Nas montanhas de Utah, no oeste dos EUA, há um imenso bosque de álamos trêmulos (árvores de folhas pequenas e caules grossos esbranquiçados, conhecidas como Aspen, que balançam com o vento). Ocorre que, na verdade, aquele mundo de 47 mil troncos chamado Pando, que se estende por quase 430 km, é uma única árvore – o maior e mais velho ser vivo do mundo.

Agora, um projeto conseguiu captar um retrato acústico desse impressionante organismo, a “floresta de uma árvore só” que sustenta todo um ecossistema do qual 68 espécies de plantas e animais dependem há cerca de 80 mil anos. (Saiba mais sobre o Pando aqui).

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Vista aérea do Pando, o maior e mais antigo ser vivo do mundo. Crédito: Lance Oditt/Amigos do Pando

Intitulada “Debaixo da árvore: os sons de um gigante trêmulo”, a pesquisa foi apresentada nesta quarta-feira (10) no 184º Encontro da Sociedade Acústica da América, em Chicago, nos EUA.

“Pando desafia nossa compreensão básica do mundo”, disse o jornalista e artista sonoro Jeff Rice, um dos autores do estudo. “A ideia de que essa floresta gigante é um único organismo desafia nosso conceito de indivíduo. Sua vastidão humilha nosso senso de espaço”.

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Som pode medir a saúde do ser vivo mais velho do mundo

Depois de gravar as folhas de Pando para o encarte “Ouça o Mundo”, da The New York Times Magazine em 2018, Rice voltou ao local em julho de 2022 como artista residente do grupo sem fins lucrativos “Amigos do Pando”, fundado pelo fotógrafo Lance Oditt em 2019.

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Pando sobreviveu a doenças, caça e colonização. Crédito: Lance Oditt / Amigos do Pando

“Os sons são bonitos e interessantes, mas do ponto de vista prático, eles podem ser usados para documentar a saúde de um ambiente”, disse o artista. “Eles são um registro da biodiversidade local e fornecem uma linha de base que pode ser medida em relação às mudanças ambientais”.

Rice foi particularmente cativado pelo som das vibrações que passavam pela árvore durante um vendaval. Usando hidrofones, ele conseguiu gravar o som do sistema radicular de Pando, que pode atingir até 28 metros de profundidade, segundo alguns relatos. Oditt identificou vários locais potenciais de gravação abaixo da superfície.

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“Os hidrofones não precisam apenas de água para funcionar”, disse Rice. “Eles também podem captar vibrações de superfícies como raízes e, quando coloquei meus fones de ouvido, fiquei instantaneamente surpreso. Algo estava acontecendo”.

Segundo ele, ainda não é conclusivo que o som (que você consegue ouvir aqui) seja mesmo da raiz de Pando. Mas uma variedade de experimentos sustenta a ideia. 

Telefone de latas

O trabalho foi capaz de mostrar que as vibrações podem passar de “árvore” em “árvore” (ou de ramificação em ramificação) através do solo. 

Quando bateram levemente em um galho a 90 metros de distância, o hidrofone registrou com um baque baixo. Rice compara isso ao clássico telefone de lata. “É semelhante a duas latas conectadas por uma corda”, disse ele. “Só que são 47 mil latas conectadas por um enorme sistema radicular”.

Resultado obtido se assemelha à brincadeira de telefone feito com duas latas conectadas por uma corda. Crédito: Robert Kneschke – Shutterstock

Um fenômeno semelhante ocorreu durante uma tempestade. À medida que as folhas se moviam mais intensamente com o vento, o sinal registrado pelo hidrofone também aumentava.

“As descobertas são tentadoras. Embora tenha começado como arte, vemos um enorme potencial para uso na ciência. O vento, convertido em vibração (som) e viajando pelo sistema radicular, também poderia revelar o funcionamento interno do vasto sistema hidráulico oculto de Pando de maneira não destrutiva”, disse Oditt. 

O artista revelou que a organização Amigos do Pando planeja usar os dados coletados como base para estudos adicionais sobre o movimento da água, como as matrizes de galhos estão relacionadas entre si, colônias de insetos e profundidade das raízes, sobre as quais pouco se sabe atualmente.

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