IA substituindo jornalistas? Experiência nos EUA mostra que não

CNET esta passando por algumas dificuldades, além de seus problemas com os artigos publicados a relação com a equipe de marketing esta abusiva
Por Fernanda Lopes Soldateli, editado por Bruno Capozzi 02/02/2023 17h36
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O desenvolvimento tecnológico coloca algumas profissões em compasso de espera. Afinal, será que um dia os profissionais de uma determinada área serão substituídos por máquinas? Com nós, jornalistas, não é diferente. Pelo nosso bem – e sem clubismo nessa análise -, parece que ainda teremos nossos empregos por muito tempo. Em outubro de 2022, a Red Ventures, empresa de marketing controladora da CNET, realizou reuniões para discutir o software de escrita de inteligência artificial que estava sendo desenvolvido há meses. Porém, antes da tecnologia se tornar pública, ela já apresentava diversos problemas. 

Apesar de a ferramenta escrever mais rápido do que um humano, o tempo para editar o seu texto era bem maior. Além disso, frases saíam incorretas e a IA plagiava as linguagens das fontes em que era treinada.

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Os executivos da Red Ventures deixaram as falhas em evidência e, mesmo assim, o novo caminho para a CNET foi mantido. “Eles estavam bem cientes do fato de que a IA plagiava e alucinava”, lembra uma pessoa que participou da reunião e conversou com o portal The Verge sem se identificar. Aqui, cabe um parênteses: ferramentas de inteligência artificial tendem a inserir informações falsas nas respostas, conhecidas como alucinações. “Uma das coisas em que eles se concentraram quando desenvolveram o programa foi reduzir o plágio. Acho que não funcionou muito bem – concluiu essa mesma fonte, em condição de anonimato.”

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Créditos: maxuser/Shutterstock

Atualmente, a empresa já publicou 77 artigos feitos pela IA e mais da metade deles possui algum anexo de correção atrelado. A editora-chefe da CNET , Connie Guglielmo, a vice-presidente executiva de conteúdo e audiência, Lindsey Turrentine, e o vice-presidente de conteúdo da Red Ventures, Lance Davis, defendem a ferramenta, mas disseram que a empresa interromperia o uso“por agora.” 

Connie Guglielmo acrescentou que o uso do software estaria em espera até que eles conseguissem fazer a ferramenta “evitar erros humanos e de IA”, mas deixou claro de que ela não seria usada para redações.

“Espere que a CNET continue explorando e testando como a IA pode ser usada para ajudar nossas equipes enquanto realizam seus testes de trabalho, pesquisando e elaborando conselhos imparciais e relatórios baseados em fatos pelos quais somos conhecidos”. 

Os problemas não param por aí

A Red Ventures contratou uma equipe de editores digitais em 2010, o que fez com que os redatores do famoso portal de notícias de tecnologia tivesse que lutar pela sua independência editorial. 

Vários ex-funcionários contaram ao The Verge casos em que a equipe da CNET se sentiu pressionada a mudar histórias e críticas devido aos negócios da Red Ventures com anunciantes. Assim, o marketing de afiliados da Red Ventures começou a influenciar em toda a estratégia editorial. 

Repórteres e âncoras precisaram criar conteúdos patrocinados, deixando a equipe desconfortável com a linha tênue entre o editorial e as vendas. “Percebi que um supervisor insinuou em uma conversa que o modo como procedi com minha avaliação poderia afetar minhas chances de promoção no futuro – relatou uma fonte”.

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Crédito: Fagiani / The Verge

Este novo modelo de notícias é novidade para o site que está no ar há 25 anos. O portal é conhecido por suas coberturas completas e programas de análises abrangente, que examinam tudo, desde laptops e telefones até alto-falantes de estante e projetores domésticos. 

“A razão pela qual vim para a CNET  foi a oportunidade de poder dizer a verdade, não importa o que aconteça”, disse um ex-funcionário. 

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Fernanda Lopes Soldateli é redator(a) no Olhar Digital

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.