Cérebro humano está programado para acreditar em teorias da conspiração, diz pesquisador

Pesquisa analisou discursos de ódio para entender efeito das metáforas desumanizadoras no cérebro humano
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Rodrigo Mozelli 30/06/2023 06h00
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Imagem: Shutterstock
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Um pesquisador e teórico da Universidade de Toronto descobriu que o cérebro humano está praticamente programado para acreditar em mentiras e teorias da conspiração. No entanto, isso vai muito além de crenças, como imaginamos, mas tem a ver com as reações cerebrais e pode causar comportamentos preocupantes.

A descoberta

  • Na obra “Política, Mentiras e Teorias da Conspiração”, o professor de semiótica da Universidade de Toronto, Marcel Danesi, analisou discursos de ditadores, como Mussolini e Hitler, e grupos que promovem mensagens de ódio;
  • Ele percebeu que todos eles atacam minorias, como grupos raciais, de gênero e de diferentes orientações sexuais, e sempre usam metáforas desumanas para propagar ódio;
  • Para Danesi, palavras usadas por eles, como “pragas”, “répteis” e “parasitas” foram utilizadas para desumanizar seres humanos durante o nazismo. Já em manifestação de supremacia branca, os participantes gritavam contra “vermes brancos” e “sujeira branca”;
  • Com a ascensão dos movimentos populistas e de extrema-direita, esses discursos se espalharam e foram normalizados. Em 2016, por exemplo, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, chamou refugiados e imigrantes de “veneno”.

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Segundo pesquisa, grupos de ódio incitam pessoas com o uso de metáforas e comparações desumanizadoras (Imagem: Oleksii Synelnykov/Shutterstock)

Cérebro humano vs. mentiras

A pesquisa de Danesi mostrou que essas metáforas são tão poderosas e chamativas que “ligam” circuito no cérebro humano, que conecta ideias a imagens (ou vice-e-versa).

O efeito é que as pessoas que escutam esses discursos tendem a se concentrar em processar a metáfora e ignorar outros fatores, como a mensagem como um todo.

Segundo Danesi, uma vez ativados, esses circuitos são quase impossíveis de desativar e as pessoas que acreditam nele, pelo menos a princípio, desenvolvem caminhos neurais para justificá-los.

Teorias da conspiração

O mesmo vale para as teorias da conspiração. Ao focarem em processar essas mentiras, os receptores enrijecem a ideia passada por elas.

Dessa forma, eles raramente repensam o que foi dito, mesmo quando confrontados com evidências que deslegitimam a ideia.

Quando nos deparamos com grande mentira ou teoria da conspiração, isso pode moldar nossas ideias sem que percebamos. Ao sermos expostos a metáforas específicas, podemos desenvolver sentimentos hostis em relação a grupos específicos – é por isso que grupos de ódio usam metáforas para ligar os interruptores, de modo a motivar as pessoas ao ativismo violento.

Marcel Danesi

Proposta do pesquisador vale pare mentiras no geral, mas também para teorias da conspiração (Imagem: Shutterstock)

Consequências e soluções

  • Como consequência, as pessoas começam a procurar ideias que legitimam seu pensamento violento e dificilmente mudam de ideia;
  • Segundo ele, isso causa comportamentos nocivos, como incitar a violência ou o genocídio a grupos minoritários;
  • Como solução, Danesi indica que podemos tentar entender a outra parte da metáfora e examiná-la, ao invés de assimilar como verdade;
  • Porém, para ele, o cérebro humano está condicionado a tomar as mentiras como verdades e dificilmente será possível escapar disso.

Com informações de Phys.org

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Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.