MEC: combate à violência nas escolas passa por controle do ódio na internet

Segundo Daniel Cara, professor da USP, plataformas digitais não se esforçam para combater os discurso extremistas que geram violência escolar
Por Nayra Teles, editado por Bruno Capozzi 15/11/2023 01h00
Mesa com alunos do ensino médio, todos segurando vários dispositivos digitais, como telefones e tablets, durante uma aula.
Imagem: LBeddoe/Shutterstock
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O Ministério de Educação e Cultura (MEC) apresentou recentemente um relatório com sugestões de medidas contra a violência escolar. Uma delas propõe estabelecer um controle sobre o discurso e os conteúdos de ódio nas plataformas digitais.

Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP e membro do Grupo de Trabalho (GT) que elaborou as 13 propostas para o MEC, conversou com o jornal da universidade sobre as medidas sugeridas.

Medidas digitais contra ataques

  • Cara comenta que umas das soluções para diminuir a violência escolar é a implementação de medidas para estabelecer controle sobre o discurso e conteúdos de ódio nas plataformas digitais.
  • Segundo ele, as plataformas “têm a capacidade de analisar o desejo de consumo de todo mundo que utiliza uma rede social, mas se negam a fazer o controle efetivo do discurso de ódio”.
  • Depois da publicação do relatório do MEC, algumas plataformas começaram a buscar formas de conter esse tipo de conteúdo.
  • A atualização das leis sobre crimes de ódio, que não é revista desde 1989, também um dos pontos propostos.
  • Para além o âmbito jurídico, o professor indica que escolas devem estar preparadas para identificar riscos, comportamentos suspeitos e orientar os responsáveis para a realização de controle parental da internet.

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Histórico de ataques nas escolas

É no território digital que ataques a escolas são alimentados e planejados. O caso em que dois estudantes realizaram um massacre a tiros numa escola em Columbine, nos Estados Unidos, em 1999, abalou o mundo inteiro. Segundo o professor, as subcomunidades de ódio usam o bullying para atrair jovens e cometerem crimes semelhantes.

No Brasil, por exemplo, aconteceram ataques trágicos em Realengo (2011), Suzano (2019) e Aracruz (2022). O mais recente aconteceu em Blumenau (SC), que teve como alvo uma creche. As armas de fogo foram responsáveis por 38 das 49 mortes dos ataques no Brasil, conforme dados do MEC.

Cara explica que os eventos são ligados internacionalmente, mas que, aqui no país, as redes de ódio assumem caraterísticas neonazistas, misóginas e racistas. Diante disso, é preciso agir com urgência para evitar mais recorrências como essas.

A gente não pode deixar que isso ocorra na sociedade brasileira, então é importante ler, fazer uso e tentar avançar em relação ao que o relatório propõe, tentando estratégias e medidas. É um fenômeno muito novo e complexo, mas não dá para ficar parado diante desse problema.

Daniel Cara para o Jornal da USP
Nayra Teles
Redator(a)

Nayra Teles é estudante de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e redatora no Olhar Digital

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.