Polêmica na Rússia. Quer dizer, nem tanto – o governo não é um grande fã de questionamentos. Mas, na medida do possível, a população discute uma espécie de “1984” da vida real imposto pelo Kremlin. Moscou tem usado recursos de vigilância, como câmeras com inteligência artificial integrada, para controlar privativamente a população da cidade. Tudo isso sob o disfarce de uma “cidade inteligente“.

O sistema de segurança é composto por uma IA batizada de ”FindFace”, que permite identificar qualquer pessoa através do reconhecimento facial, com base nos dados governamentais sobre a população local.

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O governo russo aderiu a esse sistema e o batizou de ”Cidade Segura” (Safe City), com a prerrogativa de reduzir os índices de criminalidade:

  • Atualmente existem cerca de 160 mil de câmeras espalhadas pela cidade de Moscou
  • A capital se tornou a sétima cidade mais vigiada do mundo
  • Mesmo que moradores de cidades vizinhas aprovem essa medida imposta em Moscou, existe uma grande parcela de pessoas na capital defendendo a privacidade e questionando a forma com que a gestão de Vladimir Putin utiliza esse recurso.
  •  Nos últimos anos, câmeras de vigilância projetadas para capturar criminosos e terroristas foram usadas contra manifestantes, rivais políticos e jornalistas. 

Invasão russa na Ucrânia aumentou as ”medidas de segurança”

Após as declarações de guerra que partiram do atual líder político da Rússia, Vladimir Putin, a coleta de dados através das câmeras de segurança se intensificou drasticamente. Agora, o governo é capaz de controlar e impor decisões que invadem diretamente a vida privada dos cidadãos, sustentando a mesma justificativa de segurança.

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2016: O surgimento do FindFace

A empresa de tecnologia NTechLab foi fundada em 2015 e, no ano seguinte, apresentou o FindFace, que chamou atenção da imprensa global. No início, o recurso coletava imagens através de uma rede social local da Rússia, a VKontakte. Nos dois primeiros meses de lançamento, o aplicativo teve mais de 500 mil dowloads.

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Pouco depois disso, a NTechLab começou a vender o recurso para pequenas empresas e shopping centers, como formas de segurança privada.

Paralelo a isso, a empresa estava trabalhando de forma direta com o Departamento de Tecnologia de Moscou, encarregado de desenvolver a infraestrutura digital da cidade. Durante a Copa do Mundo de 2018, esse sistema estava conectado a 450 câmeras de segurança, que ajudaram na identificação de 180 pessoas que estavam sendo procuradas pela polícia.

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No início, o FindFace era utilizado pelo governo russo para encontrar pessoas procuradas, através de banco de dados e lista de observações. Esse sistema notifica quando um foragido é detectado em alguma parte da cidade e notifica a polícia local.

Após o sucesso na operação realizada durante a Copa, o Departamento de Transportes de Moscou lançou seu próprio sistema de vigilância, chamado de Sfera, em março de 2019. No mesmo ano, 3 mil das 160 mil câmeras da cidade já haviam sido habilitadas com a tecnologia de reconhecimento facial, de acordo com o ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev.

”Safe City”: muito além da NTechLab

A composição da “cidade inteligente” aplicada em Moscou vai muito além dos recursos de reconhecimento facial desenvolvidos pela NTechLab. Ela também conta com investimentos de empresas internacionais, como a Nvidia, Intel, Broadcom, Samsung, Hikvision, entre outras, além das companhias locais, responsáveis por desenvolver partes dos componentes do sistema.

Com o passar dos anos e os conflitos ideológicos das fabricantes com Vladimir Putin, a Nvidia e a Intel deixaram a Rússia em 2022. A NTechLab afirma não ter acesso aos dados das captações. Broadcom e Samsung também disseram que romperam negociações com o país pelo mesmo motivo.

Via: Wired

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