Virgínia Leone Bicudo: quem é a homenageada pelo Google no Doodle

Mesmo após tantos anos, Virgínia ainda é fonte de inspiração para muitas pessoas e profissionais, e seu trabalho merece ser lido e relido
Por Isabela Valukas Gusmão, editado por Lucas Soares 21/11/2022 12h30
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Imagem: Doodle do Google sobre psicanalista brasileira, Virgínia Bicudo. Créditos: Reprodução/Google.
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Nesta segunda-feira (21), o Doodle do Google comemora os 112 anos da psicanalista brasileira Virgínia Leone Bicudo, pioneira nos estudos raciais no Brasil. Foi ela a responsável por garantir que as perspectivas negras fossem ouvidas dentro do mundo acadêmico.

Nascida em São Paulo, no início do século XX, Virgínia Bicudo era filha de uma imigrante italiana, que trabalhava como empregada doméstica, e seu pai, um homem negro, tinha o sonho de ser médico. Após sofrer com a rejeição em faculdades de medicina, que negavam o seu ingresso apenas com base na cor de sua pele, o pai de Virgínia decidiu investir na educação dos filhos.

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Inspirada pela história dos pais, a futura psicanalista priorizou os estudos desde cedo, o que possibilitou seu ingresso e graduação na Escola Caetano de Campos, onde se formou em educação em saúde pública. Durante sua trajetória, atuou como atendente psiquiátrica, posição que logo deixou quando foi promovida e passou a atuar como supervisora na Clínica de Orientação Infantil em São Paulo.

Como o estudo sempre foi um valor importante para ela, em 1936, Virgínia passou a estudar ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política, a primeira instituição de ensino superior do Brasil que ensinava a disciplina. Cabe destacar que ela era a única mulher matriculada no curso e que, durante seu tempo nesta escola, ela aprendeu sobre Sigmund Freud.

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Imagem: Doodle sobre psicanalista brasileira, Virgínia Bicudo. Créditos: Reprodução/Google.

Dois anos depois e com um diploma de bacharel, Bicudo acreditava que poderia usar a psicanálise para entender melhor as tensões raciais no Brasil, assunto que teve um forte impacto na vida dela e de seu pai. Além disso, Virgínia também fez pós-graduação na mesma escola. Seu primeiro trabalho de pós-graduação no Brasil teve foco nas relações raciais.

Convite à psicanalista para participar de projeto de pesquisa da UNESCO

Essa dedicação ao tema lhe rendeu um convite para participar de um projeto de pesquisa da UNESCO que analisa a raça em diferentes países. Dentre as conclusões que ela chegou em sua pesquisa, estava a de que o Brasil não era uma democracia racial, ponto que contradiz as crenças de seu orientador e fez com que seu trabalho não fosse publicado.

Quando Bicudo retornou ao Brasil, ela foi tratada como uma impostora e passou a ser rejeitada no meio acadêmico por não ser formada em medicina. Toda essa situação fez com que ela se mudasse para Londres. Na Europa, ela estudou com alguns dos psicanalistas mais proeminentes da época. Ela transmitiu palestras ao Brasil através da BBC para divulgar seu trabalho.

Em 1959, Bicudo voltou para o Brasil e fundou o Instituto de Psicanálise da Sociedade de Psicanálise de Brasília. Ela também foi a responsável pela apresentação do programa de rádio “Nosso Mundo Mental”, um dos populares do Brasil, enquanto escrevia uma coluna no jornal com o mesmo título. Todos esses esforços junto da resiliência da psicanalista lançaram as bases para as futuras gerações de profissionais da área.

Mesmo após tantos anos, Virgínia ainda é fonte de inspiração para muitas pessoas, e seu trabalho merece ser lido e relido para que futuros profissionais e entusiastas compreendam o que era o Brasil do século XX e quais foram os desafios enfrentados por pessoas como Virgínia.

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Isabela Gusmão é estagiária e escreve para a editoria de Ciência e Espaço. Além disso, ela é nutricionista e cursa Jornalismo, desde 2020, na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.