Estar sob gravidade zero na EEI (Estação Espacial Internacional) deve ser divertido, rodopiando para lá, flutuando para cá. Mas, depois de alguns dias, os efeitos começam a aparecer na massa muscular, no paladar e até nos ossos do astronauta.
Nem o sangue deles sai ileso das viagens espaciais. Pesquisas já mostraram que os astronautas perdem 54% mais glóbulos vermelhos quando estão no espaço. A condição até ganhou nome: anemia espacial. Além disso, o volume de sangue produzido cai, o que atrofia o coração e faz a pressão arterial despencar.
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Efeitos no corpo ‘lá fora’
Após um tempo flutuando na gravidade zero, o corpo “entende” que não precisa mais de reforços para os músculos e diminui a produção de células para eles. Panturrilha e as costas, por exemplo, podem perder até 25% da massa muscular já nos primeiros dias no espaço. Para compensar, os astronautas fazem exercícios com elásticos – mesmo assim, perdem até 5% de massa muscular por semana.
O mesmo acontece nos ossos, pelo mesmo motivo. A ausência de gravidade desestimula a produção de células dos ossos. No caso da massa óssea, a queda da taxa é de 1% ao mês. E essa perda só pararia na casa dos 60%, de acordo com projeções.
Ainda falando sobre ossos, as vértebras se distanciam entre si por conta da falta de gravidade, o que aumenta a altura do astronauta em até 3%. Pode parecer pouco, mas para uma pessoa de 1,8 m, por exemplo, significa cinco centímetros a mais. De volta na Terra, a gravidade comprime a coluna de volta. É um processo dolorido.
Na pele, os astronautas perdem a sensibilidade, pela falta de empuxo da gravidade e contato prolongado entre ela e objetos (olfato e paladar também ficam entorpecidos, pelo pouco uso). E a exposição à radioatividade intensa do Sol fazem as células dos seus corpos envelhecerem mais rápido, além de aumentar o risco do desenvolvimento de câncer.
Efeitos ao voltar para a Terra
A vida na EEI é puxada, mas o retorno ao planeta também não é fácil. E os corpos dos astronautas sentem o peso desse regresso, literal e metaforicamente. Entre os efeitos, estão:
- Miopia: a teoria mais aceita é que o acúmulo de sangue na cabeça empurra o fundo dos olhos, achatando-os;
- Sistema imunológico prejudicado: o sistema fica “confuso” com o ambiente da viagem espacial, bem diferente do terrestre, e isso causa anemia, além de reduzir a quantidade de leucócitos (células de defesa do corpo);
- Insônia: talvez por conta do ciclo estranho do Sol (para quem está em órbita, ele nasce e se põe a cada 90 minutos), os astronautas não conseguem dormir mais que seis horas e uns quebrados;
- Muito esforço: na EEI, a perda da massa muscular não pesa tanto, mas, na Terra, um cobertor pode parecer pesar cinco quilos.
Experimento
Atualmente, sabemos mais sobre os efeitos das viagens espaciais no corpo humano graças ao Twins Study, experimento realizado pela Nasa (agência espacial dos EUA) com os gêmeos idênticos – e astronautas – Scott e Mark Kelly.
Scott passou 340 dias a bordo da EEI, entre 2015 e 2016, enquanto Mark permaneceu em terra firme. Na época, já eram sabidos efeitos como perda de massa muscular e óssea, aumento da altura e alterações no sistema circulatório. A novidade foi dimensionar esses e outros efeitos entre pessoas com as mesmas características genéticas.
Entre os novos efeitos observados pelos pesquisadores estão o aumento dos telêmetros (extremidades dos cromossomos associadas à maior longevidade), agravamento dos níveis de inflamação e mudanças na ativação de genes ligados aos sistemas imunológico, de reparo de DNA e dos que controlam a formação óssea.
Esse estudo da Nasa foi um primeiro passo para antecipar o que rolaria com o corpo dos astronautas numa viagem de três anos para Marte. “Estamos começando a entender como as viagens espaciais afetam o corpo humano no nível molecular”, divulgou a agência espacial estadunidense, na época.
Fontes: CNN Brasil, Mundo Estranho e Pesquisa Fapesp
Imagem de destaque: Nasa
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