidade de pequenos flocos de gelo.
Esse gelo provavelmente se originou de uma lua extinta que se aproximou demais do gigante gasoso. Devido às intensas forças de maré, as camadas superficiais dessa lua foram completamente destroçadas formando os anéis, enquanto o núcleo acabou colidindo com o planeta.
Uma história trágica, ao menos para aquela lua, mas que mostra que, de certa forma, Galileu Galilei estava certo quando pensou que Saturno, assim como seu personagem na mitologia romana, poderia ter devorando seus filhos. As provas desse crime planetário são os belíssimos e magníficos Anéis de Saturno.
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