Hollywood está pronta para receber a Inteligência Artificial (IA)? Isso pode ser uma realidade em breve. O cineasta Chad Nelson levou cerca de uma semana para confeccionar milhares de fotos de criaturas peludas e cenários mágicos, como florestas, usando o gerador de imagens Dall-E. Agora, ele realizou o seu primeiro curta-metragem de animação usando exclusivamente a ferramenta.

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Curta-metragem

  • O filme dirigido por Nelson é Critterz; o curta de cinco minutos foi lançado online esta semana e apresenta criaturas fofas que habitam uma floresta imaginária.
  • O diretor não contou com IA para tudo: ele mesmo roteirizou o filme, contratou atores para dublar os personagens e animadores para dar vida às criaturas.
  • Segundo Nelson, normalmente uma equipe levaria seis meses para realizar o curta; com o Dall-E, da OpenAI, o processo foi mais rápido; ele não revelou o tempo exato levado para a produção.
  • O cineasta propôs a ideia à OpenAI em setembro do ano passado e a organização financiou Critterz; o valor doado não foi revelado.
  • Através da IA geradora do Dall-E, ele surgiu com a imagem inicial dos “monstros felpudos listrados com pequenos chifres espreitando sobre uma colina coberta de musgo em uma floresta enevoada, retroiluminado”.
  • Apesar das imagens terem sido criadas pela IA, a ferramenta não gera vídeos com qualidade profissional e Nelson afirmou que não podia confiar a criação do filme a ela sozinha.
  • Então, o diretor firmou uma parceria com a produtora Native Foreign para a animação profissional dos personagens criados artificialmente.
  • Ele também contou com a ajuda do seu filho de 21 anos, que programou uma ferramenta de movimento 3D, a Unreal Engine, para animar os rostos das criaturas.

Quando o filme foi lançado, a OpenAI defendeu que este é um exemplo de como a IA democratizará Hollywood.

Critterz é um exemplo vibrante de como os artistas podem usar ferramentas de IA para revelar ideias que antes estavam fora de alcance por causa do orçamento, tempo ou recursos.

Natalie Summers, profissional de comunicação da OpenAI, em comunicado
Personagem de Critterz criado por IA (Foto: Chad Nelson/Native Foreign)

Veja o filme:

Reação de Hollywood

Cineastas e estúdios independentes foram os primeiros a adotar ferramentas de IA generativa, para a criação de textos, imagens e vídeos com base em dados online.

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A possibilidade economiza tempo e recursos e já foi usada para, por exemplo, para fazer Harrison Ford parecer mais jovem em Indiana Jones ou dar voz a Val Kilmer em Top Gun: Maverick.

Hollywood, porém, ainda tem ressalvas com a adoção da tecnologia.

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Chad Nelson animando o rosto do personagem gerado pela IA do Dall-E (Foto: Chad Nelson/Native Foreign)

Apreensão da indústria

  • Um relatório do Goldman Sachs, do final de março, afirma que IA geradora poderia desbalancear a economia global e automatizar 300 milhões de empregos.
  • O Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas dos Estados Unidos, trava negociações quanto ao uso da IA na escrita de roteiros.
  • A negociação passa por questões de direitos autorais, propriedade intelectual, consentimento e negociações contratuais, segundo advogados e especialistas em mídia.
  • O sindicato declarou que o trabalho feito pela IA não pode ser considerado material “fonte” ou “literário”, duas disposições essenciais que determinam a forma como o crédito é dado aos roteiristas e define os pagamentos.
  • Além disso, IAs como o ChatGPT e o Dell-E, usado no filme Critterz, coleta dados da internet, que contêm propriedade intelectual, já que usa imagens de outros artistas.

O WGA se pronunciou em uma thread no Twitter:

As empresas não podem usar IA para minar os padrões de trabalho dos escritores, incluindo remuneração, resíduos, direitos separados e créditos.

Writers Guild of America

O ator Keanu Reeves foi outros dos que pronunciou: ele disse que a IA geradora é “assustadora” e que pode ser uma maneira de executivos não pagarem os artistas corretamente.

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Empregos afetados?

Muitos estúdios de Hollywood veem a IA como uma forma de simplificar o processo de produção e cortar custos ao fazer filmes.

Atualmente, a questão é quão amplamente as ferramentas são adotadas. Apesar de já ser usada, agora as produções são muito mais realistas e, segundo Joshua Glick, estudioso de cinema e mídia do Bard College, estão disponíveis para “pessoas comuns”.

Na China, a IA já tirou empregos de ilustradores de videogames em favor de um software que pode animar imagens em segundos, como mostra um relatório do Rest of World.

Para Chad Nelson, é provável que a IA elimine alguns empregos em Hollywood, mas crie outros.

Existem alguns empregos que podem simplesmente desaparecer completamente. Pode haver alguma dor, mas apesar de tudo, acho que haverá mais oportunidades.

Chad Nelson
Personagem de Critterz criado por IA (Foto: Chad Nelson/Native Foreign)

Passos lentos

Para Ryan Meyer, especialista em direitos autorais e advogado da Dorsey & Whitney, apesar do apelo, Hollywood ainda deve ir devagar na adoção da IA, justamente pelos possíveis entraves judiciais.

Sempre haverá adotantes iniciais. Mas acho que [Hollywood] levará as coisas bem devagar até que tenham mais informações dos tribunais.

Ryan Meyer

Com informações de The Washington Post

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