*Por Valter Pieracciani, fundador da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, consultoria de inovação

Estou assustadíssimo. Ando estudando o que os especialistas dizem sobre o que pode ocorrer no mercado editorial e no campo da propriedade intelectual. De maneira muito resumida, a inteligência artificial possibilitará que livros inteiros sejam escritos pelos computadores bastando para isso que o “autor” faça a escolha do tema, número de laudas e de mais alguns parâmetros. Chocante, não acha? 

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Os computadores pesquisarão sobre o assunto em milhares de textos armazenados na rede, selecionarão parágrafos e frases, e montarão algo “novo” a partir da composição dos pequenos trechos selecionados. Claro, serão necessários ajustes, uma revisão final, mas…  

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Situação parecida já ocorre na estruturação de petições e pareceres elaborados por escritórios de advocacia. Curioso é que passaria a ser correto dizer que quem produziu o material foi o escritório, e não seus advogados. Com a ajuda de softwares de reconhecimento de similaridades, sabe-se hoje que trabalhos escolares, dissertações e até teses acadêmicas estão sendo escritos com essa ajudinha.  

Não sou advogado, nem mesmo me considero um grande escritor, mas estou trabalhando para publicar meu quinto livro e sei bem o trabalho que isso dá, ou dava… Sempre busquei nos meus trabalhos diferenciação e originalidade. Talvez por isso me sinta tão intrigado com as notícias do mundo da propriedade intelectual na era “pós-inteligência artificial”. 

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Imagem: Thapana_Studio/Shutterstock

Para mim começa aí o grande imbróglio. Quem seria o autor? O revisor? O dono da máquina onde o texto foi “escrito”, identificado por seu IP? Os muitos autores dos textos originais utilizados? Quem fez a encomenda? Segundo ponto: qual será o interesse dos leitores em algo que, bem ou mal, foi requentado? Onde vai parar o fascínio da descoberta na leitura? O glamour e o carisma expressos em um texto? Como poderemos definir o que é um texto ou livro original?  

Bem, tenho meus pressentimentos sobre como essa estranha realidade se desdobrará. Textos, para serem considerados originais, estarão restritos a duas categorias. A primeira é dos que contam histórias inéditas e falam de nossas vidas e do mundo; estes seguirão efervescentes, pois sempre haverá uma história nova para contar. 

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O outro tipo de escrita que seguirá original será aquele no qual o autor (verdadeiro) conseguir imprimir suas emoções. Uma espécie de escrita da alma, como costuma citar a psicóloga e escritora Monica Guttmann.  

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Imagem: Thongden Studio/Shutterstock

Os computadores não têm alma, ao menos até agora, e é aí que poderá estar a grande diferença. Autores capazes de transmitir em textos o que vem do fundo de seus corações dariam ao leitor a possibilidade de reconhecê-los como originais. Na poesia, por exemplo, se dá a expressão máxima dessa categoria. Quero crer que computadores não consigam escrever poesias geniais ou textos que tragam emoções do autor. 

Resumindo: se você, como eu, alimenta o sonho da escrita, se acredita que uma pessoa só se sinta plenamente realizada após ter escrito um livro, como se diz no popular, trate de registrar suas emoções mais profundas. E tome nota de histórias marcantes que aconteceram com você. 

A outra possibilidade, que configura um verdadeiro atestado de mediocridade, é apertar um botão e pedir ao seu computador para lhe ajudar.