Estar sob gravidade zero na EEI (Estação Espacial Internacional) deve ser divertido, rodopiando para lá, flutuando para cá. Mas, depois de alguns dias, os efeitos começam a aparecer na massa muscular, no paladar e até nos ossos do astronauta.
Nem o sangue deles sai ileso das viagens espaciais. Pesquisas já mostraram que os astronautas perdem 54% mais glóbulos vermelhos quando estão no espaço. A condição até ganhou nome: anemia espacial. Além disso, o volume de sangue produzido cai, o que atrofia o coração e faz a pressão arterial despencar.
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Efeitos no corpo ‘lá fora’
![Astronauta atrás de bola de líquido flutuando na Estação Espacial Internacional](https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Astronauta-no-espaco-1024x576.jpg)
Após um tempo flutuando na gravidade zero, o corpo “entende” que não precisa mais de reforços para os músculos e diminui a produção de células para eles. Panturrilha e as costas, por exemplo, podem perder até 25% da massa muscular já nos primeiros dias no espaço. Para compensar, os astronautas fazem exercícios com elásticos – mesmo assim, perdem até 5% de massa muscular por semana.
O mesmo acontece nos ossos, pelo mesmo motivo. A ausência de gravidade desestimula a produção de células dos ossos. No caso da massa óssea, a queda da taxa é de 1% ao mês. E essa perda só pararia na casa dos 60%, de acordo com projeções.
Ainda falando sobre ossos, as vértebras se distanciam entre si por conta da falta de gravidade, o que aumenta a altura do astronauta em até 3%. Pode parecer pouco, mas para uma pessoa de 1,8 m, por exemplo, significa cinco centímetros a mais. De volta na Terra, a gravidade comprime a coluna de volta. É um processo dolorido.
Na pele, os astronautas perdem a sensibilidade, pela falta de empuxo da gravidade e contato prolongado entre ela e objetos (olfato e paladar também ficam entorpecidos, pelo pouco uso). E a exposição à radioatividade intensa do Sol fazem as células dos seus corpos envelhecerem mais rápido, além de aumentar o risco do desenvolvimento de câncer.
Efeitos ao voltar para a Terra
![Astronauta sendo recebida de volta à Terra](https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Astronauta-de-volta-pra-Terra-1024x576.jpg)
A vida na EEI é puxada, mas o retorno ao planeta também não é fácil. E os corpos dos astronautas sentem o peso desse regresso, literal e metaforicamente. Entre os efeitos, estão:
- Miopia: a teoria mais aceita é que o acúmulo de sangue na cabeça empurra o fundo dos olhos, achatando-os;
- Sistema imunológico prejudicado: o sistema fica “confuso” com o ambiente da viagem espacial, bem diferente do terrestre, e isso causa anemia, além de reduzir a quantidade de leucócitos (células de defesa do corpo);
- Insônia: talvez por conta do ciclo estranho do Sol (para quem está em órbita, ele nasce e se põe a cada 90 minutos), os astronautas não conseguem dormir mais que seis horas e uns quebrados;
- Muito esforço: na EEI, a perda da massa muscular não pesa tanto, mas, na Terra, um cobertor pode parecer pesar cinco quilos.
Experimento
![Astronautas gêmeos Scott e Mark Kelly sentado um do lado do outro em entrevista](https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Astronautas-Scott-e-Mark-Kelly-1024x576.jpg)
Atualmente, sabemos mais sobre os efeitos das viagens espaciais no corpo humano graças ao Twins Study, experimento realizado pela Nasa (agência espacial dos EUA) com os gêmeos idênticos – e astronautas – Scott e Mark Kelly.
Scott passou 340 dias a bordo da EEI, entre 2015 e 2016, enquanto Mark permaneceu em terra firme. Na época, já eram sabidos efeitos como perda de massa muscular e óssea, aumento da altura e alterações no sistema circulatório. A novidade foi dimensionar esses e outros efeitos entre pessoas com as mesmas características genéticas.
Entre os novos efeitos observados pelos pesquisadores estão o aumento dos telêmetros (extremidades dos cromossomos associadas à maior longevidade), agravamento dos níveis de inflamação e mudanças na ativação de genes ligados aos sistemas imunológico, de reparo de DNA e dos que controlam a formação óssea.
Esse estudo da Nasa foi um primeiro passo para antecipar o que rolaria com o corpo dos astronautas numa viagem de três anos para Marte. “Estamos começando a entender como as viagens espaciais afetam o corpo humano no nível molecular”, divulgou a agência espacial estadunidense, na época.
Fontes: CNN Brasil, Mundo Estranho e Pesquisa Fapesp
Imagem de destaque: Nasa
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