As estruturas corporais de alguns animais ainda intrigam a ciência. É o caso da espécie Tripedalia cystophora, cubomedusas que habitam a região do Caribe e que se distinguem das verdadeiras águas-vivas em razão dos 24 olhos que compõem seu sistema visual complexo. Outra marca desses seres vivo é que eles não têm cérebro. Mesmo assim, os animais podem aprender, de acordo com um artigo publicado por pesquisadores na Current Biology.

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Evolução da aprendizagem

  • Sem cérebro, a Tripedalia cystophora controla seu corpo a partir de uma rede de neurônios.
  • Como a linhagem das cubomedusas se separou das demais águas-vivas no início da história evolutiva, os pesquisadores acreditam que entender suas habilidades cognitivas poderia ajudar a rastrear a evolução da aprendizagem.
  • Para isso, os cientistas precisaram determinar o comportamento desses animais, para que pudessem ser treinados em laboratório.
  • As informações são da Folha de São Paulo.
(Imagem: viper345/Shutterstock)

Águas-vivas mudaram seu comportamento

A equipe de pesquisadores decidiu focar em uma rápida mudança de direção que as cubomedusas executam quando estão prestes a colidir em uma raiz de mangue. Esses obstáculos se elevam pela água e a turbidez gerada, que varia dependendo do dia, torna difícil saber qual a verdadeira posição dessa raiz. Por isso, os cientistas queriam entender como os animais conseguem saber quando estão prestes a se chocar com ela.

A hipótese era que elas precisam aprender isso. Quando elas voltam para esses habitats, elas têm que aprender: como está a qualidade da água hoje? Como o contraste está mudando hoje?

Anders Garm, biólogo da Universidade de Copenhague e autor do artigo

No laboratório, os pesquisadores produziram imagens de listras alternadas escuras e claras, representando as raízes de mangue e a água, e as usaram para revestir o interior de baldes com cerca de seis polegadas de largura. Quando as listras eram um preto e branco contrastante, representando uma clareza ótima da água, as cubomedusas nunca chegavam perto das paredes do balde. No entanto, com menos contraste entre as listras, elas imediatamente começaram a colidir com elas.

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Após algumas colisões, as cubomedusas mudaram seu comportamento. Menos de oito minutos após chegarem ao balde, elas estavam nadando a uma distância 50% maior do padrão nas paredes e quase quadruplicaram o número de vezes que realizaram sua manobra de meia-volta.

Além disso, os pesquisadores removeram neurônios visuais das cubomedusas e os estudaram em uma placa. As células foram expostas a imagens listradas enquanto recebiam um pequeno pulso elétrico para representar a colisão. Em cerca de cinco minutos, as células começaram a enviar o sinal que faria uma cubomedusa inteira se virar.

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Os resultados sugerem que as cubomedusas possuem algum nível de memória de curto prazo, pois podem mudar seu comportamento com base em experiências passadas. A pergunta agora é: por quanto tempo elas se lembram do que aprenderam? Se forem retiradas do tanque por uma hora e depois retornarem, elas precisam aprender tudo de novo?

Os pesquisadores esperam identificar quais células específicas controlam a capacidade das cubomedusas de aprender com a experiência. E também querem determinar se essa capacidade de aprender foi uma das razões pelas quais os animais continuam vivos até hoje.