Nesta quarta-feira (12) é comemorado o Dia das Crianças e com a data vem a grande questão: o que dar de presente? Dispositivos tecnológicos são os preferidos, principalmente os que envolvem jogos, mas o quanto isso acrescenta e prejudica no desenvolvimento dos pequeninos?  

Crianças estão mais distraídas e desinteressadas? O que está por trás da mudança de comportamento de crianças e adolescentes? Essas também são perguntas que os pais e pessoas que viveram em outras épocas, de outras formas, se fazem constantemente. Mas, afinal, o cérebro infantil mudou a partir do uso da tecnologia? 

Imagem: shutterstock/metamorworks

A infância é o período em que formamos uma espécie de “pacote de referências” que usaremos por toda vida, dentre eles, muitos aspectos de regulação do comportamento ao contexto ambiental. Hoje em dia, você certamente já percebeu que as crianças não são mais como eram antes. Se por um lado muitas vezes são ultra estimuladas, em outros momentos se mostram desinteressadas por tarefas simples do dia a dia, sobretudo as que não envolvem tecnologia ou algum tipo de recompensa.  

Segundo a neurocientista do SUPERA, Livia Ciacci, as habilidades comportamentais dependem das diversas situações de interação. “Quando o contexto ambiental varia entre relações presenciais e virtuais, precisamos incluir isso nos aprendizados de competências e atitudes da criança. Ela precisa começar a entender como regular seu comportamento em uma conversa pessoal ‘olho no olho’ e em um meio digital”, detalhou. 

publicidade

É bastante comum percebemos educadores desatualizados, sem tempo dedicado para estudar as vantagens de cada tecnologia e com receio de incluí-las nas suas práticas, além de pais que usam e disponibilizam o acesso às essas tecnologias em casa, mas eles mesmos têm dificuldades em autorregular o tempo que gastam ou como fazem uso. 

Leia mais!  

Imagine agora: qual é a experiência da criança que alterna entre um ambiente onde acessa vários dispositivos com vídeos, cores, sons e interações instantâneas e outro ambiente onde tem que lidar pacientemente com papel, lápis e outras crianças? 

“É muitíssimo provável que ela se interesse bem mais pelo universo digital. A escola não pode ficar à margem do avanço tecnológico, o uso crítico e construtivo das Tecnologias de Informação e Comunicação deve ocorrer a partir da Educação Infantil. E as famílias devem dedicar um tempo para refletirem sobre como lidam com mídias e tecnologias digitais e se tornarem exemplos de um uso responsável e controlado, auxiliando a criança a entender como adequar seu comportamento também”, apontou a especialista. 

Embora haja a necessidade de adequação dos pais e das escolas à tecnologia, visto que é um avanço que pode colaborar muito com a educação, Ciacci acrescentou que mídias passivas são, sim, ruins para as habilidades interpessoais, criatividade, resolução de problemas, imaginação e desenvolvimento da empatia, porque a criança não precisa “fazer algo”, está tudo pronto ali na tela. Com o uso excessivo, ela ficará ansiosa sempre que estiver longe dessas mídias e terá muito menos tolerância e paciência cognitiva para lidar com situações novas e “mais lentas”. 

Imagem: shutterstock/Ground Picture

O uso constante de tecnologia está mudando o cérebro das crianças? 

Outro ponto é que a exposição exagerada a esses meios também traz riscos à saúde das crianças, como por exemplo: problemas de visão (exposição próxima à luz das telas); distração das tarefas cotidianas, como ir tomar banho, dormir e se alimentar na hora certa, o que afeta a rotina e diminui o aprendizado do autocuidado.  

No entanto, a maior mudança percebida e discutida até o momento por especialistas está no circuito de leitura no cérebro. Como os seres humanos não nascem leitores, mas capazes de identificar formatos e atribuir significados, esta habilidade precisa ser construída. Não temos um programa de base genética para reorganizar os circuitos neurais em prol da leitura. 

Assim como não temos um padrão prévio de leitura no cérebro, também não temos um circuito de leitura ideal ou estático com o passar das gerações. Os neurônios são originalmente dedicados à atividade de responder a estímulos visuais, na alfabetização e no hábito de leitura esses neurônios se engajam na nova tarefa de reconhecer letras e palavras. 

Estamos falando aqui da fase de alfabetização e, se existe um uso aumentado de telas neste período, esse circuito terá uma configuração diferente. “Quando lemos nas telas digitais fazemos movimentos em zigue-zague com os olhos, como em um caça-palavras. Captamos o contexto, pulamos para as conclusões, e isso atrapalha a compreensão em profundidade e a noção de continuidade do texto”, alertou a neurocientista. 

Mão de adulto tirando o tablet das crianças
Imagem: aleks333/Shutterstock

Quando devo me preocupar? 

Para a neurocientista Maryanne Wolf, a chave é o equilíbrio, que deve estar em total controle dos pais ou responsáveis. Não é preciso privar, mas é essencial que algumas atividades permaneçam no mundo real, para que a criança desenvolva outras habilidades fora do digital. 

“Como os avanços tecnológicos são um caminho sem volta e isso pode afetar diretamente a capacidade do ser humano de receber informações, é importante que os pais busquem um equilíbrio entre o mundo virtual e físico como um caminho mais seguro. Neste contexto, a ginástica para o cérebro oferece grande suporte para trabalhar a concentração, memória e raciocínio da criança, colaborando para o seu desenvolvimento integral e para além das telas”, disse Wolf. 

Vale destacar que “ginástica para o cérebro” são aquelas atividades que estimulam a mente, como jogar xadrez, dama ou tudo que force o seu raciocínio lógico. Ler, escrever e participar de atividades ou brincadeiras interativas também estimulam a cognição, percepção e inclui a criança em um campo de sociabilidade. 

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!