Há 96 anos, o Oscar passa por mudanças para melhorar a maneira como filmes e suas respectivas áreas de produção são premiadas anualmente. Algumas categorias surgem, outras somem, mas o que não falta são indicados (e até esnobados, que não entram na lista final).

Esse não é o caso para uma das modalidades do evento criada em 2000: “Melhor Musical Original” existe há 24 anos, mas nunca teve um grupo de indicados – e muito menos um vencedor.

publicidade

Leia mais:

“Melhor Musical Original”

Não é raro que as categorias do Oscar mudem para se ajustar ao processo de produção dos filmes – ou até para condensar as modalidades de se fazer cinema. Por exemplo, em 2021, “Melhor Mixagem de Som” e “Melhor Edição de Som” viraram simplesmente “Melhor Som”.

publicidade

Categorias também surgem e desaparecem. Em 2000, a premiação introduziu “Melhor Animação” como forma de dar destaque a filmes que tradicionalmente não tinham tanto espaço em modalidades, como “Melhor Filme”. Desde então, “Shrek”, “A Viagem de Chihiro” e “Toy Story 3” já venceram o troféu. O vencedor mais recente, de 2023, é “Pinóquio de Guillermo del Toro”.

A mesma coisa aconteceu com “Melhor Musical Original”: uma modalidade própria para os musicais, para dar visibilidade a essas produções frente a outros nomes mais tradicionais da indústria. No entanto, ao contrário de animação, a categoria não deslanchou como esperado.

publicidade

“La La Land” é um dos musicais notáveis que concorreu ao Oscar nos últimos anos (Imagem: Reprodução/Lionsgate)

Categorias musicais do Oscar

O surgimento de “Melhor Musical Original” veio depois de outras mudanças nas categorias musicais do Oscar:

publicidade
  • Na sétima edição da premiação, em 1935, havia uma modalidade de “Melhor Trilha Sonora” unificada. Na ocasião, “One Night of Love” foi o vencedor. O problema é que a produção tinha apenas uma música original (ou seja, composta especialmente para o filme) e as outras eram rearranjos de músicas clássicas já existentes;
  • O problema aumentou em 1938, quando “Cem Homens e uma Menina” venceu – dessa vez, não havia nenhuma música original, apenas rearranjos de composições antigas;
  • No ano seguinte, a categoria foi divida em duas: “Melhor Trilha Sonora” e “Melhor Trilha Sonora Original”. Essa segunda contaria apenas com produções com composições inéditas;
  • Posteriormente, a categoria foi destrinchada em outras, como “Melhor Trilha Sonora de um Filme Musical” e “Melhor Trilha Sonora de Filme Dramático”, o que só ajudou a fragmentar os indicados;
  • Nas décadas seguintes, as divisões mudaram de nomes algumas vezes (como “Melhor Trilha Sonora Adaptada”, ou “Melhor Trilha Sonora Substancialmente Original”), mas o propósito continuou: dividir composições inéditas de outras previamente compostas.

A Disney é uma velha conhecida das categorias musicias do Oscar, tendo nomes, como “A Pequena Sereia” (imagem) e “Aladdin” como vencedores (Imagem: Reprodução/Disney)

Mais divisões…

Em 1980, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas parece ter se cansado de tantas divisões e estabeleceu apenas uma modalidade musical: “Melhor Trilha Sonora Original”, excluindo de vez as adaptações. Alguns dos vencedores foram “A Pequena Sereia”, “Aladdin”, “A Bela e a Fera”, “A Lista de Schindler” e “Danças com Lobos”.

Se você está se perguntando como filmes tão diferentes foram indicados na mesma categoria, Alan Bergman, então presidente do ramo musical da academia, ao The New York Times, explicou que a intenção não era premiar a qualidade da trilha sonora, mas como ela se encaixa e corrobora com o restante do filme.

Posteriormente, a Academia voltou atrás e as dividiu entre “Melhor Trilha Sonora Dramática Original” e “Melhor Trilha Sonora Original Musical ou Comédia”. Segundo o Collider, isso não agradou os compositores, já que a organização parecia não entender como funcionava o departamento musical dos filmes.

“Moulin Rouge” é outro nome famoso entre as categorias principais do Oscar (Imagem: Reprodução/20th Century Studios)

Como o Oscar está agora?

Foi só nos anos 2000 que a categoria extinguiu novamente as distinções entre comédia e drama e as colocou de volta em “Melhor Trilha Sonora Original” (que existe até hoje). Ainda, atualmente, há uma modalidade de “Melhor Canção Original”, exclusiva para uma gravação que se destaca entre o conjunto da obra.

No mesmo ano, também foi inaugurada a modalidade de “Melhor Musical Original”. De acordo com o regulamento do Oscar, as regras são simples:

  • O filme deve ter, no mínimo, cinco músicas originais;
  • Dessas, todas “devem ser substancialmente reproduzidas, claramente audíveis e inteligíveis, e devem aprofundar o enredo do filme”;
  • Um grupo de músicas que não é considerado essencial para o enredo não é elegível na categoria.

Logo de cara, houve polêmicas: alguns filmes, como aconteceu com “Tarzan”, foram deixados de fora porque seus 45 minutos não eram suficientes para serem considerados uma partitura original. Além disso, a única outra opção naquele ano era “South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes”, que passou pelo mesmo problema.

Outra regra do Oscar é que cada categoria deve ter pelo menos dez filmes qualificados para ser apresentada. Logo, a modalidade não foi apresentada e nem teve vencedores naquele ano – e nem nos próximos.

Contradições continuam

Se a ideia inicial era valorizar os musicais, não aconteceu até hoje. Mark Mancina, o compositor de “Tarzan”, disse ao The New York Times na época que a nova categoria desencorajaria novos musicais, já que eles não poderiam ser indicados ao Oscar por falta de concorrência.

Isso aconteceu apenas em parte: apesar de “Melhor Musical Original” não ter sido anunciada até hoje por falta de dez filmes elegíveis, nomes, como “Moulin Rouge” e “La La Land” – musicais notórios – conseguiram seu lugar na indicação como “Melhor Filme”.