Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a miopia, dificuldade de enxergar à distância, é um dos problemas de saúde pública que mais cresce no mundo. A projeção do órgão é de que metade da população mundial seja míope em 2050, e o pior: em alguns países, a alta miopia, que configura graus acima de seis, está aumentando mais que a baixa ou moderada dificuldade de enxergar — este é o caso do Brasil.  

Os dados preveem que entre 2020 e 2040 o número global de altos míopes aumente 74%, passando de 399 milhões para 695 milhões. Neste mesmo período, o número de brasileiros com alta miopia deve aumentar 84,8%, passando de 6,6 milhões para 12,2 milhões. Ante as projeções, especialistas chamam atenção para as crianças com ou sem miopia, primeiro devido à era tecnológica que vivemos, segundo porque elas serão os adultos em 2040.

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De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, a córnea do míope é mais curva, o olho é maior que o normal e isso faz as imagens se formarem na frente da retina, tornando tudo o que está distante desfocado.  

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“Quem tem criança em casa diagnosticada com miopia deve ficar alerta à evolução do grau. Isso porque, acima de seis [graus] afina a retina e esclera (parte branca do olho), podendo causar descolamento de retina, glaucoma, catarata, degeneração macular e levar em muitos casos à perda irreparável da visão” salienta.  

Imagem: shutterstock

Além disso, ressalta, a miopia compromete o desenvolvimento cognitivo e aprendizado da criança sem correção visual adequada. Um dos sinais da miopia descontrolada em crianças com menos de 10 anos é a variação anual de mais de 3 mm na biometria, exame que mede o comprimento axial, distância entre a córnea e a retina. Outro é o aumento de 2 mm/anual após os 10 anos. 

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O que causa a miopia? 

Conforme explicação do especialista, o desenvolvimento da miopia pode estar tanto relacionado a genética, quando um dos pais ou ambos possuem a condição, ou mesmo ao estilo de vida. 

“A primeira recomendação é intercalar o uso dos eletrônicos com atividades ao ar livre”, afirma. Isso porque o sol estimula a produção de dopamina, hormônio do bem-estar que também controla o crescimento do olho. Por isso, durante o isolamento da pandemia diversas pesquisas demonstraram aumento da miopia infantil. 

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Um estudo realizado pelo médico com 360 crianças de 6 a 9 anos mostrou um aumento na dificuldade de enxergar à distância de 21%, contra a prevalência de 12% apontada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) para esta idade. Para Queiroz Neto se trata de uma miopia acomodativa causada por um espasmo nos músculos que alternam a focalização das imagens nas várias distâncias.

A OMS não recomenda o uso de telas nos dois primeiros anos de vida e nem a permanência de mais de duas horas ininterruptas em atividades online. O exercício de olhar para as várias distâncias é essencial para o bom desenvolvimento da visão. 

Imagem: shutterstock/Prostock-studio

Qual tratamento para a miopia? 

Além dos já conhecidos óculos e lentes de contato, há ainda a opção de colírios. Entenda cada alternativa mais abaixo: 

Colírio de atropina a 0,01% — pode reduzir em até 50% a progressão da miopia. O médico afirma que como todo medicamento, este também tem efeitos colaterais — perda da visão de detalhes devido à dilatação da pupila, fotofobia (aversão à luz) e ardência nos olhos. Por isso o ideal é instilar o medicamento antes de ir dormir. 

Lente de contato com defocus na periferia — com descarte diário, tem baixo risco de contaminação, sendo indicada para crianças com até 12 anos. Estudos mostram que diminui a progressão da miopia de 30% a 55%. Queiroz Neto conta que foi um dos primeiros a adaptar esta lente no Brasil em um paciente que estava com miopia de progressão bastante acelerada. Um ano após a adaptação a variação do grau foi de apenas 0,5. 

Lente de contato noturna — É indicada para adultos que querem se livrar dos óculos e crianças com até 6 graus de miopia. Trata-se de uma lente rígida gás-permeável. É usada durante o sono e faz a remodelagem da córnea com uma camada bastante elástica. Pode ser retirada ao acordar e não requer outro tipo de correção visual. 

Lente de óculos — Reduz em 67% a progressão da miopia e deve ser usada por 12 horas/diárias. Para o oftalmologista é o método menos invasivo de controlar a miopia. Funciona pelo mesmo princípio da lente de contato descartável, mas o controle da miopia é maior, eliminando grande parte das complicações futuras na visão das crianças. 

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