Se existe um setor que dita a maneira como vivemos, podemos dizer que este é o da tecnologia. Responsável pelas principais mudanças e transformações pelas quais a sociedade passou nestes últimos anos, é nela também que precisaremos nos escorar para construir um futuro cada vez mais sustentável e qualificado.

Mesmo diante dessa importância, alguns termos dentro desse universo ainda geram dúvidas e confusão sobre seus verdadeiros conceitos. Exemplo disso é a ideia de que a hard tech e deep tech têm o mesmo significado. Será mesmo? Apesar de alicerçadas em tecnologia, essas definições possuem diferenças entre si.

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Primeiramente vale explicar que o conceito hard tech representa um conjunto de tecnologias baseadas em inovações científicas difíceis de reproduzir. Dessa forma, ele pode ser aplicado a diversas indústrias, desde de novos materiais para manufatura, como para maquinário voltado para medicina de precisão, biotecnologia e até mesmo para veículos autônomos.

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Já a definição de deep tech é baseada na utilização da tecnologia direcionada à garantir um grande impacto positivo em questões crônicas de nossa sociedade, como segmentos econômicos, sociais ou ambientais, através de engenharias inovadoras que podem utilizar hard tech e/ou outras tecnologias amplamente disponíveis.

Com isso em mente, é possível perceber que hard tech e deep tech não são conceitos exatamente opostos, mas uma espécie de sequência evolucionária. Para deixar isso ainda mais evidenciado, ilustro uma amostra prática de uma transformação na área agrícola. Quando usamos veículos autônomos, como drones, para mapeamentos por imagem, ou sensores para uso inteligente da água, estamos falando de tecnologia hard tech na sua pura essência. Porém, quando conectamos essa ferramenta a uma plataforma de indicadores ambientais públicos e confiáveis de uma região, estamos falando de uma tecnologia deep tech.

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Diante desse exemplo, fica claro que a deep tech pode ser uma espécie de passo evolutivo, já que não se trata apenas do avanço tecnológico em si, mas principalmente do direcionamento dado a esses novos recursos. Obviamente que o aprimoramento da ciência, da engenharia e da computação além dos limites conhecidos são fundamentais, até para que possamos garantir novas e mais poderosas ferramentas, no entanto, mais importante do que isso é a sua utilização a favor de impacto profundo na sociedade. E é aqui onde o deep tech entra.

Até porque essa vai, e precisa ser, uma tendência global para os próximos anos. Acontecimentos recentes mostram um amplo esgotamento do modelo de tecnologia por si só, ou somente voltada para o resultado econômico, e que o imperativo atual do planeta já está voltado ao avanço em questões socioambientais urgentes, associadas principalmente ao clima, desigualdade social, educação, saúde, democracia.

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A consequência disso é que, enquanto por muito tempo enxergávamos as empresas restritas apenas a uma visão produtiva e fabril, agora as entendemos como atores decisivos para o futuro sustentável do planeta.

As corporações que entenderem a oportunidade de usar a tecnologia não apenas para eficiência operacional ou experiência do cliente, mas de fato amplificar seu impacto positivo na vida das pessoas, serão capazes de criar uma conexão muito mais profunda com seus clientes, transformando-os em embaixadores e influenciadores da marca em seus ecossistemas de negócio. Isso vai habilitar uma geração de valor no longo prazo, o que é decisivo para a competição de mercado.

Vale ainda trazer uma breve análise dessa realidade para o Brasil, onde já existe um ecossistema em formação na área de saúde, além de diversas iniciativas na área de fomento à inovação, e capital de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Por conta desse contexto, hoje contamos com um potencial imenso em energia limpa, produção sustentável, agronegócio, saúde, educação, varejo e serviços financeiros. A tendência é que isso se solidifique ainda mais nos próximos anos.

Em um período marcado pelos maiores desafios da vida em nosso planeta, como mudanças climáticas, conflitos globais, tensões sociais, a tecnologia não pode mais estar alheia a esse cenário. É o momento das organizações entenderem o seu papel na evolução da sociedade e assumirem a responsabilidade de priorizar o conceito da deep tech visando promover impacto positivo nas suas indústrias e na vida humana como um todo.

Igor Couto é cofundador e CEO da 1STi

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