Neste dia 6 de setembro, completam-se 500 anos desde que o capitão Sebastian Elcano ancorou a Nau Vitória no Porto de Sanlúcar, na Espanha. Era o fim de uma épica e trágica viagem de três anos, iniciada por Fernão de Magalhães e que ficou conhecida como a primeira volta ao mundo da história.

A primeira circunavegação do globo não foi assim o que podemos chamar de um completo sucesso. Mas além de confirmar que a Terra é esférica e abrir uma nova rota para as Índias, nos trouxe importantes contribuições para várias áreas da Ciência, inclusive a Astronomia. 

Quando o português Fernão de Magalhães deixou a Espanha em 1519 tinha a missão de encontrar um caminho alternativo para as Ilhas Molucas, onde hoje é a Indonésia. Para isso ele levava uma esquadra de 5 naus, 234 homens e um mapa errado do globo, que mostrava a passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico que não existia. 

[ O mapa do hemisfério ocidental de Johannes Schöner, criado em 1520, mostrando uma passagem ao sul do Brasil que não existia – Fonte: wikimedia.org ]

Além do mapa errado, Magalhães enfrentou o frio do inverno na Patagônia, motins, deserções e uma travessia interminável do Pacífico. Quando a viagem foi concluída em 1522, a fome, a sede e as doenças, já haviam vitimado grande parte da tripulação. Além disso, eles se envolveram em uma briga que não era deles e acabaram perdendo, de uma só vez, quase 50 homens numa batalha na Ilha de Mactan. Entre os mortos em Mactan, estava o capitão e idealizador da missão, Fernão de Magalhães.

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Com a morte de Magalhães, Sebastian Elcano assumiu a liderança da esquadra. Mas quando ele aportou de volta na Espanha em 1522, trazia apenas um navio, a Nau Vitória, somente 18 dos 234 homens da tripulação inicial e os preciosos escritos de Antonio Pigafetta, relatando todas as desventuras e conquistas da épica viagem. 

[ Trajetória da primeira circunavegação do globo realizado por Magalhães e Elcano – Fonte: wikimedia.org ]

Algo curioso havia sido notado. Enquanto na Espanha haviam se passado 1080 dias desde sua partida, os registros dos navegantes contavam com um dia a mais. Ocorre que, como eles navegaram no sentido contrário ao da rotação da Terra, acabaram somando a sua volta no globo às 1080 voltas que a Terra deu neste período. 

A viagem também foi responsável por inúmeras descobertas na Terra e algumas no céu. Enquanto atravessavam o Oceano Pacífico, Fernão de Magalhães percebeu duas nuvens que pareciam não se mover em frente ao fundo de estrelas. Elas estavam lá todas as noites na mesma posição. Magalhães tinha um bom conhecimento da Astronomia e logo percebeu que aquelas nuvens não poderiam estar em nossa atmosfera, e sim, no espaço.

Ele fez importantes registros daquelas nebulosas, que ficaram conhecidas no ocidente como Pequena e Grande Nuvem de Magalhães. Hoje sabemos que as nuvens de Magalhães não são nebulosas e sim duas galáxias irregulares satélites da Via Láctea visíveis apenas do Hemisfério Sul do planeta. 

[ Grande e Pequena Nuvem de Magalhães registradas a partir da Indonésia – Créditos: Gilbert Vancell ]

A Grande Nuvem de Magalhães é cerca de 20 vezes menor que a Via Láctea e está localizada a aproximadamente 160 mil anos-luz de distância. Já a Pequena Nuvem está localizada aproximadamente 200 mil anos-luz e tem apenas algumas centenas de milhões de estrelas. 

Ambas provavelmente já foram galáxias espirais e foram distorcidas pela gravidade da Via Láctea. Da mesma forma, a nossa Galáxia também foi distorcida com a interação gravitacional com as Nuvens de Magalhães. 

Certamente as Nuvens de Magalhães já haviam sido observadas anteriormente por outros povos do Hemisfério Sul. Mas Fernão de Magalhães foi o primeiro europeu a registrar esses objetos durante uma das maiores aventuras da humanidade.

Além de confirmar a esfericidade da Terra, a volta ao mundo de Fernão de Magalhães foi um marco para a civilização humana. Ela pode ser considerada a primeira missão planetária da história. Os feitos daquela expedição, concluída 500 anos atrás, orientaram nossas navegações, inspiraram e ainda inspiram nosso espírito desbravador dentro e fora do nosso planeta, buscando terras cada vez mais distantes e nunca temendo o desconhecido. 

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