Até o final do Século XIX, as poucas mulheres que se destacaram na Astronomia, estavam sempre às sombras de seus maridos, pais ou irmãos. Podiam até ter contribuições importantes para a ciência, mas elas eram vistas como meras assistentes e dificilmente recebiam os créditos por seus méritos. Um exemplo desse fenômeno é a germano-britânica Caroline Herschel, uma das maiores astrônomas do seu tempo, e cujo reconhecimento tardou muito a chegar. 

[ Caroline Herschel em pintura de  Melchior Gommar Tieleman – Fonte: wikimedia.org ]

Caroline Lucretia Herschel nasceu em Hanover, na Alemanha, no dia 16 de março de 1750, em uma família de músicos. Aos 10 anos, ela contraiu tifo, o que acabou comprometendo seu crescimento e o seu futuro também. 

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Sabendo que Caroline não atingiria grande estatura quando adulta, seus pais achavam que ela nunca se casaria. De fato, ela não passou de 1,30m e nunca se casou, mas não por sua estatura e sim, porque ela se apaixonou por uma ciência: a Astronomia. 

William Herschel, seu irmão, havia se mudado para a Inglaterra onde começou a ganhar a vida como músico. E com a morte do pai, em 1772, Caroline foi morar com William. Lá ela assumiu as responsabilidades domésticas, aprendeu a cantar e começou a estudar Astronomia, algo que William também já havia se interessado alguns anos antes. 

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[ William Herschel, irmão de Caroline – Fonte: wikimedia.org ]

William trabalhava como organista e professor de música e sua irmã tornou-se vocalista. Mas a Astronomia foi ganhando cada vez mais espaço na vida de William e Caroline. Juntos eles construíram um telescópio e começaram a fazer observações sistemáticas do céu noturno. Era o começo do fim da carreira de dois músicos e o nascimento de dois dos grandes astrônomos que já tivemos. 

Caroline registrava e organizava as observações feitas pelo irmão, fazia os cálculos matemáticos dos registros e também copiava os catálogos astronômicos que ele pegava emprestado. Eles criaram um boletim para publicar os dados registrados nessas observações e em 13 de março de 1781, William fez uma descoberta que mudaria sua vida. 

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[ Caroline e William Herschel em suas observações astronômicas: Créditos: Paul Fouché ]

Ele percebeu a existência de um corpo que mudava de posição de uma noite para outra. Inicialmente, pensou que se tratava de um cometa, mas depois, percebeu-se que era um planeta além da órbita de Saturno. William Herschel deu a ele o nome de Georgium, em homenagem ao Rei George III, seu patrão. Mais tarde, o planeta passou a ser chamado de Urano.

A descoberta de Urano rendeu a William um emprego como astrônomo real no Observatório de Slough e também representou uma mudança de status para Caroline Herschel. Antes ela era vista como simples ajudante do seu irmão, e depois disso, passou a ser assistente oficial de William. Parece pouco, mas só a partir de então, Caroline passou a receber um salário por seu trabalho. Embora o salário não fosse grande coisa, foi o suficiente para torná-la a primeira astrônoma profissional de que se tem conhecimento.

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Foi a partir daí que Caroline passou a realizar as suas próprias observações. Durante suas horas de lazer, ela observava o céu com um pequeno telescópio e foi com esse equipamento que ela detectou vários objetos astronômicos, entre eles a galáxia elíptica M110, vizinha à Andrômeda.

Em 1786, ela também se tornou a primeira mulher a descobrir um cometa, o C/1786 P1 (Herschel), mas não parou por aí. Até 1797, ela descobriu 8 cometas, sendo que em 5 destes, Caroline foi considerada a principal descobridora.

[ Registros de Caroline Herschel da descoberta do cometa C/1786 P1 (Herschel) – Fonte: Royal Astronomical Society ]

Caroline Herschel também foi a principal responsável pela revisão do catálogo estelar de John Flamsteed, o primeiro astrônomo real da Inglaterra. Além de corrigir a posição de várias estrelas, o catálogo apresentado por ela na Royal Society em 1798 incluía outras 560 estrelas não catalogadas por Flamsteed.

Em 1822, com a morte de seu irmão William, ela voltou para Hanover, mas continuou a trabalhar como astrônoma. Lá, ela também se ocupou com a educação de seu sobrinho John Herschel, que também se tornou astrônomo. 

Mesmo tendo construído brilhantemente sua própria trajetória na Astronomia, Caroline Herschel era sempre vista como uma assistente do irmão. Mesmo com William fazendo questão de relatar que os dois trabalhavam juntos, cabia a ele todos os méritos de suas conquistas. Não fossem as descobertas realizadas em suas próprias observações, talvez até hoje não saberíamos de suas importantes contribuições para a Astronomia.

Caroline viveu em Hanover o resto de seus dias, mas pode receber ainda em vida, um pouco do reconhecimento da comunidade científica. Ela ganhou uma medalha da Astronomical Society of London por catalogar as nebulosas descobertas por seu irmão. Foi uma das primeiras mulheres eleitas para a Royal Astronomical Society da Inglaterra e se tornou membro honorário da Academia Real Irlandesa. 

E aos 96 anos de idade, também foi premiada pelo Rei da Prússia, com a Medalha de Ouro pela Ciência, em reconhecimento dos “seus valiosos serviços, descobertas, observações e cálculos”.

Caroline Herschel faleceu pouco depois, em 1848, aos 97 anos, deixando um exemplo de vida dedicada à Ciência. O asteroide 281 Lucretia e a cratera Caroline Herschel, na Lua, foram batizados em sua homenagem. E a mulher de baixa estatura, Caroline Lucretia Herschel, se tornou uma gigante para a Astronomia, e um exemplo para o mundo de que a Ciência é também, um lugar de mulher.