Butantan identifica molécula capaz de combater superbactérias

A Doderlina não é tóxica e tem potencial para se tornar um novo antibiótico e ajudar a combater superbactérias
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 02/10/2023 11h06, atualizada em 04/10/2023 20h58
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Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, recentemente, que o ritmo de pesquisa, produção e comercialização de novos antibióticos pode não dar conta de barrar o avanço das superbactérias. Esse é considerado um dos principais desafios de saúde pública do mundo e projeções indicam que terá um impacto econômico global de US$ 100 trilhões, cerca de R$ 500 trilhões, até 2050. Mas uma descoberta de pesquisadores do Instituto Butantan pode auxiliar a combater essas superbactérias.

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Doderlina

  • Os pesquisadores conseguiram identificar e sintetizar uma molécula, batizada de Doderlina, que apresentou atividade antimicrobiana contra diferentes bactérias e fungos.
  • Extraído da Lactobacillus acidophilus, bactéria que habita a microbiota humana, o composto não é tóxico e tem potencial para se tornar um novo antibiótico no futuro e ajudar a combater infecções resistentes.
  • O estudo foi publicado na revista Research in Microbiology.

Eficácia da molécula contra superbactérias

A resistência antimicrobiana tem como principal causa o uso indiscriminado de antibióticos. Por ano, 1,2 milhão de mortes são causadas por bactérias resistentes, e quase 5 milhões de óbitos estão indiretamente associados à elas.

Em testes realizados em laboratório, a Doderlina combateu bactérias que já foram amplamente relatadas como microrganismos multirresistentes, como a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa. A primeira está associada ao trato gastrointestinal e urinário e à meningite neonatal, e a segunda pode causar infecções pulmonares e gastrointestinais.

O composto também se mostrou eficaz contra o fungo Candida albicans, causador da candidíase e conhecido pela capacidade de provocar infecções recorrentes. A infecção é uma das mais comuns em pessoas imunossuprimidas, e algumas cepas têm apresentado resistência contra o antifúngico padrão.

Apesar dos avanços, não há previsão de quando um potencial medicamento poderia ser disponibilizado no mercado.

Agora, precisamos encontrar parceiros para desenvolver os testes e, em caso de resultados positivos, avançar à fase de testes clínicos

Pedro Ismael da Silva Junior, pesquisador do Instituto Butantan
Descoberta pode auxiliar na criação de novos antibióticos (Imagem: Fahroni/Shutterstock)

Próximos passos

Segundo os pesquisadores do Butantan, a molécula poderia ser utilizada tanto na indústria farmacêutica, para o desenvolvimento de medicamentos, como na indústria alimentícia, para evitar contaminação e tratar animais infectados.

Os peptídeos antimicrobianos são compostos sintetizados por todas as formas de vida, com o objetivo de se proteger de ameaças e aumentar sua competitividade para sobreviver em um ambiente específico.

Pedro Ismael, coordenador do estudo

Agora, serão analisadas quais partes da sequência da molécula são mais relevantes para que a ação terapêutica aconteça. Para isso, é necessário fragmentar a Doderlina, sintetizando e avaliando a atividade e a toxicidade desses fragmentos separadamente. O objetivo é deixar a molécula menor e, consequentemente, mais barata, mais eficaz e mais segura para o uso em possíveis novos tratamentos contra superbactérias.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.