Uma condição que afeta as tartarugas é mais um dos indicativos de que os mares estão excessivamente poluídos. A nova pesquisa do Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestres (Lapcom) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, que mapeou a ocorrência de tumores nesses animais, relacionou a evolução da doença com diferentes fatores, entre eles a poluição.

O que é a fibropapilomatose?

A fibropapilomatose é uma condição que afeta as tartarugas-marinhas, causada pelo vírus Chelonid alphaherpesvirus 5 (ChHV-5). Ela se manifesta através de tumores benignos na pele, semelhantes a verrugas. Embora não seja um tipo de câncer, os tumores podem ser tão grandes a ponto de impedir atividades básicas, levando à morte por incapacidade de alimentação ou movimento.

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Os tumores podem crescer na cabeça, pescoço e nadadeiras da frente. A hipótese é de que a infecção seja transmitida pela saliva, quando os animais se bicam.

Cenário de tartarugas com fibropapilomatose

  • O estudo investigou a presença de tumores em tartarugas-verdes ao longo da costa do Espírito Santo entre 2018 e 2021.
  • Descobriu-se que 40,9% das tartarugas analisadas apresentavam tumores causados pelo vírus Chelonid alphaherpesvirus 5 (ChHV-5).
  • Dentre todas as espécies, as tartarugas-verdes são as mais afetadas. Cerca de 15% delas podem desenvolver a doença.
  • Esses tumores podem surgir devido a uma combinação de fatores genéticos e de contágio. No entanto, a evolução da doença é maior em ambientes poluídos.
  • Inclusive, tem maior prevalência em áreas costeiras altamente poluídas, especialmente entre tartarugas jovens.
Imagem: Eliana R. Matushima/Cedida ao Jornal da USP

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A poluição das praias

A poluição ambiental, proveniente de esgoto, substâncias químicas derivadas de petróleo e inseticidas, está associada ao aumento da incidência de tumores em tartarugas-marinhas. Praias contaminadas, as mesmas que a população frequenta, onde esses animais se alimentam e habitam, contribuem para o desenvolvimento da fibropapilomatose.

A temperatura elevada da água também favorece o crescimento dos tumores e a transmissão do vírus entre as tartarugas, já que a água quente atrai muitos animais para um mesmo espaço.

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No Espírito Santo, a área que a pesquisa investigou o vazamento de resíduos da barragem da Samarco em 2015 e o refluxo de água das usinas de siderurgia aumentam a poluição na região, um fator que potencializa a recorrência cada vez maior dos casos.

Hoje não temos dados para ligar o aumento da doença ao desastre de Mariana em si. No entanto, certamente, quanto mais poluição no ambiente, maior a chance de desenvolver uma fibropapilomatose, que é uma doença multifatorial. A qualidade do ambiente está na raiz da manifestação dela.

Robson Guimarães Santos, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)

O estudo foi publicado na revista Plos One.