Nosso planeta está sendo tomado por um malfeitor belo e reluzente – e não estamos falando de nenhum novo vilão sedutor dos cinemas. O inimigo é real e vive muito mais próximo do que você pensa. Nas nossas roupas, em acessórios ou itens de decoração, lá está ele: o glitter. 

Esse material (muito presente em atividades escolares infantis e nas festas de Carnaval, por exemplo) é composto por microplásticos teimosos que se recusam a se decompor e estão se infiltrando em nossos rios e oceanos, deixando um rastro de brilho – e destruição – por onde passam.

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Sabe aquela pessoa inconveniente que faz um grande alvoroço ao entrar em uma festa, mas que, na verdade, causa mais problemas do que diversão? O glitter é como se fosse o penetra sem noção do ecossistema aquático. 

Cientistas não apenas questionam sua presença, como pedem que ele seja expulso do salão, com proibição de acesso. Ou seja: que a fabricação, a comercialização e o uso do glitter não sejam mais permitidos.

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Pesquisadores da Universidade de São Paulo investigaram os efeitos de cinco concentrações de glitter em duas cepas de cianobactérias. Eles argumentam que o uso do material em maquiagens, fantasias de festa e decorações deve ser repensado. Crédito: CENA/USP via Fapesp

Estrago causado pelo glitter é maior que o brilho

Como suas partículas são pequenas demais para serem captadas pelos filtros durante o tratamento de águas residuais, elas estão se infiltrando sorrateiramente em nossas águas. A bela aparência é apenas uma cortina de fumaça para os estragos que estão causando nas vidas subaquáticas.

A vítima mais recente desses invasores são as cianobactérias, ou, como são popularmente conhecidas, algas azul-esverdeadas. Esses microorganismos, que desempenham papéis cruciais nos ecossistemas aquáticos, estão enfrentando uma verdadeira crise por causa do glitter. 

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Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (CENA/USP) decidiram investigar como exatamente esse “malvado favorito” dos festeiros afeta o crescimento das cianobactérias – e os resultados estão descritos em um artigo publicado recentemente na revista Aquatic Toxicology.

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Fotossíntese comprometida

Em um experimento que durou 21 dias, os cientistas monitoraram o crescimento de duas linhagens de cianobactérias em cinco concentrações diferentes de glitter. A cada três dias, eles acionavam sua “espectrofotometria” – uma espécie de holofote científico que mede o crescimento celular. 

Eles notaram que ambas as linhagens estavam claramente sentindo os efeitos negativos das partículas brilhantes. O glitter não apenas diminuiu a taxa de crescimento, mas também fez as células se aglomerarem mais, como se estivessem em um estado constante de pânico.

“Descobrimos que o aumento do glitter levou as cianobactérias a um nível de estresse que até prejudicou sua fotossíntese”, revelou o agrônomo Maurício Junior Machado, líder da investigação, em um comunicado.

Assim como as plantas, esses microorganismos dependem da fotossíntese para sua energia, e se isso é afetado, eles estão prestes a entrar em colapso.

Os autores torcem para que esse estudo chame a atenção das autoridades e do público em geral. “O glitter pode até estar brilhando nas festas, mas está causando uma ressaca ambiental séria”, brincou uma das coautoras do artigo, a professora-doutora Marli de Fátima Fiore. 

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