Queima de lixo espacial está poluindo a atmosfera da Terra

Segundo pesquisadores, as substâncias são de satélites que queimam na atmosfera no final das missões e podem impactar o clima da Terra
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 23/10/2023 02h00, atualizada em 25/10/2023 21h07
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Uma hipótese levantada por cientistas há anos agora se tornou realidade. Uma equipe de pesquisadores detectou a presença de poluentes provenientes da queima de lixo espacial na atmosfera da Terra. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

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Poluição da atmosfera

  • A equipe de pesquisadores detectou a poluição sobre o Alasca através de aviões da Nasa.
  • Sensores instalados nessas aeronaves analisaram os compostos químicos diluídos no ar estratosférico, que está fora do alcance das fontes de poluição do ar baseadas na Terra.
  • Os cientistas encontraram vestígios de lítio, alumínio, cobre e chumbo no ar amostrado.
  • As concentrações detectadas desses compostos foram muito maiores do que as que poderiam ser causadas por fontes naturais, como a evaporação de poeira cósmica e meteoritos ao se encontrarem com a atmosfera.
  • As informações são da Space.com.
Lixo espacial (Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock)

Queima de lixo espacial proveniente de satélites

Segundo os pesquisadores, as concentrações identificadas desses poluentes refletiram exatamente a proporção de compostos químicos presentes nas ligas usadas na fabricação de satélites.

Estamos encontrando esse material feito pelo homem no que consideramos uma área intocada da atmosfera. E se algo está mudando na estratosfera – essa região estável da atmosfera – isso merece um olhar mais atento.

Dan Cziczo, professor de ciências da Terra, atmosféricas e planetárias da Universidade de Purdue, um dos autores do estudo

Nos últimos anos, cientistas têm alertado sobre os possíveis efeitos do aumento do número de lançamentos de foguetes e reentradas de satélites nas camadas superiores da atmosfera da Terra.

Por exemplo, o óxido de alumínio, um produto da queima de ligas à base de alumínio, é conhecido por sua capacidade de destruir o ozônio. Coincidentemente, a camada de ozônio da Terra, que protege a vida no planeta da radiação ultravioleta (UV) nociva, reside na estratosfera, onde os poluentes foram encontrados.

Além disso, as partículas de óxido de alumínio podem alterar o albedo da Terra, a capacidade do planeta de refletir a luz. Concentrações muito altas de óxidos de alumínio na estratosfera poderiam, portanto, levar a mudanças de temperatura na estratosfera que, por sua vez, poderiam ter consequências imprevistas para o clima da Terra.

O problema é que as partículas dispersas em grandes altitudes provavelmente nunca cairão na Terra, o que significa que suas concentrações só aumentarão com o tempo.

A maioria dos satélites é projetada para cair de volta à Terra e queimar na atmosfera no final de suas missões. Dezenas ou mesmo centenas de equipamentos podem ser lançados na próxima década, e isso significa um aumento acentuado nas reentradas, e, portanto, nas concentrações de produtos químicos criados por sua queima nas camadas superiores da atmosfera.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.