Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram um medicamento que evita a entrada do Sars-CoV-2 nas células, podendo ser uma alternativa às vacinas, beneficiando quem não tem acesso devido ao custo ou por algum motivo de saúde, como alergias ou sistema imunológico comprometido — o que faz com que as defesas sejam mais fracas contra variantes, por exemplo. 

Segundo o estudo, publicado em dois artigos na Nature (veja aqui e aqui) e divulgado pelo Correio Braziliense, a equipe do hepatologista Fotios Sampaziotis identificou que a substância ácido ursodesoxicólico (UDCA), ou ursodiol, usada para tratamento de colangite biliar — doença hepática (do fígado) —, fecha as portas das células, impedindo a entrada do microrganismo e, consequentemente, a infecção. Outro benefício do remédio é seu baixo custo, que dependendo da dosagem pode variar de R$ 100 a R$ 200. 

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Vale explicar que o ursodiol também está presente naturalmente na bile humana a partir do metabolismo por bactérias intestinais. A substância age diminuindo a quantidade de colesterol e estimulando a produção de bile produzida pelo fígado. No Brasil, o remédio também é chamado de ursacol. 

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Como o ursodiol age contra o vírus da covid-19? 

Conforme a pesquisa, no caso da covid, o remédio tem como alvo a porta de entrada do vírus, o chamado ACE2 (uma proteína do corpo). A equipe também descobriu que uma molécula conhecida como FXR regula essa “porteira viral”, conseguindo abri-la ou fechá-la. O ápice da descoberta está no uso combinado de todas essas informações: o medicamento UDCA consegue controlar a sinalização da FXR (o porteiro) e regular a ACE2 (a porta) no pulmão humano e outros tecidos. Em outras palavras, o remédio sugere ao “porteiro” o fechamento da “porta”, reduzindo assim a suscetibilidade à infecção por SARS-CoV-2. Testes em camundongos e órgãos humanos in vitro e in vivo comprovaram a ação. 

subvariantes Ômicron
Imagem: shutterstock/Fit Ztudio

Os pesquisadores destacaram, no entanto, que este estudo não é um ensaio clínico e que os achados devem ser validados e confirmados em grandes grupos de indivíduos estudados ao longo do tempo. Além disso, “é importante ressaltar que, sempre que possível, propomos que o UDCA seja usado junto com a vacinação, em vez de substituí-la”. Para Sampaziotis, se o método for comprovado, o tratamento pode, além de beneficiar pessoas sem acesso às vacinas, complementar o combate à covid-19. 

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“Estamos interessados em encontrar formas alternativas de nos proteger da infecção por Sars-CoV-2 que não dependam do sistema imunológico e possam complementar a vacinação. Descobrimos uma maneira de fechar a porta para o vírus, impedindo-o de entrar em nossas células e protegendo-nos de infecções”, disse o cientista, destacando que outra vantagem da abordagem é que, como o ursodiol não depende do vírus para prevenir a infecção, caso novas cepas da covid-19 tornem-se resistentes às vacinas, o medicamento poderia ser utilizado como reforço, sem precisar de “atualizações” ou novas versões — ao menos inicialmente. 

A equipe também alertou que, apesar dos resultados promissores, não se deve fazer o uso de UDCA (ou ursodiol) por conta própria, bem como de nenhum outro remédio, sem prescrição médica. 

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