Um pesquisador e teórico da Universidade de Toronto descobriu que o cérebro humano está praticamente programado para acreditar em mentiras e teorias da conspiração. No entanto, isso vai muito além de crenças, como imaginamos, mas tem a ver com as reações cerebrais e pode causar comportamentos preocupantes.

A descoberta

  • Na obra “Política, Mentiras e Teorias da Conspiração”, o professor de semiótica da Universidade de Toronto, Marcel Danesi, analisou discursos de ditadores, como Mussolini e Hitler, e grupos que promovem mensagens de ódio;
  • Ele percebeu que todos eles atacam minorias, como grupos raciais, de gênero e de diferentes orientações sexuais, e sempre usam metáforas desumanas para propagar ódio;
  • Para Danesi, palavras usadas por eles, como “pragas”, “répteis” e “parasitas” foram utilizadas para desumanizar seres humanos durante o nazismo. Já em manifestação de supremacia branca, os participantes gritavam contra “vermes brancos” e “sujeira branca”;
  • Com a ascensão dos movimentos populistas e de extrema-direita, esses discursos se espalharam e foram normalizados. Em 2016, por exemplo, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, chamou refugiados e imigrantes de “veneno”.

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Segundo pesquisa, grupos de ódio incitam pessoas com o uso de metáforas e comparações desumanizadoras (Imagem: Oleksii Synelnykov/Shutterstock)

Cérebro humano vs. mentiras

A pesquisa de Danesi mostrou que essas metáforas são tão poderosas e chamativas que “ligam” circuito no cérebro humano, que conecta ideias a imagens (ou vice-e-versa).

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O efeito é que as pessoas que escutam esses discursos tendem a se concentrar em processar a metáfora e ignorar outros fatores, como a mensagem como um todo.

Segundo Danesi, uma vez ativados, esses circuitos são quase impossíveis de desativar e as pessoas que acreditam nele, pelo menos a princípio, desenvolvem caminhos neurais para justificá-los.

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Teorias da conspiração

O mesmo vale para as teorias da conspiração. Ao focarem em processar essas mentiras, os receptores enrijecem a ideia passada por elas.

Dessa forma, eles raramente repensam o que foi dito, mesmo quando confrontados com evidências que deslegitimam a ideia.

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Quando nos deparamos com grande mentira ou teoria da conspiração, isso pode moldar nossas ideias sem que percebamos. Ao sermos expostos a metáforas específicas, podemos desenvolver sentimentos hostis em relação a grupos específicos – é por isso que grupos de ódio usam metáforas para ligar os interruptores, de modo a motivar as pessoas ao ativismo violento.

Marcel Danesi

Proposta do pesquisador vale pare mentiras no geral, mas também para teorias da conspiração (Imagem: Shutterstock)

Consequências e soluções

  • Como consequência, as pessoas começam a procurar ideias que legitimam seu pensamento violento e dificilmente mudam de ideia;
  • Segundo ele, isso causa comportamentos nocivos, como incitar a violência ou o genocídio a grupos minoritários;
  • Como solução, Danesi indica que podemos tentar entender a outra parte da metáfora e examiná-la, ao invés de assimilar como verdade;
  • Porém, para ele, o cérebro humano está condicionado a tomar as mentiras como verdades e dificilmente será possível escapar disso.

Com informações de Phys.org

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