Na última terça-feira (1), foi oficialmente lançado o livro autobiográfico de Mathew Perry, o famoso Chandler Bing de “Friends”, uma das séries mais famosas dos anos 1990. Intitulada Friends, Lovers and the Big Terrible Thing (Amigos, Amantes e a Grande Coisa Terrível, em tradução livre), a obra traz diversas revelações sobre a vida do ator, hoje com 53 anos, principalmente no que diz respeito ao auge da carreira, vinda do sucesso da série, mas o que está mais chamando atenção dos fãs são as declarações sobre sua saúde

Durante “Friends”, diversas especulações e notícias rondavam a vida de Perry sobre o uso de drogas e álcool — ele conta que aos 18 anos já bebia além do considerado social. No livro, o artista confirma os vícios e ainda explana uma situação complicada vivida há apenas quatro anos: um coma por duas semanas após seu intestino estourar pelo uso de opioides, medicamento analgésico sedativo. Segundo Perry, o quadro de saúde quase o levou a morte

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Por que o intestino de Mathew Perry explodiu? 

De forma específica, o que “explodiu” foi o cólon do ator, que diante do uso excessivo do remédio dificultou a liberação do conteúdo intestinal extravasando-o para dentro da cavidade abdominal, perfurando a região. O cólon e o reto formam o aparelho digestivo, também denominado sistema digestório ou gastrointestinal. Perry chegava a tomar 55 cápsulas do remédio por dia, fingindo enxaquecas para diferentes médicos a fim de pegar novas receitas — isso durante a série e após o fim do show, tudo misturado com álcool. O resultado foi uma internação por cinco meses no hospital e 14 cirurgias estomacais, além do uso de uma bolsa de colonoscopia por nove meses. 

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“Os médicos disseram à minha família que eu tinha 2% de chance de viver. Fui colocado em uma coisa chamada máquina de ECMO, que realiza toda a respiração do seu coração e pulmões. Ninguém sobrevive a isso”, contou.  

Perry precisou passar 15 vezes pela reabilitação até finalmente se livrar do vício em Vicodin, Fentanil (opioide mais forte do mercado) e Oxycodona (analgésico poderoso).  

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'Friends'. Imagem: Warner Bros./Divulgação
‘Friends’. Imagem: Warner Bros./Divulgação

Geralmente, opioides são utilizados para controlar a dor. No entanto, o medicamento reduz a atividade intestinal, e é por isso que às vezes são usados para tratar a diarreia. E as pessoas que os tomam geralmente sofrem de constipação. 

“Com o tempo, o corpo desenvolve tolerância a muitos dos efeitos dos opioides, mas a constipação tende a não melhorar — na verdade, pode se tornar mais grave. Em casos extremos, o cólon eventualmente se estica, às vezes de forma irreversível. E se houver algo de errado com o cólon, os opioides podem agravá-lo. O intestino pode perfurar — como no caso de Perry — mas isso é bastante raro”, explicou o professor de Psiquiatria Social, da Universidade de Bangor, Rob Poole, em artigo publicado na The Conversation

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O especialista diz ainda que a respiração suprimida é mais uma das reações inesperadas que podem acontecer. “Os opioides deprimem o centro respiratório do tronco cerebral e, se forem ingeridos o suficiente, as pessoas param de respirar. Este é o mais perigoso dos efeitos farmacológicos dos opioides. Embora o corpo desenvolva uma tolerância aos efeitos do medicamento e a sedação diminua, os efeitos na respiração não diminuem tanto.” 

Imagem: shutterstock/GoodIdeas

Níveis baixos de oxigênio no sangue após o aumento da dose também podem ser observados, além da queda de testosterona nos homens (hipogonadismo). Vale destacar que o organismo se acostuma com a medicação, diminuindo os efeitos, por isso as doses são aumentadas, mas é necessária a supervisão médica no caso de pessoas em tratamento, justamente para evitar o vício no medicamento.

Além de todo efeito físico do corpo, há também os efeitos na cognição, já que a droga prejudica a capacidade das pessoas de prestar atenção e se concentrar. 

“Os opioides também podem afetar o pensamento abstrato; torna-se difícil pensar em torno de questões ou compreender situações de diferentes pontos de vista. A capacidade de sentir prazer diminui e as pessoas perdem o interesse pelas atividades. A vida social e familiar pode tornar-se mais restrita ou cessa completamente”, apontou Poole. 

O psiquiatra destacou, no entanto, que muito das ações comportamentais podem ser atribuídas também à dor, e não aos efeitos entorpecentes da medicação. Assim, a avaliação médica também se faz necessária. Conforme Poole, uma saída para evitar o desencadeamento do vício é sempre prescrever doses baixas, e mantê-las. 

“Doses baixas funcionam melhor do que doses altas, e algumas pessoas até se saem melhor sem medicação para dor. Com ajuda, as doses podem ser diminuídas lentamente, mas isso é notoriamente difícil quando as pessoas já estão em altas doses”, finalizou o especialista, destacando que o problema em si não é usar o medicamento. “Eu não defenderia que as pessoas devam evitar completamente os opioides, mas quando doses modestas falham, é improvável que altas doses funcionem a longo prazo.” 

Mathew Perry. Imagem: reprodução/Instagram

Opioides e álcool: Mathew Perry hoje 

Embora o auge de “Friends” tenha acabado — apesar de ainda ser a queridinha de muitos —, a luta de Perry contra os vícios se estende até os dias de hoje. Segundo o ator em seu livro, ela considera que, hoje, vive uma vida saudável, mas isso após diversas, e recentes, batalhas. 

“Se você perder a sobriedade, não significa que perderá todo esse tempo e educação”, disse sobre o processo de reabilitação. “Você sabe tudo o que sabia antes, contanto que consiga lutar para voltar sem morrer, você aprende muito.” 

Ele acrescentou que esperou estar sóbrio e limpo dos vícios em alcoolismo e opioides para escrever o livro, já que a intenção não era apenas falar da sua vida, mas ajudar pessoas que travam a mesma luta. 

Com informações do The Conversation, Quem e Veja

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