Um artigo publicado nesta segunda-feira (19) na revista Nature Geoscience descreve um estudo conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores que revela uma nova habilidade da sonda InSight, módulo de pouso da NASA que examina a atividade sísmica de Marte.
De acordo com o estudo, o equipamento também é capaz de detectar tremores fracos resultantes do choque de meteoritos.
Combinando dados coletados da sonda com informações dos cientistas da missão Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), os pesquisadores associaram com sucesso esses estrondos de agitação do solo com crateras recém-formadas.
Isso é importante não só por ajudar a entender os processos de impacto que continuam a moldar a geologia marciana, mas também por demonstrar como a coleta de dados sísmicos pode revelar informações além dos parâmetros esperados da missão.
Conforme destaca o site Science Alert, a sonda InSight tem sido um divisor de águas para o estudo de Marte. Desde que pousou no planeta, em novembro de 2018, ela vem mostrando que ele é muito mais geologicamente ativo do que se pensava.
Módulo InSight pode diferenciar origens de vibrações em Marte
Graças ao sismômetro embutido no módulo de pouso robótico, os cientistas usaram as ondas desses terremotos para produzir o primeiro mapa detalhado do interior marciano. O dispositivo sensível foi usado até mesmo para conhecermos os sons de outro mundo, ao detectar vibrações acústicas na fina atmosfera marciana.
Essas capacidades mostram que o módulo de pouso está em uma posição privilegiada para detectar vibrações de outra origem: meteoros explodindo ruidosamente na atmosfera do planeta momentos antes de seus destroços impactarem a superfície como meteoritos.
“Uma clara ligação entre ondas sísmicas e acústicas gravadas e uma determinada cratera de impacto nunca foi realizada em outro planeta”, diz o artigo liderado pelo astrofísico Raphael Garcia, do Instituto Nacional Superior Francês de Aeronáutica e Espaço da Universidade de Toulouse, na França.
“O Experimento Sísmico para Estrutura Interna (SEIS) e sensores de pressão no módulo de pouso InSight oferecem uma oportunidade única para relacionar a entrada de meteoros na atmosfera marciana e os processos de impacto do solo às ondas mecânicas que geram. Usamos dados sísmicos do InSight para estimar locais de novas crateras de impacto em Marte”, diz Garcia.
A passagem de uma rocha espacial grande o suficiente por uma atmosfera planetária é um evento perturbador. Primeiro, pelas ondas de choque causadas pela entrada. À medida que os gases atmosféricos se infiltram em rachaduras na rocha, vão pressurizando-a por dentro, o que provoca uma explosão. O resultado? Mais ondas de choque.
Ao atingirem o chão, os pedaços de meteoritos causam ainda mais agitação. Teoricamente, espera-se que todo esse tremor se converta em ondas acústicas e sísmicas detectáveis por instrumentação sensível.
Antes mesmo de a missão InSight ser lançada, Garcia e seus colegas suspeitavam que a sonda seria capaz de detectar uma explosão de meteoros, mas o que a equipe foi capaz de realizar excedeu as expectativas.
Usando dados acústicos e sísmicos do InSight, eles identificaram quatro eventos de impacto distintos em Marte, todos dentro de 300 quilômetros do módulo de pouso. Esses eventos ocorreram em 27 de maio de 2020, 18 de fevereiro de 2021, 31 de agosto de 2021 e 5 de setembro de 2021.
Os tempos de chegada das ondas acústicas e sísmicas no módulo de pouso permitiram então que a equipe descobrisse onde os impactos atingiram: respectivamente, 286,5, 84, 267 e 86 quilômetros de InSight. Imagens dessas regiões captadas pelo MRO revelaram então novas cicatrizes de impacto na superfície marciana, atestando os cálculos da equipe.
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Impactos de meteoritos (e explosões de meteoros) podem ter alguns efeitos interessantes em um planeta. Os cientistas acham que os meteoros foram responsáveis por fornecer ingredientes-chave que levaram ao surgimento da vida aqui na Terra, por exemplo. E os impactos dos meteoritos também podem ter desempenhado um papel importante na evolução dessa vida através de eventos de extinção.
Embora Marte pareça estéril, mesmo assim, os impactos dos meteoritos podem afetar sua geologia e atmosfera. Por isso, caracterizar a atividade atual de meteoros e meteoritos por lá pode nos ajudar a entender melhor como e por que o planeta é do jeito que é.
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