Enquanto o Rio de Janeiro enfrenta uma epidemia de dengue, com mais de 42.000 casos confirmados e uma taxa de incidência de 700 por 100.000 habitantes, sua cidade irmã, Niterói, está obtendo sucesso no combate à doença. Com apenas 403 casos suspeitos este ano e uma taxa de incidência de 69 por 100.000 pessoas, Niterói adotou uma estratégia inovadora que parece estar funcionando.

Em 2015, a cidade implementou um programa piloto em parceria com Instituto Fiocruz, World Mosquito Program (WMP) e Ministério da Saúde, que consistia em criar mosquitos infectados com uma bactéria do gênero Wolbachia. Esta bactéria interfere na transmissão do vírus da dengue entre os mosquitos, ajudando a reduzir a incidência da doença.

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O prefeito Axel Grael relembra que a iniciativa foi adotada após uma epidemia de dengue em 2012, que resultou em milhares de notificações e uma morte na cidade. Desde então, os casos têm diminuído progressivamente, mostrando os benefícios da técnica.

Dengue
(Imagem: Niny2405 / Shutterstock.com)

A dengue é uma infecção viral transmitida por mosquitos infectados, causando febre alta, dores de cabeça, dores no corpo, náuseas e erupções cutâneas. Embora a maioria das pessoas se recupere em cerca de uma semana, alguns casos podem ser graves e até fatais.

O método Wolbachia contra a dengue

O método Wolbachia não é um método de ação imediata, como é um inseticida, por exemplo, que você aplica e mata o mosquito. A Wolbachia é preventiva. A gente precisa cobrir um território, aguardar esse estabelecimento dos mosquitos. Acaba sendo algo preventivo, de médio prazo, porque a gente precisa estabelecer, fazer todo o processo e aguardar um tempo para que os resultados sejam vistos.

Gabriel Sylvestre, líder de operações do WMP Brasil, à Agência Brasil
  • Essa técnica consiste em introduzir a bactéria Wolbachia em ovos de mosquitos Aedes aegypti, o vetor da dengue, tornando-os inofensivos para transmitir doenças.
  • A bactéria Wolbachia, presente naturalmente em cerca de 60% dos insetos na natureza, foi notavelmente ausente nos mosquitos Aedes aegypti.
  • Ao introduzir a Wolbachia nesses mosquitos em laboratório, eles se tornam incapazes de transmitir os vírus que causam dengue, zika, chikungunya ou febre amarela.
  • Esses mosquitos, conhecidos como “Wolbitos”, passam a bactéria para suas proles, criando uma população de mosquitos que gradualmente reduz a transmissão dessas doenças.
  • A estratégia não é uma solução imediata, como o uso de inseticidas, mas sim uma abordagem preventiva de médio prazo.
  • É necessário tempo para que a população de mosquitos com Wolbachia se estabeleça e reduza efetivamente a transmissão das doenças.

Teve muita desconfiança da população quando fomos fazer a soltura dos mosquitos na cidade. Poxa, todo mundo matando mosquito e Niterói vai soltar mosquito? Como assim? Nós fizemos um trabalho intenso com as lideranças comunitárias, com as associações de moradores, com a Federação das Associações de Moradores de Niterói, e elas nos apoiaram nesse convencimento junto à população para que os mosquitos pudessem ser soltos. Hoje, a gente tem uma situação menos dramática do que em grande parte do Brasil.

Anamaria Schneider, secretária de Saúde de Niterói, à Agência Brasil

Cidades onde o método é aplicado

O método Wolbachia, originado na Austrália, está sendo aplicado no Brasil como parte do Programa Mundial de Mosquitos, que inclui atualmente 11 países. No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lidera o programa, financiado pelo Ministério da Saúde em parceria com governos locais.

Além de Niterói, outras cidades brasileiras estão adotando o método Wolbachia. Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ) estão entre as cidades que já iniciaram o projeto. Em breve, outras seis cidades se juntarão a essa lista: Natal (RN), Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).

No entanto, a implementação do Wolbito enfrenta desafios, especialmente em cidades complexas como o Rio de Janeiro. Enquanto Niterói conseguiu cobrir todo o seu território com mosquitos portadores de Wolbachia, o Rio enfrenta obstáculos devido à extensão da cidade e à complexidade de sua geografia.

Por isso, a eficácia do método pode variar de uma região para outra, dependendo da abrangência do projeto. Ainda assim, o Wolbito é considerado uma importante ferramenta no combate à dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos.