Um time internacional de astrônomos descobriu um estouro remoto de ondas de rádio cósmicas que durou menos de um milissegundo. Esta é a “rajada rápida de rádio” (FRB) mais distante já detectada.

O que você vai ler aqui:

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  • Equipe internacional de pesquisadores detecta uma rajada rápida de rádio (FRB) que levou 8 bilhões de anos para chegar à Terra;
  • Esse é o mais distante evento deste tipo já observado;
  • O estouro durou apenas uma fração minúscula de segundo;
  • Isso foi o suficiente para gerar uma quantidade de energia equivalente à emissão total do Sol em 30 anos;
  • Não se sabe o que causa dessas explosões, que são fundamentais para medir a massa do Universo.

A fonte do misterioso fenômeno foi localizada pelo Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO) em uma galáxia tão distante que sua luz levou oito bilhões de anos para chegar à Terra. Esta FRB também é uma das mais potentes já observadas, liberando em uma fração minúscula de segundo uma quantidade de energia equivalente à emissão total do nosso Sol ao longo de 30 anos.

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A descoberta do estouro em si, chamado de FRB 20220610A, foi feita em junho do ano passado pelo radiotelescópio Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP) e superou o recorde anterior da equipe em 50% de distância.

“Usando a rede de antenas do ASKAP, conseguimos determinar precisamente de onde veio a rajada”, disse Stuart Ryder, astrônomo da Universidade Macquarie, na Austrália, e coautor do estudo, publicado nesta quinta-feira (19) na revista Science.

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Os métodos atuais de estimativa da massa do Universo estão fornecendo respostas conflitantes e desafiando o modelo padrão de cosmologia. Segundo o artigo, a descoberta confirma que as FRBs podem ser usadas para medir a “matéria perdida” entre as galáxias, oferecendo nova forma de “pesar” o Universo.

“Se contarmos a quantidade de matéria normal no universo – os átomos dos quais todos somos feitos – descobrimos que mais da metade do que deveria estar presente hoje está faltando”, diz Ryan Shannon, professor da Universidade de Tecnologia de Swinburne, um dos líderes da pesquisa.

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Pensamos que a matéria perdida está escondida no espaço entre as galáxias, mas ela pode ser tão quente e difusa que é impossível de ver usando técnicas normais. As rajadas rápidas de rádio detectam esse material ionizado. Mesmo no espaço, que é praticamente vazio, eles podem ‘ver’ todos os elétrons, e isso nos permite medir a quantidade de material entre as galáxias.

Ryan Shannon, professor da Universidade de Tecnologia de Swinburne

O uso de FRBs distantes para medir com precisão a matéria perdida do Universo foi demonstrado pelo falecido astrônomo australiano Jean-Pierre Macquart em 2020. Ele descobriu que, quanto mais distante uma FRB está, mais gás difuso ela revela entre as galáxias.

Segundo Ryder, isso, agora, é conhecido como relação de Macquart. “Algumas rajadas rápidas de rádio recentes pareciam quebrar essa relação. Nossas medições confirmam que a relação de Macquart se mantém até além da metade do Universo conhecido”.

Causa das rajadas rápidas de rádio ainda é desconhecida

Embora ainda não se saiba o que causa essas explosões massivas de energia, o estudo confirma que as FRBs são eventos comuns no cosmos e que os pesquisadores podem usá-las para detectar matéria entre galáxias e entender melhor a estrutura do Universo.

O achado representa o limite do que é alcançável com os telescópios atuais. No entanto, em breve, os astrônomos terão ferramentas para detectar estouros ainda mais antigos e distantes, identificar suas galáxias de origem e medir a matéria perdida.

Projetado na década de 1990 e com a construção iniciada em dezembro de 2022, o radiotelescópio transcontinental Square Kilometer Array (SKA) será a maior rede de telescópios do mundo capaz de captar ondas de rádio. 

Quando estiver concluído, o SKA estará espalhado pela Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e outros países africanos, como Moçambique.

Além disso, o Extremely Large Telescope (ELT), de 39 metros, do ESO, que está sendo construído no Deserto do Atacama (Chile), será um dos poucos telescópios capazes de estudar as galáxias fontes de rajadas ainda mais distantes do que a FRB 20220610A.