Fundador da Microsoft, filantropo e investidor, o bilionário Bill Gates está em Kemmerer, no estado norte-americano de Wyoming, para celebrar o último passo de um projeto que está há mais de 15 anos em construção: uma usina nuclear de próxima geração.

“Estou emocionado por estar aqui depois de todo esse tempo – porque estou convencido de que a instalação será uma vitória para a economia local, a independência energética dos EUA e a luta contra as mudanças climáticas”, disse Gates em seu blog Gates Notes.

Bill Gates sentado durante evento
Bill Gates financia usina nuclear de próxima geração. Crédito: World Economic Forum/Wikimedia Commons

Segundo o artigo, o projeto se chama Natrium e foi desenhado pela TerraPower, uma empresa fundada pelo bilionário em 2008 e da qual é presidente. 

Quando for inaugurada (potencialmente em 2030), será a instalação nuclear mais avançada do mundo. Será muito mais segura e produzirá muito menos resíduos do que os reatores convencionais

Bill Gates sobre a usina nuclear Natrium

Embora afirme que “nenhuma das outras fontes de energia limpa é tão confiável, e nenhuma das outras fontes confiáveis é tão limpa”, Gates destaca que a energia nuclear tem seus problemas: 

publicidade
  • São caras de construir;
  • Qualquer erro humano pode causar acidentes;
  • À medida que se descarta o uso dos combustíveis fósseis, há o risco de comprometer as comunidades e os trabalhadores que fornecem energia confiável há décadas.

No entanto, a instalação Natrium, segundo ele, foi projetada para resolver esses adversidades.

Usina nuclear Natrium promete maior segurança

“Tenha em mente que a frota atual de usinas nucleares dos EUA opera com segurança há décadas – na verdade, em termos de vidas perdidas, a energia nuclear é de longe a maneira mais segura de produzir energia”, disse Gates. “E esta nova instalação em Kemmerer será ainda melhor”.

Como outras usinas, ela usa calor para transformar água em vapor, que move uma turbina, gerando eletricidade. E o calor é gerado dividindo os átomos de urânio em uma reação em cadeia. “Mas é aí que as semelhanças param”, aponta o bilionário.

Um reator típico mantém a reação nuclear de divisão de átomos sob controle, circulando água ao redor de um núcleo de urânio. No entanto, usar a água como refrigerador apresenta dois desafios. 

“Primeiro, a água não é muito boa em absorver calor – ela se transforma em vapor e para de absorver calor a apenas 100ºC”, explica. “Em segundo lugar, à medida que a água esquenta, sua pressão aumenta, o que sobrecarrega os canos e outros equipamentos. Se houver uma emergência – digamos, um terremoto corta toda a eletricidade da usina e você não pode continuar bombeando água – o núcleo continua a produzir calor, aumentando a pressão e potencialmente causando uma explosão”.

Em comparação, os metais líquidos podem absorver uma quantidade imensa de calor, mantendo uma pressão consistente. Gates explica que, nesse sentido, a planta de Natrium usa sódio líquido, cujo ponto de ebulição é mais de oito vezes maior do que o da água, para que possa absorver todo o calor extra gerado no núcleo nuclear. 

“Ao contrário da água, o sódio não precisa ser bombeado, porque à medida que esquenta, sobe e, à medida que sobe, esfria. Mesmo que a planta perca energia, o sódio continua absorvendo calor sem chegar a uma temperatura perigosa que causaria um colapso”, descreve o empresário.

Controle da quantidade de eletricidade produzida

A segurança não é a única razão pela qual Gates se diz animado com o design da Natrium. Isso também se deve a um sistema de armazenamento de energia que permitirá à usina controlar a quantidade de eletricidade que produz a qualquer momento. “Isso é único entre os reatores nucleares, e é essencial para a integração com redes de energia que usam fontes variáveis, como solar e eólica”, garante.

Outro diferencial está no processo de design digital da TerraPower. Usando supercomputadores, os cientistas da empresa testaram digitalmente a configuração da Natrium diversas vezes, simulando todos os desastres imagináveis.

Leia mais:

“O trabalho sofisticado da TerraPower atraiu interesse de todo o mundo, incluindo um acordo para colaborar em tecnologia de energia nuclear no Japão e investimentos do conglomerado sul-coreano SK e da empresa siderúrgica multinacional ArcelorMittal”, revelou Gates.

O empresário pretende conversar com o prefeito de Kemmerer, lideranças locais e membros da comunidade para agradecer por seus esforços. Segundo Gates, a cidade tem um interesse particular no sucesso da instalação de Natrum: a usina de carvão que opera no local há mais de 50 anos está programada para fechar. “Se não fosse a fábrica de Natrium, os cerca de 110 trabalhadores de lá perderiam seus empregos”.

Ele afirma que todos os funcionários da usina de carvão serão empregados nas instalações do Natrium, se quiserem. “A nova usina empregará entre 200 e 250 pessoas, e aqueles com experiência na usina a carvão poderão fazer muitos dos trabalhos – como operar uma turbina e manter conexões com a rede elétrica – sem muita reciclagem”.

As obras de instalação levarão vários anos, segundo Gates, e devem gerar 1.600 empregos na área de construção para a cidade. “Todos esses trabalhadores da construção civil precisarão de comida, moradia e entretenimento. Portanto, será um grande impulso para a comunidade”.

Por fim, o empresário destaca que o mais importante do projeto é o que ele significa para o futuro. “É o tipo de esforço que ajudará os EUA a manter sua independência energética. E ajudará nosso país a permanecer líder em inovação energética em todo o mundo”.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!