Quem construiu os primeiros assentamentos do mundo? Descoberta desafia teoria atual

Descoberta de pesquisadores desafia a noção de que a agricultura era um pré-requisito para as sociedades se "estabelecerem"
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Lucas Soares 18/12/2023 12h44, atualizada em 02/01/2024 15h28
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Imagem: E. Dubovtseva/Piezonka et al, Antiquity 2023 ( CC BY 4.0 ))
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Milhares de anos antes que os povos antigos da Eurásia Central começassem a cultivar alimentos, grupos de caçadores-coletores no subártico construíram os primeiros assentamentos fortificados permanentes do mundo. A conclusão faz parte de um estudo foi publicado na revista Antiquity e desafia a noção de que a agricultura era um pré-requisito para as sociedades se “estabelecerem”.

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Os primeiros assentamentos do mundo

  • Segundo os pesquisadores responsáveis pelo trabalho, as primeiras fortificações conhecidas ficam perto de uma curva do rio Amnya, na Sibéria Ocidental.
  • As construções só foram descobertas pelos arqueólogos em 1987, mas a datação por radiocarbono revelou que essas estruturas datam de 8 mil anos ou mais.
  • O edifício principal da antiga fortificação hoje é apenas uma grande depressão no chão, mas já foi protegido por uma vala e possivelmente também outra casa de poço.
  • Escavações também revelaram que uma segundo fortificação foi levantada a 50 metros a leste da original.
  • As informações são da ScienceAlert.
Mapa mostra onde ficavam os assentamentos antigos (Imagem: E. Dubovtseva/Piezonka et al, Antiquity 2023 ( CC BY 4.0 ))

Teoria desafia entendimento atual

De acordo com uma equipe internacional de arqueólogos, liderada por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, ambos os locais desafiam a noção tradicional do que os grupos de caçadores-coletores eram capazes. Segundo eles, não foram as comunidades agrícolas na Idade da Pedra que construíram esses assentamentos fortificados permanentes.

Nossos novos exames paleobotânicos e estratigráficos revelam que os habitantes da Sibéria Ocidental levavam um estilo de vida sofisticado baseado nos abundantes recursos do ambiente taiga.

Tanja Schreiber, arqueóloga do Instituto de Arqueologia Pré-histórica de Berlim

A taiga da Sibéria Ocidental é um habitat florestal de coníferas às vezes pantanoso presente no subártico. Por volta de 6.000 a.C., a taiga perto de Amnya teria abrigado rebanhos de alces e renas, enquanto o rio possibilitaria a pesca de peixes.

Embora não esteja totalmente claro o que as fortificações de Amnya estavam protegendo e de quem, os pesquisadores suspeitam que o local continha comida excedente. Restos de cerâmica intrincadamente decorada encontrados no local provavelmente eram usados para manter os alimentos.

Os pesquisadores também não sabem ao certo se as construções foram habitadas ou defendidas durante todo o ano. Mas, pelo menos durante alguns meses, elas parecem ter sido o local de fixação de um grupo de caçadores-coletores no oeste da Sibéria.

Vários outros fortes da Idade da Pedra foram encontrados nesta região, mas nenhum é tão antigo quanto o sítio Amnya I. Na Europa, locais comparáveis só aparecem séculos depois e somente após o início da agricultura.

A descoberta desafia a teoria tradicionalmente aceita de que as comunidades forrageiras ainda não eram social ou politicamente “complexas” o suficiente para construir estruturas monumentais e permanentes que precisavam ser mantidas ou defendidas.

Os pesquisadores suspeitam que uma mudança no clima há cerca de 8 mil anos criou as condições para uma abundância de recursos sazonais no oeste da Sibéria, provocando um influxo de migrantes humanos. O desenvolvimento de estratégias de pesca e caça, ou o avanço do armazenamento de alimentos, pode ter levado a um excedente de alimentos, que precisava ser defendido.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.