Degradação da Amazônia pode originar novas pandemias

A destruição da Amazônia aumentaria a possibilidade de surgirem doenças novas e elevaria a incidência das já conhecidas
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 10/11/2023 01h20, atualizada em 01/12/2023 10h27
Imagem mostra uma região da floresta amazônica, iluminada pelo pôr do sol, com as árvores e neblina na parte de baixo
(Imagem: streetflash/Shutterstock)
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A Amazônia é considerada o lar da maior biodiversidade do planeta e os alertas sobre a necessidade da preservação da floresta não são novidade. Mas cada vez mais os cientistas descobrem sobre os impactos que a degradação desse ecossistema traria para a Terra. Um deles é a possibilidade do surgimento ou ressurgimento de doenças de potencial pandêmico.

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Riscos para a Amazônia

  • Na Amazônia, a pavimentação da BR-319, ligando Porto Velho a Manaus, é fonte de preocupação.
  • As estimativas mais conservadoras preveem que o desmatamento no entorno da estrada pode quadruplicar nos próximos 25 anos, atingindo uma área onde 90% é de floresta intocada.
  • O desmatamento ainda causa a fragmentação das florestas, aumentando o risco de incêndios e reduzindo a biodiversidade das áreas afetadas.
  • Além disso, a degradação ambiental e a alteração nas paisagens se agravam em períodos de seca extrema, como a que atinge a região amazônica neste momento.
  • A associação entre todos esses fatores cria um ambiente propício para o surgimento e ressurgimento de doenças.
  • As informações são da The Conversation.

Doenças causam preocupação

A degradação de áreas conservadas, o desvio de rios e a seca extrema, por exemplo, levam à escassez de água e alimentos. E isto representa uma ameaça direta de desnutrição, afetando a saúde das populações locais, deixando-as mais vulneráveis a doenças já conhecidas.

Além disso, a falta de água limpa e a má higiene em condições de estiagem também aumentam o risco de doenças transmitidas por água e alimentos contaminados, como cólera e hepatite, e viroses que causam diarreias graves, como as rotaviroses. Agravando o quadro, a incidência de doenças associadas à má preservação de peixes, como a rabdomiólise (doença da urina preta) – que não é infecciosa -, também aumenta durante secas extremas.

O aquecimento global é um fator crítico neste processo, permitindo a expansão da presença de mosquitos transmissores de doenças como malária e dengue. Um aumento de poucos graus na temperatura média do planeta pode possibilitar a colonização de áreas anteriormente inacessíveis a esses vetores, pois requerem de condições de temperatura e umidade relativamente altas. Já em regiões onde eles estão presentes, a degradação do ambiente pode aumentar ou diminuir os períodos de chuva, favorecendo alagamentos e manutenção de água empoçada, e facilitando sua proliferação.

Visão aérea do rio Amazonas
Amazônia (Imagem: Curioso.Photography/Shutterstock)

Zoonoses

As doenças infecciosas, especialmente as zoonóticas, aquelas transmitidas de animais para pessoas, são as mais preocupantes. Enquanto alguns patógenos são capazes de infectar uma ou poucas espécies de hospedeiros, outros são mais generalistas e podem, se houver contato e oportunidade, infectar uma grande diversidade de animais.

Esse tipo de “salto” de um hospedeiro a outro ocorre constantemente entre animais em seu habitat natural, por exemplo, de morcegos para primatas não humanos, pequenos roedores e outros mamíferos. Costuma haver, entretanto, um equilíbrio na circulação desses agentes.

Mas quando há a destruição de habitats, as espécies locais migram para áreas mais conservadas em busca de alimentos e abrigo. E isso pode ocorrer justamente em áreas próximas de assentamentos humanos, favorecendo o contato entre animais selvagens e pessoas.

Outra dificuldade é em relação a prevenção dessas doenças. Não é possível prever o surgimento, mas há possibilidade de vigiar esse processo. Isso acontece a partir do monitoramento da circulação de vírus e bactérias resistentes em amostras de água, de animais e vetores, e também humanas. Animais “sentinela” como morcegos, roedores e primatas são submetidos a tecnologias de sequenciamento de nova geração para detecção precoce dos agentes circulantes que possam representar uma ameaça à saúde humana.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.