Na última quinta-feira (8), subiu pela quinta vez ao palco do Rock in Rio uma das bandas de hard rock mais esperadas e aclamadas pelo público: Guns N’ Roses. Entretanto, nem tudo parece ter saído como o esperado e, apesar do carinho dos fãs pelos artistas que compõem o grupo, uma enxurrada de críticas e questionamentos surgiram na internet sobre a voz do Axl Rose, cantor principal da banda. 

Diversas pessoas publicaram nas redes sociais que a voz do artista não é mais a mesma, já que ele não alcança mais os agudos que levaram o mundo do rock à loucura nos anos 1990. Essa não é, no entanto, a primeira vez que a mudança no tom do cantor é apontada com dureza. 

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Axl Rose durante apresentação do Guns N’ Roses no Rock in Rio 2017. Imagem: A.PAES/Shutterstock

Desde 2001, segundo reportagem do O Globo, Axl Rose está sofrendo mudanças na voz. Contudo, no atual cenário o ídolo vem precisando até cancelar shows e compromissos devido sua saúde vocal – o Guns N’ Roses cancelou uma apresentação em Glasgow, na Escócia, que aconteceria no dia 5 de julho. Em comunicado, Rose disse estar seguindo recomendações médicas e revelou estar realizando adaptações para conseguir alcançar as notas de forma confortável para suas cordas vocais. 

O cancelamento veio após receber outras duras críticas em um show na Inglaterra. “Como vocês podem ver, estou tendo alguns problemas, mas esses shows são realmente importantes para nós. Então, vou precisar mudar as músicas um pouco vocalmente, espero que vocês não se importem. Gostaríamos de continuar”, informou o cantor durante a apresentação, que durou menos tempo que o normal. 

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“Axl estava realmente lutando. Ele danificou suas cordas vocais. Lamento saber que você ficou desapontado. Ele realmente não queria cancelar”, respondeu Richard Fortus, guitarrista do Guns N’ Roses, a um fã na internet que reclamou da qualidade do som no show inglês. 

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Mas, afinal, o que pode ter acontecido? De acordo com o otorrinolaringologista Dr. Rodrigo Pêgo, em entrevista ao Olhar Digital, há duas possíveis causas para a perda de potência da voz: o uso inadequado dela ou mudanças no organismo, como inflamações nas cordas vocais e garganta, além de quadros alérgicos.

“No entanto, além das causas orgânicas, podemos pensar também em quadros emocionais, como o estresse, que também pode alterar o padrão vocal. Já o mau uso da voz, ou impostação de voz de forma errada, também leva a falhas. O uso contínuo ou permanente da voz errada pode levar a perda da potência de voz, tanto no padrão agudo quanto no crônico”, explicou o médico. 

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Muitos fãs chegaram a questionar se no caso do Axl a idade seria um agravante, afinal, o ídolo está no auge dos seus 60 anos, embora tenha demonstrado disposição e compromisso, a maioria dos shows da banda já não duram tanto como antigamente (motivo de debate no Twitter, pois no recente show no Brasil a banda segurou por três horas, mesmo com a voz de Axl não sendo a mesma).  

https://twitter.com/arsiefox/status/1568087359958171648

Vale lembrar que nem precisamos ir tão longe para ver cantores que, no auge do sucesso, alcançavam um agudo excepcional, mas que hoje já não entregam o mesmo tom ou até aposentaram de vez a voz. Exemplo disso é o Zezé Di Camargo, que faz dupla com seu irmão Luciano – mas também estão atuando em projetos solos. O artista brasileiro sofreu, em 2008, um rompimento de um cisto em suas cordas vocais. Na época, uma cirurgia foi realizada na área, mas sua voz nunca mais foi a mesma. 

“A idade interfere, sim! O envelhecimento, principalmente da voz, é provocado pela ação natural do nosso organismo, onde há o espessamento ou engrossamento das cordas vocais e, com isso, a redução dos movimentos das articulações, alterações hormonais e emocionais, maus hábitos, calcificação das cartilagens, diminuição da musculatura da laringe e perda da capacidade pulmonar. Tudo isso interfere no padrão vocal”, disse o especialista, ressaltando que o sexo, nesses casos, também interfere. 

“Pessoas do sexo masculino tendem a iniciar o processo de alteração vocal por volta dos 30 ou 35 anos de idade. Já as mulheres só a partir dos 50 anos, que é quando ocorrem alterações decorrentes do início da menopausa”. 

A voz e outras doenças 

Eis aqui um ponto interessante. Para quem não sabe, outras doenças também podem interferir no padrão vocal. Embora exista diversas condições, como casos de câncer de laringe, que afeta diretamente a região, o médico destacou duas doenças consideradas comuns e predominantemente presente no mundo: a diabetes e a hipertensão (pressão alta). 

“Em ambos os casos os pacientes têm sintomas como boca seca, tosse, sensação de corpo estranho na laringe, apresentam uma qualidade de voz mais rugosa e áspera, e isso altera negativamente a parte vocal e qualidade de vida. Mas, especialmente no caso do diabético, ele tem uma dificuldade de realizar a extensão de vogais; eles não conseguem prolongar a vogal de forma natural porque há uma redução da capacidade respiratória, quando comparados com pessoas sem a doença”. 

É importante salientar que isso não significa que a pessoas que possuem diabetes ou pressão alta não possam cantar, mas uma atenção especial do seu profissional especialista é necessária.

Por que alguns cantores perdem a voz e outros não? 

Diversos artistas que trabalham com a voz já passaram por contratempos relacionados ao desempenho vocal, independentemente do início da fase do envelhecimento, já que muitos, que ainda são jovens, às vezes também fazem uma pausa nos palcos para se recuperar. Além dos que já citamos, temos também Adelle, Anitta, Steve Tyler (do Aerosmith), Justin Timberlake, entre outros. Todos em algum momento da carreira precisaram descansar a voz, se afastando temporariamente dos shows.

Imagem: Brian A Jackson/shutterstock

Contudo, a dúvida que fica é: por que alguns perdem a voz e outros não? São cuidados ou genética? Aqui no Brasil, por exemplo, o cantor Xororó, da dupla com seu irmão Chitãozinho, é conhecido por uma afinadíssima extensão vocal – um dos famosos intérpretes da canção Galopeira, considerada uma das mais difíceis de cantar no mundo sertanejo. Com 50 anos de carreira, o artista segue invicto (até onde sabemos, embora tenha, sim, algumas mínimas mudanças) quando o assunto é potência vocal. 

“Alguns cantores conseguem atingir ou manter os agudos e outros não por vários fatores, inclusive medicamentos que estejam tomando. O mau uso também o difere de colegas; os cuidados de pré e pós canto são fundamentais, como repouso vocal, não beber coisas geladas, mas tomar muita água, falar pausadamente, cuidar da respiração, tudo isso envolve o padrão que vai mexer na parte vocal desse cantor”, minuciou o Dr. Pêgo, destacando que, um cenário de falta de cuidados somado ao envelhecimento pode justificar por que alguns, mesmo após anos de carreira, ainda conseguem os agudos ou graves e outros não. 

Vale mencionar que, tanto um cantor que tenha um tom mais agudo quanto o mais grave precisam manter todos os cuidados com a voz, já que em ambos os casos a perda de potência e falhas podem ocorrer. Entretanto, pessoas que trabalham com agudos são mais propensas à desgastes e lesões. “Quanto mais aguda for a voz, melhor ele tem que fazer o aquecimento da voz e, posteriormente, também o resfriamento”. 

Imagem: Lapina/shutterstock

Cantores que perdem a voz podem recuperá-la? 

Depende, no geral, sim. Mas no caso de lesões tumorais na região vocal, problemas do tipo irreversíveis e que às vezes exigem um tratamento cirúrgico, a estrutura é alterada, modificando também o padrão vocal da pessoa.  

“Quando é um caso apenas de má impostação de voz é realizado o tratamento indicado e a forma correta de cantar volta à normalidade, assim como a potência. Repouso vocal é necessário, bem como medicamentos, terapias e exercícios regulares intensos. Já sendo uma questão orgânica, como câncer de laringe ou lesões que exijam cirurgias, o paciente provavelmente não vai conseguir retornar ao seu padrão vocal normal”, afirmou o otorrino, pontuando que, mesmo nesses casos, também há terapias. 

Em resumo, para uma voz durável, potente e saudável, principalmente para profissionais que trabalham com a voz, como cantores, o acompanhamento com otorrinos e fonoaudiólogos é essencial. Os cuidados com a voz ao decorrer da carreira, como as orientações médicas e os exercícios vocais, também vão determinar a saúde da voz no futuro, principalmente com a chegada do envelhecimento, que pode trazer alterações comuns da fase. Importante enfatizar que o consumo excessivo de álcool e tabaco também colaboram para a perda de voz, entre outros problemas de saúde.

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