* Paulo Silveira, CEO do Alura

O termo VUCA nasceu para explicar melhor o ambiente em que vivemos: Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo. Esse ambiente também é espalhado no mercado de trabalho, que tem exigido profissionais com habilidades socioemocionais desenvolvidas (se você preferir, soft skills), além de um perfil cada vez mais multidisciplinar e adaptável. Para se tornar competitivo, apenas se ater a um escopo de trabalho engessado não é mais suficiente. Para além de uma área de domínio e expertise, também é necessário adquirir conhecimentos generalistas em áreas correlacionadas, o que chamamos de “profissional em T”.

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O conceito se aprofundou nos últimos anos por conta do surgimento de novas ferramentas tecnológicas e mudanças institucionais decorrentes de muitos fatores, sendo um deles a própria pandemia de covid-19. Em meio a um cenário corporativo volátil e não-linear, a lógica do “profissional em T” passou a ganhar mais importância por trazer uma maior autonomia ao colaborador em tirar ideias do papel, além de um processo criativo mais afiado e a adaptabilidade a possíveis alterações em sua rotina.

Outra mudança bastante óbvia é a necessidade de times multidisciplinares, da adoção de métodos ágeis que aproximam profissões diferentes dentro de uma mesma sala. Se você precisa trabalhar tão perto de profissionais diferentes, é necessário conhecer melhor o que essas pessoas fazem e para isso você desenvolve as arestas do seu T.

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Peguemos um exemplo prático. Pessoas que trabalham com HTML ou Front-End, podem acabar precisando discutir banco de dados e SQL com o time de back-end. O que podemos observar nesse caso é que ter expertise em uma única especialização, muitas das vezes, ainda requer o entendimento de áreas correlacionadas, ou seja, tema de domínio de seus colegas de profissão, com quem você troca informações diariamente. Além disso, não estou pregando que devemos ser apenas generalistas. É possível continuar precisando dominar uma área e se aprofundar nela, no entanto, adicionar conhecimentos correlacionados aos times ao lado vai ajudar bastante.

Estamos falando de um contexto ligado à compreensão de tópicos diversos, que tem o intuito de ajudar o time, e não sobre uma produtividade desenfreada que não valoriza o trabalhador. O “T” diz respeito ao aperfeiçoamento de colaboração mútua por meio de um conhecimento técnico mais abrangente, que integra um grupo como um todo. Em um ambiente que respira tecnologia, com departamentos, equipes e squads diferentes, o resultado final da formação dessa comunidade é imprescindível, pois desenvolve e coloca em prática ideias inovadoras, ao passo que apoia estrategicamente os negócios de diversas companhias.

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Ainda devemos nos atentar ao outro lado dessa moeda, que não diz respeito apenas às hard skills do “profissional em T”. Esse indivíduo também traz uma bagagem aprimorada das chamadas soft skills, que são as habilidades comportamentais; afinal, trata-se de um colaborador que consegue transitar entre diversos setores, compostos de uma grande variedade de pessoas. E se o dia a dia envolve o contato com muitas áreas, o exercício da comunicação ocorre naturalmente e cria uma interação fluida e saudável com os outros membros do time.

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Inclusive, essa é uma dinâmica que tem se demonstrado primordial para líderes e gestores. Não à toa, um estudo do LinkedIn realizado entre 2021 e 2022, o número de profissionais de Liderança & Desenvolvimento que expressam preocupação quanto aos seus colaboradores não terem as habilidades necessárias para a estratégia de negócio cresceu 9 pontos percentuais, passando de 40% para 49%. Parte dessa apreensão está relacionada ao próprio fato de que a empresa sempre precisará preparar profissionais para cargos de gestão e liderança, de forma que cheguem a essas posições com uma visão mais holística das atividades da companhia.

Muitas pessoas podem ficar assustadas ao olharem esses dados e o contexto como um todo, mas o caminho para se tornar um “profissional em T” não é nada complicado. Pelo contrário, é um modelo que prega a abertura, incentivando pessoas de projetos diversos a trocarem experiências em suas comunidades. A partir dessa troca, outros profissionais podem escolher os conteúdos que mais se identificam e que querem se aprofundar. É um processo orgânico e que definitivamente tem se tornado uma tendência no mercado de trabalho – tech e não-tech.

Apesar disso, obviamente, trabalhadores extremamente especializados não vão deixar de ser necessários. Porém, a realidade atual traz uma diversidade de vagas mais elevada, em que funções que requerem conhecimentos específicos também abarcam outras frentes de estudo e prática. A formação de “profissionais em T” garante o funcionamento das engrenagens dessas oportunidades por completo, de modo que as pessoas não fiquem mais autônomas, individualistas e com menos conexões no ambiente corporativo. Pelo contrário, é uma lógica que preza pelo crescimento de carreiras por meio de times..

* Há 18 anos à frente da Alura, Paulo Silveira é uma das principais referências na inovação do setor de educação no Brasil. Bacharel e Mestre em Ciência da Computação pela USP, é um grande influenciador de mercado e grande entusiasta da tecnologia no país, criando e participando diretamente de eventos e podcasts. Como CEO, capacita tecnicamente pessoas para programar, desenhar e criar softwares e produtos digitais, formando um vínculo com a comunidade. Além disso, Silveira é investidor anjo em quase 40 startups.

Imagem: Redpixel.PL (Shutterstock)

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