Nos últimos anos estamos vivendo uma explosão de casos de supostos ovnis registrados em diversas partes do mundo. Somam-se a isso os desenhos geométricos que ainda aparecem em plantações ao redor do globo. Muita gente atribui esses fenômenos a seres extraterrestres visitando o nosso planeta. E o número crescente de casos alimenta uma expectativa da confirmação de que eles existem e nos visitam. Então, por que até hoje, a Ciência não reconhece a visita de alienígenas à Terra?

Antes que alguém atire uma pedra e danifique para sempre o seu monitor, é importante deixar claro que o fato da Ciência não reconhecer algo não significa que aquilo não exista. Apenas significa que não há provas nem evidências conclusivas de que aquilo exista.

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Outro ponto importante, é que isso não é uma unanimidade. Existem cientistas que defendem que somos visitados sim por extraterrestres. Mas enquanto não houver provas irrefutáveis ou evidências suficientes para comprovar tal afirmação, tudo não passará de uma especulação. 

Um caso recente que foi divulgado como um UAP, ou Fenômeno Aéreo Não Identificado, ocorreu na Ucrânia. Os autores escreveram um artigo científico em que propunham que os fenômenos registrados por eles seriam de objetos voando em nossa atmosfera a quase 26 mil km/h. Tal objeto, por óbvio, não poderia ser de origem terrestre e, por fazer movimentos aleatórios, não poderia ser algum fenômeno natural. Ou seja, teríamos aí, um registro, cientificamente comprovado, de um objeto artificial de origem extraterrestre. Só que não. 

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Podemos dizer que os cientistas ucranianos seguiram o caminho certo da ciência. Eles registraram um fenômeno desconhecido, analisaram, desenvolveram uma hipótese e buscaram evidências para comprovar essa hipótese. Colocaram tudo isso em um artigo e submeteram para avaliação de outros cientistas. 

Isso já é algo bem interessante, porque normalmente as imagens e as hipóteses absurdas são divulgadas antes mesmo de serem estudadas por cientistas. Só que esse artigo vem sendo muito criticado e contestado nos últimos dias principalmente porque os ucranianos parecem ter esquecido de alguns pontos importantes. 

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[ Trecho da análise do artigo “Unidentified aerial phenomena I. Observations of events” sobre os UAPs na Ucrânia – Imagem: Reprodução arxiv.org]

Primeiramente, antes de afirmar que os objetos registrados são UAPs, eles precisariam ter analisado e afastado outras possibilidades. Eles não consideraram a possibilidade de terem registrado um inseto, por exemplo. Claro, alguém pode questionar que um inseto não voaria a 26 mil km/h. Mas é justamente nesse ponto onde, ao meu ver, está a maior falha no artigo deles.

Quando há um registro da queda de um meteoro, a gente já está acostumado a ser informado da trajetória, do local onde ele ocorreu e da velocidade com que o objeto atravessou nossa atmosfera. Isso só é possível de calcular quando o meteoro é registrado em pelo menos duas câmeras em locais distintos. Através da triangulação dessas duas observações, é possível calcular tudo isso e muito mais. Mas infelizmente, não se pode calcular nada disso se ele for registrado em apenas uma câmera. 

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E é esse o caso dos UAPs da Ucrânia. Eles foram registrados em apenas uma câmera, e para estimar a sua distância e velocidade, foi utilizado um método bastante questionável, medindo a cor do objeto e assumindo que ele fosse completamente escuro, mas azulado pela quantidade de atmosfera entre o objeto e a câmera. Esse método, além de impreciso, só seria válido se conhecêssemos a cor do objeto. 

Logo, não há nem mesmo como estimar sua distância e consequentemente sua velocidade. Mas uma coisa podemos afirmar: se ele estivesse em nossa atmosfera a 26 mil km/hora, estaria interagindo com os gases atmosféricos e gerando uma bolha de plasma bem brilhante, como os meteoros. E isso, nós não vimos nas imagens divulgadas em que o objeto registrado é escuro.

Mas será que poderíamos considerar ainda a possibilidade de serem naves alienígenas mais próximas e mais lentas também? Sim, poderíamos trabalhar em várias hipóteses e inclusive nesta. Só que, sem dados mais precisos, seriam apenas hipóteses mesmo. O máximo que poderíamos fazer é atribuir pesos a cada hipótese e aí, a probabilidade do inseto seria bem maior do que a de visitantes alienígenas. 

Atribuir pesos às nossas hipóteses é uma forma bem simples de analisarmos casos misteriosos. Quando aparece um desenho em uma plantação por exemplo. Certamente não vai faltar quem queira atribuir tal fenômeno aos extraterrestres. Para analisarmos essa possibilidade, precisamos considerar que existem civilizações alienígenas avançadas que desenvolveram tecnologia para viajar enormes distâncias no espaço para chegar até a Terra e, furtivamente, utilizar parte dessa tecnologia avançada para dobrar nossas plantações de cereais. 

[ Agroglifo conhecido como “Pi Crop Circle” encontrado em Wiltshire, sul da Inglaterra. Créditos: Lucy Pringle ]

Mas considerando que, até hoje, depois de mais de 50 anos de pesquisas espaciais, não conseguimos comprovar nem mesmo a existência de vida microbiana fora da Terra, e que, com nosso conhecimento atual da Física, tais viagens espaciais levariam dezenas, talvez centenas de anos, mesmo para os sistemas estelares mais próximos, a probabilidade destes desenhos serem feitos por alienígenas seria muito menor do que a probabilidade deles serem feitos por humanos. 

E sim, humanos conseguem fazer desenhos na plantação. Isso já foi provado desde os anos 90 e hoje ainda existem grupos de terráqueos que se reúnem de vez em quando para fazer uma arte dessas e ficar rindo com as especulações que surgem no dia seguinte. 

[ Página do grupo Circlemakers, que cria desenhos em plantações na Inglaterra – Imagem: reprodução circlemakers.org ]

Claro, existem muitos fenômenos que estão sendo revelados ultimamente que ainda não tem uma explicação científica válida. Mas isso não significa que são manifestações alienígenas. Apenas fenômenos não explicados mesmo. 

Isso pode parecer bastante chato e é. Afinal, a busca de vida fora da Terra é um dos principais anseios da humanidade desde que percebemos que nosso mundo não é o único no Universo. Só que a Ciência precisa ser assim. O conhecimento não pode ser construído em cima de suposições e intuições. Por isso, a Ciência busca até hoje, as provas da existência da vida fora da Terra e, quiçá, de que eles estão nos visitando.

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