A ovelha Dolly foi um marco na pesquisa sobre genética e clonagem de animais. Nascida em 1996, na Escócia, o animal foi o primeiro a ser clonado e revolucionou o que se entendia sobre o funcionamento das células até então. A imaginação foi longe: se um mamífero como a ovelha pôde ser clonado, quanto tempo levaria para que o mesmo acontecesse com humanos?
A verdade é que a prática da clonagem e manipulação genética tem seus desafios e ainda não foi tão longe assim, mas teve avanços importantes. A Universidade de São Paulo (USP) é parte importante disso no âmbito brasileiro e, inclusive, tem sua própria ovelha Dolly.
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Ovelha Dolly da USP
Em 7 de abril, na Fazenda Panorama, em Campinas, nascia o bezerro Marcolino, o primeiro animal clonado do Brasil. Ele foi fruto de dois anos de pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Na clonagem, os pesquisadores retiram o núcleo da célula de um animal, que contém seu material genético. Então, eles esvaziam o óvulo de outro exemplar da mesma espécie e colocam o núcleo removido nele. O resultado é um animal idêntico ao doador da célula.
Segundo a professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP, Lygia da Veiga Pereira, ao Estadão, até o nascimento da ovelha Dolly não se sabia que uma célula adulta com função já definida poderia formar outros tipos de célula. O experimento na Escócia mostrou que sim: uma célula já desenvolvida voltou atrás e foi reprogramada para gerar um animal inteiro.
Possibilidades da pesquisa genética e clonagem vs. desafios
Com isso, a USP teve algumas ideias:
- Inicialmente, o objetivo final da clonagem de animais era melhorá-los;
- José Antônio Visintin, responsável pelo Marcolino, contou ao jornal que eles pretendiam clonar as vacas que produziam mais leite para melhorar a qualidade do rebanho;
- Isso acabou não sendo muito eficiente, porque eram necessários milhões de embriões e, consequentemente, o mesmo número de “barrigas de aluguel” para gerar um clone.
Clonagem em humanos
A ideia de clonagem também se estendeu aos humanos. O objetivo era uma “clonagem terapêutica”, em que um embrião clonado de células humanas seria usado para produzir tecidos para transplantes sem o risco de rejeição (como acontece nos procedimentos tradicionais).
Apesar dos debates éticos, a proposta ficou de lado, mas outros avanços se seguiram. Por exemplo, em 2007, pesquisadores japoneses liderados por Shinya Yamanaka reprogramaram uma célula para que ela desse origem a qualquer outra célula almejada, sem a necessidade de transferência. Assim, surgiram as células-tronco pluripotentes induzidas (IPS).
Já na USP, um projeto de clonagem de miniporcos transgênicos está produzindo órgãos para transplantes em humanos. De acordo com a geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP e líder do estudo, até o mês que vem a instituição deve ter um centro para a criação desses mamíferos.
O uso de órgãos de suínos tem vantagens, como as semelhanças com as estruturas humanas. Inicialmente, a rejeição era grande, mas pesquisas em genética permitiram modificar os genes que causavam isso e diminuir os riscos, abrindo novas possibilidades para os tratamentos.