Colocar silicone é o sonho de muitas mulheres, seja por estética ou por necessidade, é fato que o procedimento ajuda a recuperar a autoestima e a melhorar o aspecto das mamas — a partir da visão e incômodo da paciente. Contudo, embora tenha ficado popular com o passar dos anos, a cirurgia, assim como qualquer outra, tem riscos a curto e longo prazo; um assunto delicado, polêmico, mas que merece atenção. 

“O especialista tem a obrigação de explicar à paciente todos os detalhes que envolvem a cirurgia plástica, principalmente, sobre as possíveis complicações”, diz o Dr. Fernando Amato, cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Segundo o médico, a paciente deve estar consciente dos benefícios e riscos para tomar a decisão — se coloca ou não a prótese de silicone. 

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Em 2022, a Food and Drug Administration (FDA), reguladora equivalente à Anvisa no Brasil, emitiu um alerta sobre as próteses de silicone. Segundo a agência norte-americana, alguns tipos de câncer podem se desenvolver no tecido da cicatriz que se forma ao redor do local. Embora pareçam casos raros, esses têm sido associados a todos os tipos de próteses de silicone. 

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  1. Linfoma — Linfoma anaplásico de células gigantes é raríssimo, mas é um câncer que pode ter relação com a prótese de silicone. Apesar de ter poucos casos no mundo, é uma complicação que precisa ser explicada à paciente antes da cirurgia. “Nesses casos, a cirurgia para remoção do implante é a indicação. A prótese deve ser retirada em bloco, ou seja, o implante intacto dentro de sua cápsula”; 
  1. Carcinoma — Mais raro que o Linfoma, até o momento tem menos de 20 casos descritos no mundo, mas também está relacionado à cápsula formada ao redor do implante mamário. 

Faz alguns anos, no entanto, que diversos tipos de doenças, além do câncer, têm sido relacionados ao silicone. Algumas com nomes já dedicados à prótese: 

  1. Síndrome ASIA — o implante de silicone serve como gatilho para desenvolver sintomas semelhantes aos das doenças reumatológicas e autoimunes como dor nas articulações do corpo, cansaço, distúrbios do sono, perda de cabelo, olhos e boca secos; 
  1. Doença do Silicone — é um termo genérico, que pode englobar todas as complicações relacionadas ao implante. Porém, muitos a associam com a toxicidade causada pela presença do silicone, que pode até ocorrer a partir do extravasamento do implante sem ele estar rompido; 
Imagem: shutterstock/New Africa

Simultaneamente a descobertas de sintomas e quadros de saúde ligados à prótese, uma onda de retirada do silicone (explante) se instalou no Brasil, inclusive com artistas divulgando a decisão de manter os seios de forma natural. O principal motivo: priorizar a saúde! 

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Entre algumas celebridades que realizaram o procedimento, estão: Manu Gavassi, Carolina Dieckmann, Fiorella Mattheis, Giovanna Antonelli e Evelyn Regly (está última, influencer, compartilhou nas redes sociais e YouTube todo o processo de sua experiência com o silicone, desde o implante, os problemas que causou e a retirada. O caso viralizou nas redes, na época). 

O último levantamento realizado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética, em 2020, mostrou também que o Brasil realizou 1,3 milhão de cirurgias plásticas em um ano e, desse total, 25 mil procedimentos foram para a retirada de implante de silicones e 105 mil mastopexias — procedimento para reposicionar os seios, sendo a 5ª cirurgia estética mais realizada no ano. 

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“As mulheres estão se emponderando cada vez mais e deixando de lado as opiniões alheias, passando a gostar mais dos seus corpos e valorizando o natural. E isso é muito bem-vindo”, comenta Dr. Amato. 

Imagem: shutterstock/Photoroyalty

Outras complicações da mamoplastia  

Em todo caso, considerando que a mulher é quem decide o que será melhor para seu corpo — e que para muitas se trata de um sonho antigo, com total influência em seu emocional —, o ideal é ter informações suficientes para pesar a escolha, sabendo, inclusive, que há ainda outras complicações e alterações do formato da mama em relação ao implante. São elas:

  1. Ptose mamária — Está relacionada à flacidez mamária e sua definição é feita com a relação do bico da mama e o sulco mamário, ou seja, quando o bico está abaixo do sulco apresenta a ptose mamária; 
  1. Pseudoptose — É a flacidez do tecido mamário, principalmente no polo inferior, sem alteração da relação entre o bico e o sulco mamário. Apesar de a mamoplastia e mastopexia serem o tratamento cirúrgico, o uso de implantes mamários podem favorecer o aparecimento da flacidez mamária devido ao peso dos implantes; 
  1. Simastia — Quando as duas mamas estão unidas por uma ‘ponte’ de pele. A causa pode ser genética, mas, na maioria das vezes, ocorre devido ao volume exagerado da prótese de silicone colocada na mamoplastia. Pode acontecer também devido ao pós-operatório inadequado. É possível corrigir a simastia, inclusive, por meio da mesma incisão da cirurgia anterior; 

“Alerto sobre a importância de ter bom senso na escolha do volume das próteses e sempre seguir as orientações pós-cirúrgicas, justamente, para não haver problemas de simastia”, alerta Amato. 

  1. Rippling e wrippling — Termos em inglês que se referem às ondulações e enrugamento que o implante pode apresentar. Essas alterações podem ficar mais visíveis em pacientes muito magras; 
  1. Bottoming out — É quando acontece o deslocamento do implante mamário no sulco da mama. Como consequência, o colo da mama fica mais vazio e o bico fica projetado para cima; 
  1. Dupla bolha — Ocorre quando a mama fica com dois contornos, um marcando o polo superior, e outro com a própria mama logo abaixo. Isso pode acontecer devido às técnicas de fixação e sustentação do implante, ou mesmo de uma contratura capsular, associado à flacidez da mama, que não mais se sustenta a frente do implante; 
  1. Seroma — É um líquido inflamatório que pode ser formar ao redor do implante. Não é comum e quando aparece de forma tardia deve ser investigado para afastar doenças graves como o linfoma; 
  1. Contratura capsular — Acontece quando há a contração da cápsula que envolve a prótese mamária. Como consequência, a mama fica mais dura, pode mudar de formato e até causar dor nos casos mais graves; 

Alguns fatores podem causar a contratura capsular, como o tempo de uso do implante e a qualidade do material.  

“Outros aspectos mais sérios são infecções, complicações pós-operatórias como hematomas, seromas, trauma cirúrgico intenso (mastectomias), rompimento do implante e a radioterapia nos casos de reconstrução pós-câncer”, explica o especialista. 

  1. Ruptura de implante — Quando o implante de silicone é rompido pode acusar alteração no formato, perda da consistência, assimetria mamária e dor. Porém, muitas vezes a paciente não apresenta sintomas ou sinais clínicos. Traumas mecânicos, qualidade do implante, desgaste natural e contratura capsular podem ser as causas de ruptura do implante; 
  1. Bleeding — Termo em inglês relacionado ao extravasamento do silicone sem ruptura do implante mamário e que pode estar associado com a toxicidade do silicone. É uma situação rara, segundo o especialista, mas pode acontecer e a paciente deve ser informada sobre a possibilidade antes de passar pela cirurgia; 
Imagem: shutterstock/Photoroyalty

O que fazer quando ocorre uma complicação do silicone? 

Exames complementares como a ultrassonografia, mamografia e a ressonância magnética podem identificar alteração na mama e na integridade da prótese mamária, juntos com exame físico ajudam no diagnóstico dessas alterações, sendo que o mais importante, e que deve nortear o tratamento, é o desejo da paciente. 

Para todos os problemas citados anteriormente, e que podem acontecer com a colocação da prótese de silicone, o Dr. Amato explica que é possível corrigi-los a partir de: 

  • Mudança de plano cirúrgico — Alterando a posição do implante em relação ao músculo. A vantagem de colocar atrás do músculo está em aumentar a cobertura do implante por tecido muscular e estabilizá-lo. E quando colocado na frente, a vantagem está na melhora da relação dinâmica do implante com a movimentação; 
  • Troca de implante — Além do volume, existem implantes com formatos, texturas e consistência diferentes, dessa forma é possível corrigir algumas deformidades, como escolhendo implantes que se adaptem melhor para a correção da deformidade; 
  • Enxerto de gordura — Além da prótese de silicone, é possível reconstruir a mama utilizando a gordura do próprio corpo, retirada do abdômen ou coxas através de uma lipoaspiração. Ou complementando numa colocação de implante mamário, cirurgia conhecida como mamoplastia híbrida; 
  • Explante mamário — retirada do implante sem a substituição por um novo implante, podendo realizar uma reconstrução com retalhos locais ou mesmo complementada por enxerto de gordura. 

“O mais importante é conversar com o seu médico, perguntar tudo e não só sobre os benefícios da cirurgia como também os riscos que ela pode oferecer à paciente. Com o diálogo sincero, é possível chegar a uma decisão do que é melhor, sempre visando a saúde e o bem-estar da paciente”, finaliza o especialista. 

Vale pontuar também que, nem todas as mulheres que colocam silicone enfrentam complicações, que dependem de diversos fatores, algumas variáveis, como a reação individual de cada organismo. O objetivo principal é compartilhar informações sobre benefícios, riscos e o que fazer ante a complicações, chamando atenção de médicos e pessoas que desejam realizar o procedimento. 

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