Na última segunda-feira (3), o paleogeneticista sueco Svante Pääbo, de 67 anos, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina após conseguir sequenciar o genoma neandertal e descobrir o hominídeo de Denisova, espécie que habitou a Terra por volta de 200 mil anos atrás. 

Considerado uma espécie de arqueólogo do DNA, e filho de Sune Bergström, ganhador do Nobel de Medicina de 1982, Pääbo praticamente recriou um DNA extinto, conforme reportagem da BBC News, para a partir disso desvendar os mistérios dos denisovanos. A espécie foi a primeira do grupo de humanos a ser descoberta com base apenas em DNA

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“Por meio de sua pesquisa pioneira, Svante Pääbo alcançou o impossível: sequenciar o genoma neandertal, um parente extinto dos humanos modernos”, declarou o comitê do Nobel ao anunciar a decisão. 

Imagem: shutterstock/Jeppe Gustafsson

Como nasceu o Prêmio Nobel? 

O Prêmio Nobel homenageia vários segmentos, além da Medicina, também existe o Nobel de Física, Química, Literatura, Econômicas e, um dos mais conhecidos, o da Paz. Segundo informações divulgadas pelo UOL, o reconhecimento, e inclusive o nome do prêmio, nasceu do químico e filantropo sueco Alfred Nobel (1833-1896), que decidiu doar grande parte de sua fortuna para os que estavam trabalhando em prol de um mundo melhor. 

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O cientista foi responsável pela invenção da dinamite, da borracha sintética, do couro sintético e de mais de 350 outros produtos ao longo de sua vida. Em seu testamento, assinado em Paris em 1895, ele determinou que sua fortuna – avaliada em mais de 31 milhões de coroas suecas, moeda da Suécia – fosse direcionada a um fundo que concedesse “prêmios para quem, durante o ano anterior, tiver conferido à humanidade os maiores benefícios”. 

A entrega do Prêmio Nobel (cerimônia oficial) sempre ocorre no dia 10 de dezembro, aniversário de morte do pesquisador, que também era engenheiro e empresário. 

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Quais benefícios e avanços as descobertas trouxeram? 

É claro que, a partir do princípio estabelecido por Alfred Nobel para ganhar o Prêmio Nobel, todos os vencedores contribuíram de alguma forma para o avanço da humanidade, seja em medicina, que traz aspectos da área da saúde, ou no da Paz, que usa como critério a realização de trabalhos em prol da “fraternidade entre as nações” e outros aspectos sociais. 

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Contudo, pensando em apontar de que forma algumas descobertas na área da medicina ajudaram efetivamente a população, separamos três principais prêmios nos quais as pesquisas e descobertas trouxeram benefícios, sendo eles os recebidos em 2015, 2018 e 2020. 

Imagem: shutterstock/greenbutterfly
  • Prêmio Nobel de Medicina 2015: 

Ganhadores: William Campbell (Irlanda/EUA), Satoshi Omura (Japão) e Tu Youyou (China). Os cientistas tiveram reconhecimento a partir do Nobel de Medicina por terem desenvolvido tratamentos contra infecções parasitárias e da malária. 

O grupo foi o responsável pela descoberta do medicamento avermectina, usado no tratamento de vermes parasitas em animais ou como base de inseticidas. A chegada do fármaco ajudou a reduzir a incidência de várias doenças parasitárias, entre elas a cegueira do rio e a filariose linfática. 

Seu desenvolvimento também originou a ivermectina, uma versão mais potente usada em humanos e eficaz no tratamento de verminoses. A droga ficou conhecida durante a pandemia da Covid-19 por ser o pivô de discussões científicas sobre funcionar ou não contra o coronavírus. Sem comprovação científica e, sendo indicada contra vermes e parasitas, ela foi desconsiderada para o tratamento da doença.

  • Prêmio Nobel de Medicina 2018: 

Ganhadores: James P. Allison (Estados Unidos) e Tasuku Honju (Japão). A dupla foi vencedora por suas pesquisas sobre imunoterapia no tratamento de casos de câncer agressivos. De acordo com o A. C. Camargo Center, os cientistas foram a fonte para a criação de medicamentos que estimulam a função do sistema imunológico a identificar as células cancerosas e atacá-las. É a imunoterapia o maior avanço em tratamento oncológico dos últimos anos, e o quarto pilar no tratamento contra o câncer, junto com quimioterapia, cirurgia e radioterapia. 

De forma simplificada, Allison, que é imunologista, teve a ideia de soltar o “freio” do sistema imunológico conhecido como CTLA-4, um receptor presente na célula T (ou linfócito T), responsável por reconhecer as células que não são normais no organismo, como as células cancerosas, e regular a reação do sistema imunológico. A estratégia envolveu a criação de um anticorpo que se liga no “freio molecular”, impedindo que ele seja ativado – camundongos que tinham melanoma usados em testes foram curados a partir do método. Hoje, medicamentos utilizados em humanos agem da mesma forma. 

Um ponto interessante para destacar aqui é que esse tratamento é o que foi realizado pela Ana Maria Braga. A comunicadora já teve três tipos de câncer: de pele, reto e pulmão, sendo este último recorrente – ela teve três tumores apenas no pulmão. Devido a agressividade do último adenocarcinoma, a apresentadora do “Mais Você”, da Rede Globo, precisou passar por uma quimioterapia com sessões também de imunoterapia. 

Imagem: shutterstock/Gorodenkoff
  • Prêmio Nobel de Medicina 2020: 

Ganhadores: Harvey Alter, Charles Rice (Estados Unidos) e Michael Houghton (Reino Unido) ganharam pela descoberta do vírus da hepatite C, em 1988. Os médicos virologistas contribuíram não apenas para a identificação do agente causador, mas para o desenvolvimento de exames de sangue e tratamentos eficazes contra a doença. Paralelo a essa descoberta (na mesma época), Houghton também identificou a hepatite D – doença parecida, mas que ocorre a partir de outro vírus. 

A hepatite C é causada pelo vírus Hepatitis C vírus, da família dos flavivírus. A doença causa inflamação no fígado e pode ser transmitida, principalmente, por via sanguínea, bastando uma pequena quantidade de sangue contaminado para transmiti-lo. O compartilhamento de agulhas, equipamentos de tatuagens ou alicates de unha, por exemplo, não são recomendados – no caso de alicates a ferramenta precisa ser esterilizada para maior segurança. Segundo informações do site do Dr. Drauzio Varella, a hepatite C também pode ser passada por contato sexual. 

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), compartilhados pelo Médicos Sem Fronteiras, estima-se que 290 mil pessoas morreram por hepatite C em 2019. Embora haja tratamento para a doença e ela seja uma das poucas enfermidades que pode ser curada – 90% dos casos tem cura -, a hepatite pode ser silenciosa, se tornando crônica e ganhando potencial para se tornar uma cirrose ou até um câncer de fígado. 

Ainda não existe uma vacina para hepatite C, mas para A e B, sim, e estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). 

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